Ferguson tem noite de confrontos após decisão que livrou policial
Júri decidiu que policial branco que matou jovem negro não será indiciado
O chefe da polícia local, Jon Belmar, considerou os episódios “provavelmente muito piores do que a pior noite que tivemos em agosto”, quando o jovem Michael Brown, de 18 anos, foi morto. Garrafas e pedras foram atiradas contra os policiais, que utilizaram fumaça e gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes.
Também houve protestos, em sua maioria organizados e pacíficos, em Nova York, Chicago, Filadélfia, Seattle, Los Angeles, Oakland e na capital Washington, ressaltando as tensões raciais no país. Em Chicago, cerca de 200 manifestantes, principalmente jovens brancos, reuniram-se na sede da polícia, apesar do frio e da neve, informou o jornal The New York Times.
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Antes mesmo do anúncio da decisão, o governador Jay Nixon havia decretado estado de emergência em Ferguson e convocou a Guarda Nacional. Lideranças políticas locais, incluindo o governador, realizaram reuniões com membros da comunidade nos últimos dias. Escolas foram fechadas. Muitos questionaram o motivo de o anúncio ser feito durante a noite, quando é maior a possibilidade de ocorrerem manifestações mais tensas.
Familiares – A família do jovem expressou sua frustração por meio de um comunicado. “Estamos profundamente decepcionados porque o assassino do nosso filho não vai enfrentar as consequências de seus atos”, afirmou o texto, fazendo também um apelo. “Embora entendamos que muitos outros compartilham da nossa dor, pedimos que canalizem sua frustração de uma forma que traga uma mudança positiva”.
O presidente Barack Obama também pediu calma. "Nós somos uma nação construída sobre o Estado de direito, por isso temos de aceitar a decisão", disse, em pronunciamento na Casa Branca. Obama afirmou ainda que os EUA já avançaram bastante nas questões raciais, mas ainda há problemas a serem superados. “Fizemos grandes progressos nas relações raciais, fui testemunha disso em minha própria vida, mas ainda há problemas. A situação em Ferguson evidência os desafios que ainda temos como nação”.
O advogado Benjamin Crump afirmou que a família do jovem vai analisar quais as opções legais ainda disponíveis depois que o júri não indiciou o policial. “Eles não confiam neste promotor, nunca confiaram”, disse Benjamin Crump. “E vão tentar verificar se podem fazer algo para conseguir uma mudança positiva a partir disso, porque entendem que o sistema precisa mudar”.
Um inquérito federal sobre direitos civis, ainda está em andamento, embora autoridades federais tenham dito que os indícios reunidos até agora não sustentam a abertura de um processo contra o policial Wilson. Uma segunda investigação federal analisa se a polícia de Ferguson assumiu um comportamento padrão de violação de direitos civis.
Decisão – O policial Darren Wilson não responderá a nenhuma acusação porque o júri formado por sete homens e cinco mulheres, nove brancos e três negros, considerou que não há provas suficientes para imputá-lo. Após ouvir a versão de dezenas de testemunhas, o júri decidiu que não existe “causa provável” para acusar o agente. No dia 9 de agosto, Wilson disparou várias vezes contra o jovem, em circunstâncias que ainda não foram totalmente esclarecidas.
A decisão foi anunciada na noite de ontem pelo promotor do condado de St Louis, Robert P. McCulloch, que teve sua atuação questionada. Críticos defenderam que ele se afastasse do caso por ter uma posição tendenciosa, uma vez que seu pai, um policial, foi morto em serviço por um negro.
Em uma longa entrevista coletiva, ele descreveu a série de eventos do dia 9 de agosto, e detalhou o enorme conjunto de provas e testemunhas apresentado ao grande júri, e apontou inconsistências e mudanças de declarações, inclusive sobre a posição das mãos de Brown. “Algumas testemunhas mantiveram a declaração original de que Brown estava com as mãos para cima e não se movia na direção do policial quando foi baleado. Várias outras disseram que Brown não levantou as mãos ou que levantou rapidamente e em seguida virou-se para o policial, que então fez vários disparos”.
Ao longo de mais de três meses, o júri teve acesso às provas e aos testemunhos de sessenta pessoas, e considerou acusações desde assassinato em primeiro grau até homicídio involuntário. Em um julgamento criminal, os jurados devem decidir se um crime foi cometido sem margem para dúvidas. Mas, no caso em questão, precisavam apenas avaliar que havia uma causa provável para que Wilson tivesse cometido um crime, explicou o jornal The Washington Post.
A família de Michael Brown passou os últimos meses viajando e discutindo o caso em eventos, em reuniões com representantes das Nações Unidas e encontro com manifestantes. O policial permaneceu em St Louis, sem fazer declarações públicas. Em outubro, casou-se com sua noiva, Barbara Spradling, também policial em Ferguson. Ele foi questionado pelo júri durante mais de quatro horas, e afirmou estar convencido de que sua vida está em perigo. Wilson está em licença remunerada. Há uma expectativa de que ele renuncie ao posto, segundo o NYT.
(Com Estadão Conteúdo e agências EFE e Reuters)
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