Polícia turca faz operação contra imprensa opositora
Redações de jornais e emissoras de TV ligadas a adversário político do presidente Erdogan foram alvo de operação que teve mais de vinte detidos
Editor-chefe do diário turco 'Zaman' é preso neste domingo (14) em Istambul (Ozan Kose/AFP)
Em comunicado, a União Europeia condenou a ação policial, ressaltando que ela vai “contra os valores europeus”. “As batidas policiais e prisões de vários jornalistas e representantes da imprensa na Turquia são incompatíveis com a liberdade dos meios de comunicação, que é um princípio essencial da democracia", afirmou o texto assinado pelo chefe de política externa da UE, Federica Mogherini, e pelo comissário responsável pela ampliação do bloco, Johannes Hahn. A declaração lembra ainda que qualquer movimento para se tornar membro da UE depende do “respeito total pelos direitos fundamentais”.
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As prisões ocorrem dias depois de Erdogan reforçar a campanha contra os apoiadores de Gülen no país. Na sexta-feira, o presidente afirmou que buscaria os apoiadores de seu adversário “em seus covis”. A ação também é realizada um ano depois de um escândalo de corrupção atingir Erdogan e resultar na renúncia de quatro ministros. Então primeiro-ministro, Erdogan afirmou que as denúncias eram um plano orquestrado por seguidores do clérigo para tirá-lo do poder – argumento que volta à tona com a perseguição à imprensa.
A polícia fez uma primeira tentativa de entrar no prédio do jornal Zaman, um dos maiores do país, mas uma multidão de manifestantes obrigou os policiais a recuarem antes que qualquer pessoa fosse detida, informou a rede britânica BBC. O editor-chefe da publicação, Ekrem Dumanli, publicou em sua página no Twitter uma foto em que aparece em sua mesa de trabalho, junto com a frase: “Os policiais recuaram devido à reação democrática dos meus amigos. Estou em meu lugar e esperando”.
Mais tarde, os policiais voltaram ao local e conseguiram levar o editor, que deixou a redação sob gritos de funcionários e apoiadores lembrando que “a imprensa livre não pode ser silenciada”.
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Em cenas divulgadas ao vivo por canais de TV do país, o editor apareceu sorrindo ao verificar a documentação apresentada, que se referia a uma acusação de "formação de quadrilha para tomar a soberania do Estado". "Deixem aqueles que cometeram crimes ficarem com medo", disse Dumanli conforme a polícia o levava com dificuldade pela multidão até um carro. "Não estamos com medo", acrescentou.
Em Istambul, o presidente da emissora Samanyolu TV, Hidayet Karaca, também foi preso, mas antes de ser levado disse a jornalistas que a operação policial é “um espetáculo vergonhoso para a Turquia". "Infelizmente, na Turquia do século 21, este é o tratamento dado a um grupo de imprensa com dezenas de estações de rádio e televisão, mídia de internet e revistas."
A perseguição a opositores faz parte do plano de Erdogan para se eternizar no poder. Ele assumiu o comando do país em 2002 e, desde então, passou a dar força cada vez maior aos religiosos islâmicos, ferindo a característica mais admirada da Turquia, que foi a separação entre a Igreja e o Estado.
(Com agências Reuters e France-Presse)
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