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Dólar fecha a R$ 2,73 — maior cotação em nove anos

Incertezas com a economia russa estimularam uma fuga de ativos de mercados emergentes, impactando sobretudo o rublo e o real

Luís Lima e Marília Carrera
O recorde na entrada de dólares tem relação direta com a capitalização da Petrobras
Dólar: moeda avança em dezembro; alta de 16% no ano (/VEJA)
O dólar disparou nesta terça-feira, influenciado pela súbita alta dos juros na Rússia, e fechou em seu maior patamar desde 24 de março de 2005. A moeda americana encerrou o dia em 2,73 reais, com alta de 2%, mas chegou a ultrapassar a barreira de 2,75 na máxima do dia. No ano, a moeda americana se valorizou em 16%.
A disparada do dólar na Rússia vem ocorrendo desde julho, mas se intensificou em outubro. De lá pra cá, a moeda americana subiu quase 70% na comparação com o rublo. No ano, a valorização é de 106%. Nesta terça-feira, a situação se complicou após o BC do país elevar os juros em 6,5 pontos porcentuais, para 17%, numa tentativa emergencial justamente de conter a queda livre da divisa. O rublo vem se depreciando impactado não só pela desaceleração da economia russa, como também pela queda do preço do barril do petróleo.
O problema é que a elevação dos juros teve efeito contrário: aumentou os temores de que outros mercados emergentes possam forçar seus bancos centrais a apertar as políticas monetárias para frear a queda de suas moedas. "A incerteza torna o cenário volátil. O rublo enfraquecido significa o início de uma crise na Rússia, mas com reflexos em outros países. Pode afetar também a Europa, mudando o ânimo dos mercados, pois aumenta a aversão ao risco. Quando cresce a expectativa de crise, os investidores recorrem a ativos mais seguros, como o dólar e os títulos do governo dos EUA", afirma o economista Bruno Lavieri, da Tendências Consultoria.
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O preço do barril caindo sistematicamente nos últimos meses e já está abaixo de 60 dólares, o que prejudica a principal fonte de receita do governo russo: as estatais ligadas ao setor de energia. Contudo, numa tentativa de conter a especulação, a Rússia informou que vai manter o atual nível de produção de petróleo em 2015. O problema é que, segundo o próprio BC russo, com o petróleo a 60 dólares, a economia do país pode ter uma contração superior a 4% no ano que vem. Essa afirmação acendeu um alerta para todos os países cujas economias são altamente dependentes do petróleo, inclusive o Brasil.
Segundo a agência de classificação de risco Fitch, países em situação de instabilidade política, como a Venezuela, o Bahrein e a Nigéria, tendem a sofrer mais. No caso da Rússia, não se trata apenas de uma crise econômica: há ainda um componente político importante. O presidente Vladimir Putin se mantém no poder graças a um rosário de programas assistencialistas financiados, sobretudo, com o dinheiro do gás e do petróleo. Sem receita, tende a enfrentar tempo ruim em Moscou — sobretudo com o agravamento das sanções comerciais que o país vem recebendo da União Europeia e dos Estados Unidos, desde que passou a liderar o conflito contra a Ucrânia.
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Nesta terça-feira, o preço do petróleo WTI para janeiro operava em queda de mais de 2%, a 54,44 dólares por barril, na Bolsa de Nova York, menor nível em mais de cinco anos.
Outro fator importante para explicar o caos cambial desta terça é a previsão de subida dos juros dos Estados Unidos. Há expectativa de que o relatório de política monetária do Federal Reserve, que será divulgado na quarta, aponte com mais precisão quando ocorrerá o aumento dos juros. Com a persistente recuperação da economia americana, investidores já se antecipam e migram para títulos do Tesouro, que são considerados os investimentos mais seguros do mundo e passarão a render mais assim que os juros subirem. Esse movimento tem pautado uma elevação relativa da cotação do dólar em relação a praticamente todas as moedas do mundo.
No caso do Brasil, há fatores domésticos que, assim como na Rússia, motivam uma debandada mais expressiva dos investidores — e também uma depreciação maior do real. Os fatores conjunturais negativos, como o baixo crescimento econômico, a alta da inflação e a delicada situação fiscal, se somam ao crescente escândalo de corrupção na Petrobras, desvendado na Operação Lava Jato. De nada ajuda que, num cenário em que o petróleo pauta o comportamento do capital no mundo, saber que a principal empresa brasileira, que vem a ser uma petrolífera, foi defenestrada por um complexo esquema de desvio de dinheiro.
O presidente do BC, Alexandre Tombini, sinalizou nesta terça-feira a manutenção da política monetária. Mas sua fala não foi suficiente para conter a venda de dólares. "O mercado começou a testar o Banco Central para ver até que nível o banco aguentará até fazer uma atuação diferente do que ele tem feito nos últimos tempos. No fim, investidores acabam procurando mais proteção, montando operações e fazendo hedge", afirma Reginaldo Galhardo, da Treviso Corretora.
Segundo o analista Cléber Alessie, da H.Comcorr, há ainda um movimento de proteção dos investidores à perda do grau de investimento. "Começa um período de proteção a um possível downgrade. Sou otimista, mas o país tem pedido para ser rebaixado e estamos a um grau de perder a nota. E isso pesa muito, além da situação da Petrobras, da alta dos juros e todo o resto".

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