O que querem os terroristas talibãs paquistaneses?
Para especialistas, terroristas lutam por uma nação islâmica radical e não aceitam o fato de o Paquistão ter uma aliança com o Ocidente
Militantes talibãs são treinados em Ladda, localizada em uma região tribal (Reuters/)
Para Sajjan Gohel, diretor de segurança internacional da Fundação Ásia-Pacífico, o TTP quer que as autoridades paquistanesas parem de interferir nas áreas tribais. Além disso, afirmou, em entrevista à rede americana CNN, os terroristas também têm uma agenda ideológica extremista, com o objetivo maior de criar uma nação islâmica radical. “O principal alvo do TPP é o Estado paquistanês e suas forças armadas", acrescentou Raza Rumi, do Instituto Jinnah, um think tank do Paquistão. "O movimento talibã quer impor a lei islâmica e se ressente do fato de que o Paquistão tem uma aliança com o Ocidente, que não aceita a sharia".
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Gohel afirmou que o TTP está intimamente associado com os talibãs do Afeganistão e com a Al Qaeda – basta lembrar que o terrorista Osama bin Laden, líder da Al Qaeda, vivia no Paquistão, protegido por talibãs, quando foi morto em 2011. Outro ponto em comum entre os talibãs e a Al Qaeda é que ambos são veementemente contra a presença militar dos Estados Unidos na região e lutam para expulsar os soldados. Em 2012, um líder do TTP autorizou “ações externas" – ou seja, atentados no exterior – contra alvos americanos e britânicos. O mesmo terrorista, Hakimullah Mehsud, morto no ano passado em um ataque de drones, também já havia prometido enviar homens-bomba para os Estados Unidos.
O analista de segurança da CNN Peter Bergen acredita, porém, que o massacre desta terça-feira pode ser um “espetacular tiro pela culatra”. Para Bergen, “o grupo pode ter ganhado publicidade, mas o ataque a crianças está além dos limites, e haverá uma resposta da política paquistanesa. Se a intenção era fazer com que os militares ou o governo recuasse, isso não vai acontecer".
Enquanto no passado muitos paquistaneses apoiaram – e alguns ainda apoiam – negociações de paz com os talibãs, essa posição deve minguar. Tentativas anteriores para forjar um acordo de paz com o grupo foram feitas em 2005, 2006 e 2009, mas todas fracassaram. "A história mostra que fazer negócios com fanáticos religiosos não é bom", disse Bergen.
Ayesha Siddiqua, analista paquistanesa, acredita que o país precisa repensar sua abordagem com grupos religiosos radicais militantes. "Se nada acontecer, este derramamento de sangue vai continuar", disse. No entanto, é pouco provável que haverá uma grande mudança política num curto prazo, argumenta Ayesha, acrescentando que sinais de inação do governo podem custar caro ao país. "Muito claramente, o objetivo do TTP é causar o máximo dano, matar o maior número de pessoas que eles conseguirem. Eles não estão interessados em reféns, eles estão interessados em matar".
Segundo ela, "uma vez que eles não podem acessar alvos militares ou governamentais, eles estão indo atrás de alvos mais fáceis". Gohel concorda: "O ataque de hoje é uma declaração muito clara de intenções. Os talibãs têm lutado contra os militares por um longo tempo, agora eles estão priorizando o terrorismo de forma eficaz, como estamos vendo com essas imagens que estão sendo transmitidas no mundo todo".
Histórico – O TTP compartilha a ideologia extremista do Talibã que os Estados Unidos combateram no Afeganistão, mas forma um movimento distinto, que agrupa dezenas de facções jihadistas armadas – uma espécie de coalizão de milícias que luta contra o governo de Islamabad. O movimento nasceu em 2007 sob a liderança de Baitullah Mehsud, quando vigorava no Paquistão o regime militar do general Pervez Musharraf.
Baitullah Mehsud é apontado como o responsável por orquestrar o atentado que matou a ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, em dezembro de 2007. Ele morreu em um ataque feito a partir de um drone americano em 2009. Foi então substituído pelo primo, Hakimullah. Com a morte deste, em 2013, o movimento passou a ser comandado pelo mulá Fazlullah, que chefiava os talibãs do vale do Swat. Ele é acusado de ter ordenado o atentado contra a ativista pelo direito à educação das meninas, Malala Yousafzai.
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