Austrália: ameaça jihadista vai além da tragédia em Sydney
Mesmo sem muita experiência ações terroristas em suas cidades, o país aumentou recentemente o alerta para ações de extremistas
“A aparente surpresa das declarações de Abbott normalmente seria justificável. A Austrália tem pouca experiência com o terrorismo em comparação com alguns países do Ocidente. Nunca enfrentou nada como o IRA ou as Brigadas Vermelhas. Nunca teve de lamentar ataques como os de 11 de setembro. Mas agora, depois de várias ameaças do Estado Islâmico e moradores radicalizados fugindo para campos de batalha na Síria, Abbott talvez tenha menos motivos para se surpreender”, afirmou o jornal.
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Como aliado de primeira hora dos Estados Unidos em ações militares, a Austrália entrou na luta contra o Estado Islâmico, disponibilizando caças e soldados para combater o grupo terrorista que avança nos territórios do Iraque e da Síria. Além disso, o país elevou em setembro o nível de alerta terrorista para ‘alto’. Foi a primeira vez que o alerta chegou a esse patamar desde que o sistema foi implantado, em 2003.
Naquele ano, treze moradores de Melbourne foram presos e acusados de formar duas células para planejar ataques terroristas. A ação revelou como alguns australianos “se radicalizaram depois do 11 de setembro, particularmente depois do início da guerra no Iraque”, destacou ao Washington Post o especialista em terrorismo Andrew Zammitt.
A partir daí, o país passou a enfrentar uma ameaça interna constante, agravada pelo avanço do EI, que atrai milhares de estrangeiros e também encoraja a ação de ‘lobos solitários’ nos países envolvidos no combate à organização. Analistas estimam que centenas de cidadãos australianos deixaram o país para se juntar a grupos extremistas. E as autoridades locais afirmam que pelo menos cem suspeitos de pertencer a grupos jihadistas operam na própria Austrália.
O governo australiano aprovou na última década uma série de leis para combater o terrorismo no país. Em setembro, foi a vez do governo de Abbott apresentar uma nova legislação que concede superpoderes ao Serviço de Inteligência (Asio) e prevê que empresas de telecomunicações armazenem dados de clientes por um período de até dois anos para ajudar em investigações.
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Cabeça decapitada – O alarme havia soado mais alto em agosto, quando surgiram relatos sobre a atuação de cidadãos do país na Síria. A foto de um menino, filho de um terrorista australiano que passou a integrar as fileiras do EI, segurando uma cabeça decapitada de um sírio, chocou o país e revelou os riscos aos quais a Austrália estava exposta.
Semanas depois, um homem que as autoridades apontaram como sendo um chefe do Estado Islâmico no país convocou militantes a promover decapitações de australianos. A ameaça resultou na maior operação antiterrorista já realizada na Austrália. Cerca de 800 policiais e agentes prenderam quinze pessoas pelo país. O governo afirmou que elas pretendiam sequestrar um cidadão australiano, decapitá-lo e filmar a ação – imitando ações similares do EI na Síria e no Iraque.
Sydney – Ainda não se sabe com certeza se o homem que manteve reféns sob a mira de armas no café em Martin Place tem ligação com algum grupo terrorista ou se agiu por conta própria. Há informações de que ele chegou a pedir uma bandeira do Estado Islâmico no período em que sua ação dominou o noticiário internacional. A bandeira que o homem obrigou os reféns a mostrarem na janela tinha a inscrição da shahada, “Alá é único e Maomé é seu profeta”, uma expressão de fé comum ao mundo islâmico, mas que também foi cooptada por grupos jihadistas.
Mesmo sem ter ligação direta com o ataque em Sydney, no entanto, o EI pode reivindicar a autoria, como destacou o especialista em segurança Neil Fergus em entrevista ao Channel 9, da Austrália. O grupo vai tentar levar o crédito, “mesmo sem que haja informação de inteligência ou indícios de conexão” com o perpetrador. A intenção é usar o trágico evento para disseminar a mensagem de terror do grupo.
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