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Mesmo crescendo menos, emergentes continuam resistentes à crise, diz FMI

Segundo relatório, resistência desses países está ligada à adoção de políticas econômicas acertadas e se deve a fatores mais duradouros

  • Economias emergentes continuam resistentes aos efeitos da crise financeira, mesmo que suas taxas de crescimento já não sejam tão robustas quanto indicavam projeções passadas.

Em uma análise divulgada nesta quinta-feira, os economistas do Fundo argumentam que a fortaleza desse grupo de economias, embora tenha sido ajudada por fatores conjunturais, também reside em causas mais profundas: está ligada à adoção de políticas econômicas acertadas e, em linhas gerais, se deve a fatores mais duradouros.
"A resistência das economias emergentes e em desenvolvimento não é recente. Resulta de ganhos consistentes em desempenho ao longo das duas últimas décadas", concluem os pesquisadores, em um novo capítulo do relatório Panorama Econômico Mundial (World Economic Outlook).
As conclusões alimentam o debate sobre a capacidade dos países emergentes de manter seu ritmo de crescimento apesar do agravamento do cenário externo. Atualmente motores da economia mundial, este grupo de países está perdendo o fôlego.
Na mais recente rodada de previsões, em julho, o FMI rebaixou para 5,6% a previsão de crescimento dos emergentes em 2012. No ano passado, esse grupo de economias cresceu 6,2% e, em 2010, 7,5%.
Na segunda-feira, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, disse que esta perda de dinamismo, combinada com problemas que ainda persistem na Zona do euro e com a falta de confiança na economia americana, implicará uma revisão para baixo nas novas projeções do Fundo - que serão divulgadas durante a sua reunião de outono, em outubro no Japão.
"Nós claramente ainda vemos uma recuperação gradual (da economia global)", disse Lagarde, "mas o crescimento global que havíamos previsto deve ser ainda um pouco mais fraco do que esperávamos".
Em julho, o Fundo cortou a projeção de crescimento global em 2013 para 3,9%, embora tenha mantido inalterada em 3,5% a estimativa para este ano.
Otimistas x céticos
Diante desse quadro de desaceleração, os técnicos do FMI analisaram seis décadas de expansão e contração de mais de 100 países emergentes e em desenvolvimento diante das crises.
Os mais céticos lembram que grande parte do crescimento deste grupo na última década se deveu a fatores conjunturais, susceptíveis a mudanças de curso, como fortes entradas de capital, crescimento acelerado do crédito e altos preços de commodities.
Mas uma abordagem mais positiva indica um aumento na capacidade dos emergentes de responder a choques externos sem minar a sustentabilidade econômica. É essa a avaliação que o FMI preferiu.
"Muitas economias emergentes e em desenvolvimento adotaram melhores políticas", disse o coordenador do capítulo 4 do WEO, Abdul Abiad.
"Muitas delas adotaram metas de inflação e taxas de câmbio flexível, por exemplo, e as suas políticas fiscais e monetárias são mais contracíclicas que no passado - isto é, estimulam a economia quando ela está fraca, e a controlam quando está superaquecida.", acrescentou.
Nesse sentido, Abiad acredita que o Brasil tem "maior capacidade de manobra" para reagir a uma "possível deterioração do quadro externo".
"(...) o Brasil ainda tem algum espaço para responder com políticas se a desacelação for mais forte que o esperado", afirmou.
Segundo ele, em geral, os países emergentes também construíram para si mais espaço para adotar políticas econômicas, por causa de uma maior folga fiscal em relação ao passado.
Como consequência, os ciclos de expansão se tornaram mais longos e os ciclos de contração, mais curtos e menos profundos, mostrou a pesquisa.
"Esses países estabeleceram um histórico de responder quando a economia se desacelera mais do que o esperado", explicou Abiad.
Resistentes, não imunes
A década passada foi a primeira na história em que os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento passaram mais tempo em expansão e registraram contrações menores que as avançadas. A maior parte deste fenômeno, acredita o FMI, se deve ao acerto no conjunto de políticas.
Mas as últimas duas décadas também viram transformações estruturais como a mudança de composição nos fluxos financeiros para os países emergentes, com ênfase no investimento produtivo; a melhoria da distribuição de renda e o fortalecimento dos mercados internos; a maior abertura comercial; e os padrões de comércio exterior mais favoráveis.
Apesar da conclusão positiva, o relatório também lembrou que estes países não se tornaram imunes aos choques. "Entre os choques externos, as recessões nas economias avançadas e 'paradas bruscas' nos fluxos de capital têm os efeitos mais profundos", exemplificou um dos autores do capítulo, Jaime Guajardo.
"Estes choques duplicam a possibilidade de encerramento da expansão em uma economia emergentes e em desenvolvimento. O efeito de um choque doméstico é tão forte quanto, se não for até mais forte. As bolhas de crédito duplicam a possibilidade de uma expansão se tornar uma contração no ano seguinte, e as crises bancárias triplicam." BBC Brasil - Todos os direitos reservados

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