Pular para o conteúdo principal

Condenado, Macarrão decidiu: não pagará sozinho


Abandonado, melhor amigo de Bruno impldiu a trama montada para proteger o grupo. Confissão é a prova de que não existe a "ética dos bandidos" que citou o promotor do caso

  •  
Macarrão no banco dos réus durante o quinto dia de julgamento
Macarrão no banco dos réus durante o quinto dia de julgamento - Vagner Antônio/TJMG

Há quem acredite que entre os criminosos impere, acima da lei, o senso de uma ‘ética dos bandidos’. Ética e crime não podem nem devem habitar a mesma expressão, mas foi o formato encontrado pela ingenuidade para supor sobre “os limites” da ação dos grupos criminosos. Uma delas é a de que, mesmo nos acertos de contas entre gangsters as famílias devem ficar de fora – algo que os filmes de máfia já desmontaram há tempos. Outra seria a que garante pactos de silêncio de forma a preservar os cúmplices de um mesmo crime, como vinha ocorrendo no Caso Bruno, no qual os advogados de defesa conseguiram conservar por dois anos e meio o silêncio da turma que comia churrasco enquanto Eliza Samudio era mantida em cárcere privado com o filho recém-nascido, à espera da morte. A estratégia começou a ser quebrada nesta semana - e já culminou na condenação de dois réus, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, e Fernanda Castro, ex namorada do goleiro. Os demais serão julgados em março do ano que vem. Macarrão foi condenado a 15 anos de prisão, por homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado. Ele se livrou apenas da acusação de ocultação de cadáver.

A madrugada de quinta-feira foi uma aula sobre o quanto não se deve confiar na existência de algum tipo de princípio vindo de criminosos. Macarrão, que na última semana mirou os jurados e a juíza Marixa Fabiane Rodrigues com o olhar sofrido dos injustiçados, tatuou nas costas, na véspera do sequestro de Eliza Samudio, um juramento de amor ao ex-patrão: “Bruno e Maka, amizade (que) nem mesmo a força do tempo irá destruir, amor verdadeiro”. Bruno faria uma tatuagem idêntica, disse Macarrão, agora sentindo-se traído. O que eles não sabiam sobre o tempo: passado o prazo de validade de uma amizade sustentada pelo dinheiro – no caso, dinheiro de Bruno – e desgastado o amor capaz de manter em silêncio dois amigos prestes a encarar 10 anos de xilindró, ‘Maka’ não suportou a pressão. Abriu o bico. E tentou salvar a própria pele. “Se alguém destruiu a vida, foi ele quem destruiu a minha”, disse, mostrando que teria, talvez, algum talento para a escrever clássicos da canção brega-romântica na categoria dor-de-cotovelo.

A pena do réu seria de 20 anos de prisão, mas a confissão durante o depoimento em plenário serviu de atenuante. Em 2015, Macarrão poderá solicitar regime semiaberto. "Foi uma vitória com certeza. Como esse caso foi o maior e o mais importante da minha carreira, posso dizer que, tratando-se de um réu confesso de homicídio, foi a minha maior vitória. A confissão foi uma estratégia acertada porque o beneficiou. Não houve acordo. Neste momento, Macarrão está tranquilo", disse o advogado de defesa de Macarrão, Leonardo Diniz.


Para manter o assunto dentro do campo da filosofia de churrasco e botequim, fiel ao universo dos réus, Macarrão cansou de ser ‘mulher de malandro’. Tolerou enquanto pôde o desprezo de Bruno, que foi muito além de não fazer a tatuagem, como combinado. Na semana em que foi preso, o goleiro foi filmado dizendo que “agora ficava difícil confiar” nele (Macarrão). O ex-capitão do Flamento escreve uma carta pedindo ao amigo para assumir o crime, o “plano B” revelado por VEJA em julho. Até aí Maka suportou. Mas chegou a hora de encarar os jurados e Bruno passou dos limites: operou, com seus advogados e o do ex-policial Bola – o tão temido quanto fanfarrão Ércio Quaresma – um desmembramento do processo, para tornar mais fácil sua defesa em um julgamento com menos réus e mais tempo para seus advogados.

É bom ressaltar: nos dias de hoje, por obra da Lei Maria da Penha, até a mulher do 'malandro', daquele que gosta de bater, tem seus direitos garantidos. E o malandro vai preso sem chance de pagar fiança.

A acusação abraçou Macarrão quando Bruno o abandonou. Sensíveis, acostumados às sensações e aos pesadelos que assombram quem ocupa o banco dos réus, promotor e assistentes de acusação perguntaram a Maka: “Vai pagar o preço sozinho, ou vai entregar os que mataram Eliza?” Macarrão ficou com a segunda opção, e deu à Justiça o que faltava, a afirmação em juízo de que Eliza Samudio foi assassinada, e que o mentor do crime foi o goleiro Bruno. Entre eles, passou a haver, além da coleção de artigos do Código Penal, o crime de traição.


Macarrão foi parcial, e manteve segredo em relação à participação de Bola. Por “ética”? Lealdade? Certamente não. Como deixou claro, tem medo de morrer, e para o Ministério Público o matador do grupo é exatamente o ex-policial.

No momento do debate no Fórum de Contagem, na sexta-feira, o competente promotor de Justiça Henry Vasconcelos citou sua hipótese para o fato de Bola, que asfixiou e esquartejou Eliza, ter poupado o filho da vítima, o pequeno Bruninho. “Criança eu não faço, não”, teria dito o assassino. Para Henry, ele teria “parâmetros éticos que não condizem com o de bandidos mais vulgares”. Pela violência e frieza com que agiu o grupo, é mais seguro crer em uma hipótese mais simples para explicar a opção do algoz de Eliza: matar o bebê não estava no preço.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
uspeitos de envolvimento no assassinato de Marielle Franco Há indícios de que alvos comandem Escritório do Crime, braço armado da organização, especializado em assassinatos por encomenda Chico Otavio, Vera Araújo; Arthur Leal; Gustavo Goulart; Rafael Soares e Pedro Zuazo 22/01/2019 - 07:25 / Atualizado em 22/01/2019 - 09:15 O major da PM Ronald Paulo Alves Pereira (de boné e camisa branca) é preso em sua casa Foto: Gabriel Paiva / Agência O Globo Bem vindo ao Player Audima. Clique TAB para navegar entre os botões, ou aperte CONTROL PONTO para dar PLAY. CONTROL PONTO E VÍRGULA ou BARRA para avançar. CONTROL VÍRGULA para retroceder. ALT PONTO E VÍRGULA ou BARRA para acelerar a velocidade de leitura. ALT VÍRGULA para desacelerar a velocidade de leitura. Play! Ouça este conteúdo 0:00 Audima Abrir menu de opções do player Audima. PUBLICIDADE RIO — O Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro (M
Nos 50 anos do seu programa, Silvio Santos perde a vergonha e as calças Publicidade DO RIO Para alguém conhecido, no início da carreira, como "o peru que fala", graças à vermelhidão causada pela timidez diante do auditório, Silvio Santos passou por uma notável transformação nos 50 anos à frente do programa que leva seu nome. Hoje, está totalmente sem vergonha. Mestre do 'stand-up', Silvio Santos ri de si mesmo atrás de ibope Só nos últimos meses, perdeu as calças no ar (e deixou a cena ser exibida), constrangeu convidados com comentários irônicos e maldosos e vem falando palavrões e piadas sexuais em seu programa. Está, como se diz na gíria, "soltinho" aos 81 anos. O baú do Silvio Ver em tamanho maior » Anterior Próxima Elias - 13.jun.65/Acervo UH/Folhapress Anterior Próxima Aniversário do "Programa Silvio Santos", no ginásio do Pacaembu, em São Paulo, em junho de 1965; na época, o programa ia ao ar p