Vargas recebeu de offshore e agência ligada ao PT, indica planilha
PF apreendeu na casa do ex-deputado lista com R$ 3,1 milhões pagos por empresas, entre elas a Pepper Interativa e a Braspor Gráfica, que prestaram serviços ao PT
O documento foi encontrado na última sexta-feira, quando a 11ª fase da Operação Lava Jato prendeu Vargas e revelou um esquema pelo qual ele recebia dinheiro repassado por produtoras do ramo audiovisual, a mando da agência de publicidade Borghi Lowe, detentora de contratos milionários com a Caixa Econômica Federal e o Ministério da Saúde. O ex-deputado recebia 10% do chamado bônus por volume, gratificação que as produtoras subcontratadas pela Borghi Lowe devolviam à agência. Para isso, ele emitia notas fiscais falsas, de serviços nunca prestados, de acordo com o Ministério Público Federal. Além da LSI, o ex-parlamentar usava a Limiar Consultoria e Assessoria em Comunicação, já encerrada.
Confira aqui a planilha de contabilidade da LSI, empresa de fachada dos irmãos Vargas
As transferências para a LSI somam 3,1 milhões de reais, entre 2011 e 2014. A empresa está registrada na Junta Comercial de São Paulo em nome de Leon Vargas (que também chegou a ser preso) e Milton Vargas, irmãos do ex-deputado petista. O órgão informa que a empresa tem sede declarada na Vila Mariana, Zona Sul da capital paulista, mas a PF diz que se trata de uma empresa de fachada, sem funcionários. Segundo a contabilidade da empresa dos irmãos Vargas, onze das 203 notas fiscais emitidas foram canceladas. Em geral, os valores variam de 1.300 reais a 70.000 reais. Mas quatro depósitos chamam a atenção.
O maior pagamento que aparece na planilha, de 311.000 reais, foi registrado em nome da O2 Filmes, em fevereiro de 2014. Também fogem da média os pagamentos da Jumbo Tratamento Térmico e Indústria Mecânica, registrada em nome do empresário Marco Antônio Bomtempo, irmão do ex-prefeito de Assaí (PR) Tuti Bomtempo (PMDB). Em 2012, a indústria Jumbo repassou 200.000 reais para LSI em março e mais 150.000 reais em setembro, segundo a planilha.
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Paraíso fiscal - A Alta (América Latina Tecnologia Agrícola Ltda) pagou aos irmãos Vargas 150.000 reais em agosto de 2012. Dois meses depois, aparece na planilha uma nota de 50.000 reais, seguida da inscrição "cancelada". A empresa é um braço do grupo Agrihold, que produz e distribui no Brasil insumos agrícolas como fungicidas, inseticidas e herbicidas.
Com capital social de 1,4 milhão de reais, a Alta é controlada por duas empresas que atuam na América Latina e têm sedes em paraísos fiscais: Agrihold Management Corp, nas Bahamas, e Agrihold Investment Ltd, e nas Ilhas Virgens Britânicas. O representante no Brasil é o engenheiro agrônomo e sócio Rafael Caixeta Albuquerque.
Eleições - A Pepper Comunicação Interativa aparece em cinco transferências de dinheiro para a empresa fantasma dos irmãos Vargas. Os depósitos somam 98.865 reais e foram realizados entre 2012 e 2013. Até o ano passado, a Pepper ainda recebia dinheiro público do governo federal, por campanhas para os ministérios da Saúde e Integração Nacional, além da Presidência da República.
A Braspor Gráfica e Editora, empresa que também costuma prestar serviços eleitorais ao PT e trabalhou para as campanhas do ex-presidente Lula e da presidente Dilma Rousseff, fez três repasses entre 2013 e 2014 no valor total de 78.800 reais. Do mesmo grupo empresarial, a Leograf Gráfica e Editora transferiu 157.975 reais, entre 2011 e 2014.
O Ministério Público Federal obteve a confirmação de cinco produtoras de vídeo listadas na planilha de que as empresas de Vargas e seus irmãos nunca prestaram serviços a elas. A Justiça Federal decretou a quebra dos sigilos bancários e fiscal das produtoras: "Vale lembrar que, em diligência, a Receita Federal recebeu informações das empresas ENoise Estúdios de Produção, Luiz Portela Produções, Conspiração Filmes S/A; Sagaz Digital Produções de Vídeos e Filmes e Zulu Filmes Ltda- de que a LSI e a Limiar não prestaram serviços para essas sociedades".
André Vargas, Leon Vargas e o publicitário Ricardo Hoffmann, da Borghi Lowe, são investigados pelos crimes de corrupção, peculato, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Para o juiz Sérgio Moro, as produtoras podem ter sido envolvidas nos crimes "sem intenção".
O gerente jurídico da Jumbo Mecânica, Adaílton Alves Maciel Júnior, confirmou ao site de VEJA os pagamentos feitos à LSI. Ele disse que a empresa fechou um "contrato comercial" com a LSI, para atuar na "venda de equipamentos". Maciel Júnior afirmou também que não pode informar mais detalhes por cláusulas de confidencialidade. "Não houve ilicitude alguma, nossa empresa não tem caixa dois. Estamos fora da área política e não tivemos contato com André Vargas. Acho estranho, não sei por que o documento estava na casa dele. Vendemos bens de capital, fabricamos máquinas e equipamentos de grande porte, mas não teve nada a ver com a área pública."
Os pagamentos da Jumbo à LSI já foram auditados em novembro do ano passado pela Receita Federal, segundo Júnior. Ele também disse que a Polícia Federal solicitou nesta quarta-feira os documentos do contrato e cópia dos pagamentos.
Em nota, a O2 Filmes afirmou que vai apurar o pagamento e que se surpreendeu ao saber que estava citada na contabilidade da empresa de fachada dos irmãos Vargas. "A O2 está apurando os fatos alegados e que até o presente momento não foi contatada pelas autoridades competentes a prestar qualquer esclarecimento. De antemão, o que podemos informar é que a O2 pauta suas práticas comerciais com clientes e fornecedores na mais elevada ética e transparência, razão pela qual se surpreendeu com tal notícia."
O site de VEJA enviou perguntas por e-mail às gráficas Braspor e Leograf e à agrícola Alta, mas ainda não obteve resposta. A reportagem não conseguiu contato com a Pepper Interativa.
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