Levy abre o jogo: modelo de crescimento do Brasil mudou
No painel final do Fórum Econômico Mundial, ministro da Fazenda diz que país deve crescer impulsionado pelo investimento – e não mais pelo consumo
"Nosso crescimento é muito baseado no consumo, mas estamos mudando a demanda em direção aos investimentos", disse Levy .
Levy afirmou que para dar velocidade à retomada dos investimentos, será preciso usar "ferramentas muito tradicionais", como a política fiscal, que prevê o cumprimento da meta de superávit primário, ou seja, a economia feita pelo governo para pagar os juros da dívida pública. "Vamos fazer um superávit de 1,2% do PIB este ano, que é um grande aumento. No próximo ano, será um pouco maior", disse. O ministro falou ainda sobre o realinhamento de preços administrados, como o da energia, e na importância dos reajustes para dar confiança ao investidor. O ministro repetiu a palavra confiança constantemente ao longo de sua fala e disse ainda que, se as medidas forem tomadas rapidamente, a economia responderá rápido também. "O Brasil é uma economia dinâmica. Talvez não tanto como os Estados Unidos, mas ainda assim é muito ágil", disse.
Por ser o último dia do evento, a plateia não estava cheia, mas o discurso do ministro atraiu a atenção de autoridades. Olli Rehn, ex-comissário da Comissão Europeia e atual vice-presidente do Parlamento Europeu afirmou que as palavras de Levy mostraram disposição do Brasil em retomar o caminho da estabilidade. "A economia brasileira enfrentou um período difícil nos últimos anos. O fato de o ministro focar em mudanças e reformas estruturais, além de estimular o investimento, sinaliza disposição que todos os emergentes precisam ter para passar por tempos difíceis", disse o comissário.
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O ministro transmitiu a mensagem clara de que os ajustes estão sendo desenhados para agradar ao mercado. Apesar de ter citado, ao final de sua fala, esforços para melhorar a educação, além da criação de emprego como consequência da retomada dos investimentos, Levy deixou claro que o período será de mudanças profundas chanceladas, como ele mesmo afirmou, pela presidente Dilma Rousseff.
O discurso encerra uma cruzada de quatro dias, em que o ministro percorreu todas as salas de encontros bilaterais do Fórum Econômico com apenas um objetivo em mente: fazer o mercado internacional acreditar que o Brasil do protecionismo e do descontrole fiscal não existe mais. A estratégia previu ainda conversas com a imprensa internacional, como o jornal Financial Times, a Bloomberg e a Dow Jones. A eficácia de tal empreitada ainda não pode ser medida com clareza, mas o ministro investiu horas tentando.
A agenda pró-mercado está alinhada com o que os grandes empresários que frequentam o Fórum de Davos pensam. Mas está bem longe do que o PT e a própria presidente Dilma previam alguns meses atrás, às vésperas das eleições. Afinal, Levy é ministro do mesmo governo que afirmou, em campanha, que um Banco Central independente subiria juros e tiraria comida da mesa dos brasileiros. A agenda dos adversários foi incorporada pelo ministro com propriedade e transmitida ao mundo todo. Para os eleitores, resta o ranço do engano
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