Assombrado pela crise, Evo Morales assume terceiro mandato
Queda nos preços de produtos exportados pelo país – principalmente para o Brasil, maior parceiro comercial – deve complicar os planos do mandatário
Presidente Dilma Rousseff durante foto oficial da cerimônia de posse do presidente boliviano, Evo Morales, em La Paz - 22/01/2015
Morales nem precisaria ter sufocado adversários, perseguido a imprensa e subjugado o Judiciário para se manter no poder, já que o PIB do país tem apresentado crescimento significativo, de 5% em média. Além disso, a distribuição de dinheiro mantém a dependência do povo em relação ao Estado. Críticos preveem que os intensos gastos sociais não poderão ser mantidos se não forem descobertas novas jazidas de gás, num momento no qual os preços caíram devido à menor demanda mundial.
De fato, ele conseguiu reduzir a pobreza e preservar a responsabilidade fiscal, mas a economia da nação andina depende em grande parte da exportação de gás natural, do qual uma terça parte é consumida no Brasil. O pagamento é feito de maneira generosa pela Petrobras, que em 2006 teve refinarias expropriadas.
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Na época das vacas magras, porém, "terá que governar em um contexto de queda [do preço] do petróleo e, por isso, de diminuição dos preços do gás, ou seja, terá que fazê-lo já não mais em condições do boom econômico dos nove anos anteriores", afirmou o analista independente Carlos Toranzo.
Nesta quinta, a presidente Dilma Rousseff assistiu à cerimônia de posse na Assembleia Legislativa – ela deixou de comparecer ao Fórum Econômico Mundial, em Davos, para prestigiar o colega. Também estiveram presente Nicolás Maduro, da Venezuela, e Rafael Correa, do Equador. Todos viram Morales mandar uma mensagem inequívoca de sua ideologia, ao prestar juramento com o punho esquerdo erguido "pelo povo boliviano e pela igualdade de todos os seres humanos". Também ouviram Morales dizer que no seu país “não mandam os gringos, mas os índios”.
Morales também mencionou entre seus planos para o mandato previsto para ir até 2020 uma reforma no Judiciário, a promessa de que seu país voltará ao oceano Pacífico com “soberania” – tema que envolve um litígio com o Chile na Corte Internacional de Justiça. Também falou em avançar na mudança do perfil produtivo da nação. As estatizações dos últimos anos afugentaram os investidores e, depois de eleito, o mandatário apressou-se em tentar afastar o temor de uma nova onda de expropriações. A preocupação é válida uma vez que, como outras atividades econômicas não prosperam, os bolivianos continuam sem empregos decentes, trabalhando em sua maioria no setor informal.
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Com domínio na Assembleia, ele também poderá buscar uma reforma constitucional que incorpore a reeleição por tempo indefinido. Seu terceiro mandato já foi resultado de uma manobra ao pressionar por uma mudança na Constituição em 2009. Depois disso, o primeiro mandato passou a ser desconsiderado, para fins eleitorais, por ter transcorrido sob a Carta anterior.
(Com agências Reuters e France-Presse)
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