Dilma discursa nesta terça na ONU sobre espionagem dos EUA
Presidente abrirá Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York.
Ela quer regulamentar ações de inteligência e solução diplomática na Síria.
A presidente Dilma Rousseff durante discurso na Assembleia Geral da ONU em 2012
Em meio ao mal estar entre Brasil e Estados Unidos gerado pelas recentes denúncias de espionagem, a presidente Dilma Rousseff abrirá na manhã desta terça-feira (24) a Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova York, com um discurso em favor do respeito à privacidade dos cidadãos e à soberania dos países.O chefe de Estado brasileiro é, tradicionalmente, sempre o primeiro a discursar porque o Brasil foi o primeiro pais a virar membro da ONU, em 1945, após a Segunda Guerra Mundial. A presidente usará cerca de 30 minutos para expor, entre outros temas, a proposta de que as Nações Unidas crie regras claras sobre o acesso a informações privadas na internet e imponha limites às ações de inteligência entre as nações.
Segundo auxiliares de Dilma, ela quer uma espécie de "código internacional" para a internet, com normas que garantam a privacidade no meio eletrônico. Para a presidente, além de afetar a soberania do Brasil, a NSA, agência de segurança dos Estados Unidos, pode estar violando o direito de privacidade dos indivíduos ao acessar o conteúdo de e-mails como estratégia de inteligência.
A fala antecede o discurso do presidente norte-americano, Barack Obama, que subirá à tribuna da Assembleia das Nações Unidas logo após Dilma. Na última terça-feira (17), a presidente anunciou o adiamento da visita de Estado que faria em outubro a Washington, nos Estados Unidos.
A decisão foi motivada pelas denúncias de que a NSA monitorou comunicações de Dilma com seus assessores e também a Petrobras, segundo revelou o programa Fantástico.
Antes de discursar na assembleia, a presidente levará a proposta de regulamentação do acesso a conteúdos de internet e a critica à atuação da NSA diretamente ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, em uma reunião bilateral que terá início às 8h30.
'Dignidade'
Nesta segunda (23), Dilma tratou do tema com a presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Após o encontro, que ocorreu no hotel onde a presidente brasileira está hospedada em Nova York, Kirchner afirmou que a espionagem dos Estados Unidos sobre o governo brasileiro afeta a "dignidade" de todos os países sul-americanos.
"A condenação e a posição da presidente Dilma em relação à espionagem é uma questão de dignidade e respeito à soberania do seu país. Brasil é nosso principal sócio no Mercosul. A verdade é que a espionagem afeta a dignidade da região em geral", disse.
Dilma também se reuniu com o ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, mas, de acordo com o Planalto, eles só abordaram ações da Global Iniciative, fundação criada pelo norte-americano para promover o desenvolvimento sustentável.
De acordo com a ministra da Secretaria de Comunicação Social, Helena Chagas, Clinton fez um convite para que Dilma participe de um encontro promovido pela fundação com autoridades nacionais e estrangeiras que vai ocorrer entre 8 e 10 de dezembro no Rio de Janeiro.
A ministra negou especulações de que o ex-presidente dos EUA tenha se encontrado com Dilma numa tentativa de "acalmar os ânimos" da governante em relação às denúncias de espionagem envolvendo o governo norte-americano.
"A conversa entre os dois girou, sobretudo, sobre o trabalho da fundação. Não procede a especulação de que Clinton tenha sido enviado como intermediário para tratar das denúncias de espionagem", afirmou.
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SíriaNo discurso que fará na ONU, Dilma também deve abordar os conflitos na Síria que já provocaram mais de 100 mil mortes. A presidente vai condenar a violência no país e o uso de armas químicas, mas defenderá uma solução diplomática, sem o uso da força contra o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad.
A guerra civil síria dura quase dois anos, já matou mais de 110 mil pessoas e ameaça a estabilidade do Oriente Médio. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, defendeu uma intervenção militar, mas a Rússia apresentou como alternativa um plano que prevê o desarmamento gradual da Síria.
Após reunião com a presidente Dilma nesta segunda, Cristina Kirchner também defendeu uma solução negociada para a Síria. Para ela, o conflito revela a necessidade de ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O Brasil pleiteia uma cadeira permanente no grupo hoje formado por Estados Unidos, China, Rússia, Inglaterra e França.
"O direito de veto quando há um conflito é a melhor forma de não resolver um problema e é necessário mudar as coisas para que elas funcionem. O que teria acontecido se não tivesse ocorrido esse acordo de desarmamento entre Rússia e EUA? O Conselho de Segurança é ineficaz e obsoleto para enfrentar situações de crise", argumentou a presidente argentina.
Rio+20
Outro tema do discurso de Dilma será o cumprimento do documento firmado durante a Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em junho do ano passado, no Rio de Janeiro. A conferência produziu um documento assinado pelos 188 países que participaram do evento.
Após discursar na abertura da Assembleia-Geral da ONU Dilma participa às 15h de terça (24) da primeira sessão do Foro de Alto Nível de Desenvolvimento Sustentável, criado para analisar as realizações e deliberações da Rio+20.
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