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Os que falam e os que trabalham

Foi um final de semana estressante.
Quem foi dormir bem tarde na sexta-feira ainda pegou a notícia de que o Ministro da Fazenda Joaquim Levy tinha sofrido uma embolia pulmonar e teve que ser atendido num hospital de Brasilia.
Em que pese o ministro ter tido alta por volta de uma da manhã do sábado, a notícia ilustrou — com cores vívidas — a extrema vulnerabilidade da economia brasileira.Joaquim Levy
Todo mundo sabe que Levy é o fiador final do risco brasileiro; é só por causa dele que a República ainda não perdeu o grau de investimento.
E ainda que ele não esteja nem perto de entregar a meta fiscal prometida para este ano, o reconhecimento de que ele está fazendo o possível — dentro de uma limitação política indescritível — é o que mantem os mercados e a economia funcionando com uma dose mínima de Prozac.
Se o ministro tivesse que se afastar do cargo, o País enfrentaria outra onda de volatilidade nos mercados e mais incerteza. Afinal, quem, a essa altura do campeonato, com a própria continuidade do Governo ameaçada pelas contínuas revelação da Lava-Jato, quem aceitaria a missão de substtuir Levy neste cenário nuclear? Quem com a sua credibilidade?
Matematicamente, Levy é o cara que ainda separa um dólar a 3 reais de um dólar a 4.
Depois de dormir preocupado com Levy, o Brasil acordou sábado assustado com a Grécia. A decisão do primeiro-ministro Alexis Tsipras de convocar um referendo para que os gregos decidam aceitar ou não os termos negociados com a Uniao Europeia — sem que houvesse acordo algum ainda, note-se — exasperou os ministros da finanças da UE, que decidiram dizer ‘não’ ao pedido de renovação do crédito grego, que vence no fim do mês.
No domingo, no clímax de uma crise que se arrasta há cinco anos, a Grécia decretou controle de capitais e um feriado bancário de seis dias a partir de segunda-feira.
Todo mundo sabe que é fácil fechar os bancos, o difícil é saber como eles reabrem.
Uma aposentada de 67 anos disse ao The Wall Street Journal: “Quero que Tsipras me diga como eu vou conseguir atravessar a semana com 10 euros na minha bolsa quando o aluguel está vindo aí… As coisas nunca foram tão ruins quanto agora.”
Em vários caixas eletrônicos de Atenas, o cartaz já dizia: “LEFTA TELOS” – “sem dinheiro,” na língua de Platão.
Quando Tsipras foi eleito, em janeiro, notamos aqui que ele poderia tirar a Grécia do euro. Não estamos lá ainda, mas com meio caminho andado.
“Hoje foi derrotada a Grécia das elites, dos oligarcas e dos anti-democratas. Hoje venceu a Grécia que trabalha,” disse ele em seu discurso de vitória, que seis meses já transformaram numa vitória de Pirro.
Infelizmente, a retórica política faz o eleitor se sentir melhor mas não gera riqueza nem paga as contas, e “a Grécia que trabalha” foi dormir hoje ainda mais incerta sobre seu futuro.
Ao mesmo tempo em que os relatos e fotos de Atenas mostravam uma situação cada vez mais dramática, começou a circular no Brasil a foto do Ministro Levy, deitado na cadeira de um avião da American Airlines rumo aos EUA, pouco mais de 24 horas depois de ter tido uma embolia.
Apesar de toda a desconfiança do mercado em relação ao Governo, a disposição de Levy — uns dirão, temeridade — de colocar em risco sua saúde para cumprir uma agenda que interessa ao País foi saudada assim por um gestor de recursos, que mandou o seguinte email à coluna:
“Monstro. Puta exemplo de força de vontade. Mega importante ele ter ido aos EUA.”
Num mundo em constante desmoronamento institucional, às vezes o que salva são pequenos gestos assim.

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