Pular para o conteúdo principal

O custo político de uma medida correta

Dilma resistiu à pressão das centrais sindicais e do seu próprio partido ao vetar o artigo que flexibiliza o fator previdenciário. Com olhos no futuro, a medida protege a Previdência de um colapso – mas tem um ônus político

O ex-presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff e o presidente do PT, Rui Falcão no 5º Congresso Nacional do PT, no hotel Pestana, em Salvador (BA) - 11/06/2015
O ex-presidente Lula, a presidente Dilma Rousseff e o presidente do PT, Rui Falcão no 5º Congresso Nacional do PT, no hotel Pestana, em Salvador (BA) -
A presidente Dilma Rousseff tomou uma medida correta nesta quarta-feira: vetou o artigo da Medida Provisória 664 que aumentava despesas com aposentadorias precoces e tornar ainda mais insustentável o sistema de Previdência Social do país. Se aos olhos de qualquer analista econômico a decisão parecia óbvia, engana-se quem pensa que tenha sido uma saída fácil para Dilma no campo político. A petista resistiu à pressão egoísta das centrais sindicais e contrariou seu próprio partido, de quem o divórcio parece a cada dia mais evidente.
O veto de Dilma parte de um dado objetivo: o governo sabe o preço da medida populista aprovada pela Câmara dos Deputados. O peso adicional sobre os deficitários cofres da Previdência seria de 135 bilhões de reais até 2030 e de 2,3 trilhões de reais até 2060. Isso num cenário no qual a Previdência segue a trilha do desequilíbrio crescente. A população envelhece, a expectativa de vida cresce e a taxa de natalidade caiu de forma abrupta nas últimas décadas. Isso significa que nas próximas décadas haverá cada vez mais gente recebendo sem trabalhar e menos gente economicamente ativa para pagar a conta. "A regra 85/95 agrava a situação e traz um risco muito grande à sustentabilidade da Previdência", diz o ministro da Previdência, Carlos Gabas, em referência à proposta dos deputados.
Leia também:
Dilma contraria petistas e veta mudança no fator previdenciário
Os custos políticos imediatos da decisão de Dilma são previsíveis: a primeira consequência é o aumento do desgaste da presidente com a base do Partido dos Trabalhadores. O fim do fator previdenciário é um retrato da miopia da Central Única dos Trabalhadores (CUT), preocupada apenas com ganhos para categorias, e do próprio partido, interessado no bônus eleitoreiro da medida a curto prazo.
No Congresso, não é difícil encontrar petistas insatisfeitos. O senador Paulo Paim (PT-RS), por exemplo, desafia o governo: "Tomara que a presidente não vete, mas, se vetar, que bom: já podemos anunciar ao país que dia 14 de julho é a data marcada para a derrubada do veto. Eu tenho certeza de que nenhum senador ou deputado vai se acovardar por pressão do Executivo", disse ele nesta terça-feira.
Embora um tema não tenha relação com o outro, é ainda mais difícil convencer o eleitor da importância da contenção dos gastos com aposentadoria quando o governo tem como prática maquiar as contas públicas, descumprir metas do superávit e fechar os olhos para desvios bilionários em estatais. Também é difícil explicar ao seu eleitor que o partido sempre esteve errado ao defender o fim do fator previdenciário.
As dificuldades do governo com o tema apenas reforçam a tese de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi quem teve a melhor oportunidade de reformar a Previdência: ele possuía altos índices de aprovação, uma base ampla no Congresso e, justamente por ter feito carreira no sindicalismo, mais facilidade para tratar de temas como esse. Mas o petista optou por evitar o assunto.
Do outro lado do embate político, o PSDB também deu uma guinada. O fator previdenciário foi implementado no governo Fernando Henrique Cardoso e teve amplo apoio dos tucanos à época. O argumento era razoável: o novo cálculo compelia os trabalhadores a estenderem sua carreia profissional, acompanhando a tendência de aumento da longevidade média do brasileiro. ​Mas, agora que são oposição, os parlamentares tucanos têm um discurso convenientemente diferente, mirando o desgaste do governo Dilma. "O fator previdenciário cumpriu seu ciclo ", afirma o líder do partido na Câmara, Carlos Sampaio. É compreensível que os tucanos queiram ver o governo e o PT arcando com o custo de uma medida que os indispõe com sua base. Mas o debate sobre a presidência não pode ser feito com vistas apenas à próxima eleição. A Previdência precisa ser reformada - e de maneira profunda.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com...
Ex-presidente da Petrobras tem saldo de R$ 3 milhões em aplicações A informação foi encaminhada pelo Banco do Brasil ao juiz Sergio Moro N O ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine (Foto: Cristina Indio do Brasil/Agência Brasil) Em documento encaminhado ao juiz federal Sergio Moro no dia 31 de outubro, o Banco do Brasil informou que o ex-presidente da Petrobras e do BB Aldemir Bendine acumula mais de R$ 3 milhões em quatro títulos LCAs emitidos pela in...
Grécia e credores se aproximam de acordo em Atenas Banqueiros e pessoas próximas às negociações afirmam que acordo pode ser selado nos próximos dias Evangelos Venizelos, ministro das Finanças da Grécia (Louisa Gouliamaki/AFP) A Grécia e seus credores privados retomam as negociações de swap de dívida nesta sexta-feira, com sinais de que podem estar se aproximando do tão esperado acordo para impedir um caótico default (calote) de Atenas. O país corre contra o tempo para conseguir até segunda-feira um acordo que permita uma nova injeção de ajuda externa, antes que vençam 14,5 bilhões de euros em bônus no mês de março. Após um impasse nas negociações da semana passada por causa do cupom, ou pagamento de juros, que a Grécia precisa oferecer em seus novos bônus, os dois lados parecem estar agindo para superar suas diferenças. "A atmosfera estava boa, progresso foi feito e nós continuaremos amanhã à tarde", d...