Pular para o conteúdo principal

Relatório da PF sugere que Alexandre Padilha indicou executivo para laboratório de doleiro

Suspeita é levantada a partir de conversas de doleiro Alberto Youssef com deputado André Vargas

São Paulo e Brasília – (atualizado às 23h43) Relatório da Operação Lava Jato da Polícia Federal sugere que o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, indicou um executivo para o Labogen – controlado pelo doleiro AlbertoYoussef, o Primo – quando o laboratório tentava obter contrato milionário da pasta em 2013. Padilha repudiou as afirmações.
O documento mostra ainda que Youssef, preso desde 17 de março de 2014, mantinha contatos com outros deputados do PT, além de André Vargas (PT-PR).
A PF suspeita que o doleiro se encontrou com Vargas no apartamento funcional do ex-líder do governo na Câmara Cândido Vaccarezza (PT-SP), em Brasília. Também teria enviado um emissário para participar de reunião com Vicente Cândido (PT-SP), em São Bernardo do Campo, no Grande ABC.
O relatório de 80 páginas, da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (Delefin) da PF, indica que no período de 19 de setembro de 2013 a 12 de março de 2014, Youssef e Vargas trocaram 270 mensagens pelo aplicativo Black Berry Messenger.
Eles se tratam por “irmão” e se despedem com “beijo”. Para a PF, esse tratamento “indica que a relação não era superficial”.
Ex-ministro. No trecho relativo ao ex-ministro da Saúde, a PF captou diálogos entre Youssef e Vargas – este chama Padilha de “Pad”. No dia 26 de novembro de 2013, Vargas pede ao doleiro que reserve a melhor suíte de um hotel – Blue Tree – que pertence a Youssef, segundo a PF. O deputado diz que falou com o “PAD”. “Ele vai marcar uma agenda comigo”, diz Vargas. O doleiro responde: “ótimo”. E elogia a atitude do deputado. “Precisamos estar presentes.”
A PF diz que o Labogen – com folha de pessoal de apenas R$ 28 mil – planejava arrecadar R$ 150 milhões com o negócio na Saúde, fornecimento de remédio para hipertenso. O contrato não chegou a ser assinado e, segundo o ministério, nenhum pagamento foi feito.
Indicado. O executivo que teria sido indicado por Padilha para os quadros do Labogen é Marcus Cezar Ferreira de Moura. Ele havia trabalhado no Ministério da Saúde entre 26 de maio e 1.º de agosto de 2011. Foi assessor da coordenação de eventos na gestão de Padilha.
O ex-ministro não caiu na malha de grampos da PF e nem é investigado, mas a investigação chegou a juntar aos autos da Lava Jato até uma fotografia de Padilha em um evento. “As evidências indicam que Vargas tinha interesse no processo de contratação do Labogen junto ao Ministério da Saúde”, sustenta a PF.


O alvo das interceptações era o doleiro. Todos os que com ele conversaram, por telefone ou por mensagens, acabaram grampeados indiretamente. Em 27 de novembro de 2013, Youssef foi avisado por Vargas que “achou o executivo” com experiência que seria colocado à frente do Labogen, um nome que não despertasse suspeitas com relação aos contratos da pasta. No dia seguinte, o petista diz ao doleiro amigo que foi Padilha quem indicou o profissional. Para a PF, “existem indícios que os envolvidos tinham grande preocupação em colocar à frente da Labogen alguém que não levantasse suspeitas das autoridades fiscalizadoras”.
Em um contato, o doleiro e o deputado comemoram a possibilidade do negócio. “Estamos mais fortes agora”, diz Vargas. “Você vai ver o quanto isso vai valer, tua independência financeira. E nossa também, é claro”, responde o doleiro. Vargas ri.
No dia 7 de março de 2014, Vargas tenta viabilizar reunião com Youssef, o empresário Pedro Paulo Leoni Ramos, o “PP” – ex-ministro do governo Fernando Collor (1990-1992) –, e o executivo supostamente recomendado por Padilha. O encontro foi marcado para dali a 3 dias.
Deputados. No dia 25 de setembro de 2013 o doleiro avisa Vargas que acabou de chegar em Brasília, acompanhado de “PP”, diretor da GPI Participações, sócia oculta do Labogen, segundo a PF. “Achei que você estivesse aqui na casa do Vaccarezza”, diz o doleiro. “Os indícios apontam que o alvo Alberto Youssef mantinha relações com o deputado federal Candido Vaccarezza”, sustenta a PF.
A citação ao deputado Vicente Cândido surgiu em diálogo de 20 de setembro de 2013, entre o doleiro e Vargas. Este cobra de Youssef informações sobre “os demais assuntos” e menciona “Vicente Cândido”.
O doleiro informa que com relação a “Vicente, nada”. E avisa Vargas que precisa “captar” – para a PF, “possivelmente referindo-se à falta de capital de giro para efetuar suas atividades”. Vargas sugere o nome de João Procópio Junqueira Pacheco de Almeida Prado, da Quality Holding Participações, controlada pelo doleiro – este diz que Prado “esteve com Vicente Candido em alguns lugares”, como São Bernardo do Campo, “mas que não andou”. Vargas responde que “vai atuar”.
A ligação entre Youssef e Vargas é rotineira. Para a PF, Vargas servia ao doleiro, a ponto certa vez até de fazer conexão de voo em São Paulo para atender a pedido de Youssef. No dia 12 de março de 2014, o doleiro diz ao deputado que “deixou os óculos de grau” na casa dele. Vargas pergunta onde Youssef está e ele responde “em São Paulo”. Para não deixar o amigo na mão, o deputado, em trânsito, pousa em São Paulo e entrega os óculos de Youssef.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com par
Estudo ‘sem desqualificar religião’ é melhor caminho para combate à intolerância Hédio Silva defende cultura afro no STF / Foto: Jade Coelho / Bahia Notícias Uma atuação preventiva e não repressiva, através da informação e educação, é a chave para o combate ao racismo e intolerância religiosa, que só em 2019 já contabiliza 13 registros na Bahia. Essa é a avaliação do advogado das Culturas Afro-Brasileiras no Supremo Tribunal Federal (STF), Hédio Silva, e da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Lívia Vaz. Para Hédio o ódio religioso tem início com a desinformação e passa por um itinerário até chegar a violência, e o poder público tem muitas maneiras de contribuir no combate à intolerância religiosa. "Estímulos [para a violência] são criados socialmente. Da mesma forma que você cria esses estímulos você pode estimular