Índia realiza eleições e tenta garantir seu futuro
Classificado por especialistas como uma 'bomba demográfica', o país multi-étnico e multi-religioso de mais de 1,2 bilhão de pessoas precisa prosperar sócia e economicamente para se manter coeso
Artista indiano vestido como a deusa hindu Kali realiza performance durante festival em Allahabad ( /AFP)
O Partido do Congresso, da dinastia formada pelas famílias Nerhu e Gandhi (nenhum parentesco com Mahatma Gandhi, herói da independência), governou a Índia por 54 dos 67 anos desde seu nascimento como nação independente. Neste pleito, no entanto, pesquisas apontam que o Partido Bharatiya Janata (BJP, na sigla em inglês), de oposição ao atual governo, está a caminho de conquistar uma estreita maioria na eleição. O BJP, liderado pelo candidato a primeiro-ministro Narendra Modi, e seus aliados devem ganhar a maior fatia dos 543 assentos parlamentares, mas aquém dos 272 assentos necessários para uma maioria. Isso poderia forçá-los a buscar uma coalizão com alguns dos cada vez mais poderosos partidos regionais da Índia. Na política indiana país há seis partidos nacionais, com atuação em todo o território, 23 regionais e 1.593 pequenos partidos com registros não reconhecidos que esperam conseguir eleger um candidato nestas eleições. Alguns partidos regionais estão ganhando muita força em suas respectivas áreas de atuação e, com isso, ganham também poder de barganha para negociar alianças com legendas nacionais.
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Apesar do prognóstico positivo para Modi, especialistas atentam que ele não deve comemorar vitória antes do dia 16 de maio – data em que serão divulgados os resultados. Modi é considerado um político nacionalista que conquistou a reputação de bom administrador após três mandatos à frente do estado de Gujarat, um dos mais prósperos da Índia. No entanto, o favorito a ser o próximo primeiro-ministro desperta temor entre as minorias religiosas por seu suposto envolvimento no massacre de quase mil muçulmanos em 2002 em Gujarat, mesmo depois de ser absolvido em diversas investigações judiciais que analisaram os crimes.
As eleições indianas são notoriamente difíceis de prever devido à diversificação do eleitorado do país e um sistema parlamentar em que os candidatos locais detêm grande influência, afirma Niranjan Sahoo, analista político da Observer Research Foundation (ORF), um think tank sediado em Nova Délhi. Ele rememora que em 2004 as pesquisas de opinião previram erroneamente a vitória da aliança liderada pelo BJP e em 2009 subestimaram a margem de vitória do Partido do Congresso. Após uma década no poder, o Partido do Congresso chega às eleições muito desgastado por casos de corrupção e pela desaceleração do crescimento econômico. Segundo as pesquisas, Rahul Gandhi, maior aposta do partido, não convence a parte jovem do eleitorado, que tem mais expectativas após uma década de elevado crescimento econômico. Rahul é filho da parlamentar Sonia Gandhi, presidente do Partido do Congresso, viúva do ex-primeiro-ministro indiano Rajiv Gandhi e nora da também ex-primeira-ministra Indira Gandhi. Nesse contexto, o opositor Modi tem cortejado os eleitores com a promessa de tirar a Índia de sua letargia econômica e com suas credenciais de ter reduzido a burocracia e atraído o investimento em seu estado.
Desafios – Os desafios imediatos para o próximo governo são quase todos domésticos, afirma Pradeep Taneja, especialista em política indiana da Universidade de Melbourne. “O próximo governo tem de trazer a inflação para baixo, reativar o crescimento econômico, acelerar a construção de obras de infraestruturas e melhorar a lei e a ordem”, disse Taneja. Para o professor, as tensões regionais com Paquistão e China não são mais a prioridade dos governantes. A região da Caxemira, na fronteira entre Índia e Paquistão, é uma zona histórica de conflitos entre hindus e muçulmanos, mas a Índia e seus vizinhos conseguiram equilibrar as relações políticas com diplomacia, incluindo acordos políticos, econômicos e, é claro, com o fato de que ambos possuem armamentos nucleares – fator de dissuasão que limita eventuais ações mais ríspidas de qualquer uma das partes.
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Além de fazer com que o país volte a crescer como há alguns anos (entre 2009 e 2011, a Índia teve, em média, alta de 8,4% do PIB, e em no último biênio, a média de crescimento foi de 4,8%), o futuro governo precisa administrar pequenas – e ruidosas – ameaças em seu próprio território. No chamado 'cinturão vermelho' da Índia, uma faixa de território no centro e no leste do país, um guerrilha maoísta luta para implantar um regime comunista. Segundo dados oficiais, esta milícia está ativa em pelo menos doze regiões da Índia, embora represente uma ameaça grave em apenas algumas delas. No último dia 12 de maio, um ataque de guerrilheiros maoístas ao estado de Chhattisgarh, no centro do país, deixou ao menos doze mortos – todos eles eram funcionários eleitorais e policiais que iriam trabalhar nas zonas de votação na região.
A maior democracia do mundo em números absolutos a cada cinco anos elege seus parlamentares de maneira relativamente pacífica. Nestas eleições, a décima economia do mundo e território de uma imensa diversidade étnica, religiosa, social e linguística tem mais uma oportunidade para se renovar e se fortalecer política e economicamente. “A Índia é um farol de esperança para todos aqueles que estão lutando pela liberdade e democracia no mundo em desenvolvimento, especialmente quando o chamado modelo chinês é visto como atraente para aqueles que estão impacientes em ter um crescimento e estabilidade a qualquer custo. Não podemos falhar”, conclui o indiano Taneja.
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