Pular para o conteúdo principal

Desabastecimento se agrava e complica estratégia do chavismo contra a crise

 
 
CARACAS - Estatísticas do Banco Central da Venezuela (BCV) reveladas ontem pelo jornal venezuelano El Universal mostram que, em um ano, a taxa de desabastecimento no país se elevou em quase 10 pontos porcentuais. Em março de 2013, 20% dos produtos tinham desaparecido das prateleiras dos mercados - no mês passado, a escassez chegou a 29,4%.

Em relação a março de 2012, a falta de bens de consumo aumentou 18,6 pontos porcentuais, ainda segundo o levantamento. Naquele mês, a taxa de escassez era de 10,8%, o índice mais baixo registrado desde 2010, ou seja, a melhor situação.
No mês passado, o desabastecimento de alimentos, especificamente, foi de 29,9% - uma pequena melhora em comparação a fevereiro, quando 33,8% dos produtos alimentícios faltaram, a maior taxa já registrada pelo BCV. "Em março do ano passado, a escassez de alimentos era de 17,7%, o que quer dizer que, em 12 meses, aumentou 9,2 pontos porcentuais", afirma o relatório. Em dois anos, ainda segundo o relatório, esse aumento foi de 16,6 pontos porcentuais.
As enormes filas nos supermercados e a escassez de produtos básicos tornaram-se comuns na Venezuela no último ano. Trabalhadores dos refeitórios que oferecem alimentos a sem-teto, por exemplo, enfrentam uma crescente dificuldade para encontrar arroz, lentilha, farinha e outros produtos necessários para o fornecimento das refeições. A população enfrenta ainda a falta de produtos como papel higiênico e insumos hospitalares.
"Passo horas por dia na fila porque só dá para conseguir uma coisa num dia, outra no outro", disse Fernanda Bolívar, de 54 anos, que há 11 trabalha no refeitório para sem-teto conhecido como "sopão" Madre Teresa de Calcutá, mantido pela Igreja Católica em um beco do centro de Caracas. "A situação ficou terrível no ano passado", afirmou.
Fernanda decidiu trabalhar no programa de alimentação depois de passar fome. Há uma década, ela faz almoço diariamente para cerca de 50 pessoas, que se sentam em mesões de concreto dentro do mal iluminado albergue, que costuma alagar na época das chuvas.
Como muitos outros consumidores venezuelanos, para conseguir os ingredientes para cozinhar, Fernanda precisa acordar às 4 horas e ir para a fila do supermercado mais próximo, onde, às vezes, passa horas na companhia de centenas de pessoas. Os números que marcam o lugar na fila são rabiscados na mão dos consumidores.
Críticas. Opositores do presidente Nicolás Maduro dizem que as filas são um constrangimento nacional e um símbolo do fracasso de uma economia socialista semelhante à da ex-União Soviética. Autoridades respondem dizendo que empresários estão deliberadamente estocando produtos como parte da "guerra econômica" contra o governo.
Chavistas defendem-se citando os programas assistenciais e a redução - pela metade - dos níveis da pobreza nos últimos 15 anos como prova de que a situação dos pobres está melhor desde que Hugo Chávez, chegou ao poder.
O governo iniciou neste mês um sistema de identificação que rastreia as compras feitas por consumidores a preços subsidiados em supermercados estatais. As autoridades dizem que a medida tem o objetivo de coibir o acúmulo de estoques por parte dos comerciantes e garantirá uma distribuição equitativa de alimentos a preços baixos para a população mais necessitada. Críticos comparam o novo sistema às cadernetas de racionamento de Cuba - o que demonstra, segundo eles, a gravidade da situação econômica venezuelana.
Caracas mantém uma rede de albergues e refeitórios chamada Missão Negra Hipólita, que funciona em parceria com entidades católicas como o Centro Madre Teresa de Calcutá, sob uma ponte no bairro San Martín. "Venho todo dia há anos, já sou da família aqui", disse o desempregado Vladimir García, de 56 anos, ao receber um prato de sopa - que tem ajudado Fernanda a organizar a fila no local. "Talvez o socialismo tenha feito muito pela Venezuela, mas nunca tivemos essas filas enormes para tudo antes. Nem essa escassez de produtos alimentícios. É uma loucura para uma nação tão rica."

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com par
Estudo ‘sem desqualificar religião’ é melhor caminho para combate à intolerância Hédio Silva defende cultura afro no STF / Foto: Jade Coelho / Bahia Notícias Uma atuação preventiva e não repressiva, através da informação e educação, é a chave para o combate ao racismo e intolerância religiosa, que só em 2019 já contabiliza 13 registros na Bahia. Essa é a avaliação do advogado das Culturas Afro-Brasileiras no Supremo Tribunal Federal (STF), Hédio Silva, e da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Lívia Vaz. Para Hédio o ódio religioso tem início com a desinformação e passa por um itinerário até chegar a violência, e o poder público tem muitas maneiras de contribuir no combate à intolerância religiosa. "Estímulos [para a violência] são criados socialmente. Da mesma forma que você cria esses estímulos você pode estimular