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Para Dilma, não cabe ao Brasil discutir o que a Venezuela deve fazer

Diante do autoritarismo galopante de Nicolás Maduro, presidente brasileira prefere destacar "efetivos ganhos reais" do país vizinho 

Nas últimas semanas, Nicolás Maduro endureceu a repressão a estudantes, opositores e imprensa como forma de assegurar sua permanência no poder. Desde o dia 12 de fevereiro, pelo menos onze pessoas já morreram, muitas delas baleadas por integrantes de milícias chavistas mobilizadas para atacar os estudantes. Diante do autoritarismo galopante do desgoverno venezuelano, o governo brasileiro manteve-se calado e ainda aceitou uma nota do Mercosul em que os protestos são definidos como “tentativas de desestabilizar a ordem democrática”.
Nesta segunda-feira, Dilma Rousseff foi questionada por jornalistas sobre a crise na Venezuela. Em uma resposta cheia de rodeios, destaca-se o trecho em que a presidente diz que “não cabe ao Brasil discutir a história da Venezuela, nem o que a Venezuela deve fazer, porque isso seria contra o que nós defendemos em termos de política externa”. A presidente ainda considerou “muito importante que se olhe sempre a Venezuela do ponto de vista também dos efetivos ganhos reais que eles conquistaram em termos de educação e de saúde”.
Augusto Nunes: 
Declaração de apoio a Maduro informa: o Mercosul começou a agir na clandestinidade
Dilma está ocupada demais com a Ucrânia para enxergar os venezuelanos abatidos a tiros
Os tais ganhos mencionados por Dilma parecem sumir diante da extensa pauta de reclamações dos cidadãos que aderem as manifestações por não ter outros meios para se expressar, uma vez que a imprensa está acuada. A oposição deu respaldo e voz aos estudantes que foram protestar pacificamente contra a insegurança, a inflação, a escassez de produtos e a prisão de colegas em manifestações. Além das mortes, também há relatos de casos de tortura. Ordens de prisão foram expedidas para coronéis aposentados e líderes da oposição, como Leopoldo López, do partido Vontade Popular, detido na última terça-feira.
Ucrânia e Paraguai – Enquanto isso, a presidente brasileira respalda Maduro, fazendo eco a uma declaração recente do venezuelano de que seu país “não é a Ucrânia” (onde a crise política levou à destituição do presidente). “Nós acreditamos que, sempre, em qualquer situação, é muito melhor o diálogo, o consenso e a construção democrática do que qualquer outro tipo de ruptura institucional (...) Com o caos vem toda a desconstrução econômica, social e política. Por isso, eu acho que, no caso da Venezuela, é distinto, não tem uma situação igual a essa que aconteceu na Ucrânia”.
Dilma ainda fez outra comparação infeliz, ao mencionar o Paraguai, que impedia a entrada da Venezuela no Mercosul, por considerar que o então governo do caudilho Hugo Chávez nada tinha a acrescentar ao bloco. O país foi punido com a suspensão do Mercosul, oficialmente em retaliação ao impeachment de Fernando Lugo, em junho de 2012, mas na realidade em um golpe de Brasil e Argentina para permitir a adesão de Caracas. O país voltou a fazer parte do bloco depois da eleição de Horacio Cartes. “Nós sempre tivemos, dentro dos órgãos latino-americanos, uma posição de dar apoio à democracia. (...) No caso do Paraguai, houve aquele momento do problema com o presidente Lugo, ele saiu. Agora foi recomposto, o Paraguai voltou ao Mercosul. Então você tem um processo de construção democrática dentro do Mercosul, e nós nunca vamos abandonar”.
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Carnaval antecipado – Maduro lançou mão nesta segunda-feira de mais um artifício para tentar enfraquecer as manifestações. Anunciou que a próxima quinta-feira, dia do aniversário do ‘Caracazo’ – levante contra o presidente Andrés Pérez, em 1989, que deixou 300 mortos – será feriado nacional. Na prática, o mandatário antecipa o Carnaval, na esperança de que os venezuelanos viajem e deixem de protestar. “Haverá Carnaval, haverá felicidade, não deixemos que nos inoculem o veneno do ódio”, disse a apoiadores concentrados perto do Palácio de Miraflores, segundo declarações publicadas pelo jornal argentino La Nación.
Apesar da manobra do presidente, opositores afirmam que não vão interromper o movimento. Nas redes sociais, uma frase chamava a população a não esmorecer: “Quatro dias de Carnaval por 365 dias de segurança”.

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