Para Dilma, não cabe ao Brasil discutir o que a Venezuela deve fazer
Diante do autoritarismo galopante de Nicolás Maduro, presidente brasileira prefere destacar "efetivos ganhos reais" do país vizinho
Nesta segunda-feira, Dilma Rousseff foi questionada por jornalistas sobre a crise na Venezuela. Em uma resposta cheia de rodeios, destaca-se o trecho em que a presidente diz que “não cabe ao Brasil discutir a história da Venezuela, nem o que a Venezuela deve fazer, porque isso seria contra o que nós defendemos em termos de política externa”. A presidente ainda considerou “muito importante que se olhe sempre a Venezuela do ponto de vista também dos efetivos ganhos reais que eles conquistaram em termos de educação e de saúde”.
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Os tais ganhos mencionados por Dilma parecem sumir diante da extensa pauta de reclamações dos cidadãos que aderem as manifestações por não ter outros meios para se expressar, uma vez que a imprensa está acuada. A oposição deu respaldo e voz aos estudantes que foram protestar pacificamente contra a insegurança, a inflação, a escassez de produtos e a prisão de colegas em manifestações. Além das mortes, também há relatos de casos de tortura. Ordens de prisão foram expedidas para coronéis aposentados e líderes da oposição, como Leopoldo López, do partido Vontade Popular, detido na última terça-feira.
Ucrânia e Paraguai – Enquanto isso, a presidente brasileira respalda Maduro, fazendo eco a uma declaração recente do venezuelano de que seu país “não é a Ucrânia” (onde a crise política levou à destituição do presidente). “Nós acreditamos que, sempre, em qualquer situação, é muito melhor o diálogo, o consenso e a construção democrática do que qualquer outro tipo de ruptura institucional (...) Com o caos vem toda a desconstrução econômica, social e política. Por isso, eu acho que, no caso da Venezuela, é distinto, não tem uma situação igual a essa que aconteceu na Ucrânia”.
Dilma ainda fez outra comparação infeliz, ao mencionar o Paraguai, que impedia a entrada da Venezuela no Mercosul, por considerar que o então governo do caudilho Hugo Chávez nada tinha a acrescentar ao bloco. O país foi punido com a suspensão do Mercosul, oficialmente em retaliação ao impeachment de Fernando Lugo, em junho de 2012, mas na realidade em um golpe de Brasil e Argentina para permitir a adesão de Caracas. O país voltou a fazer parte do bloco depois da eleição de Horacio Cartes. “Nós sempre tivemos, dentro dos órgãos latino-americanos, uma posição de dar apoio à democracia. (...) No caso do Paraguai, houve aquele momento do problema com o presidente Lugo, ele saiu. Agora foi recomposto, o Paraguai voltou ao Mercosul. Então você tem um processo de construção democrática dentro do Mercosul, e nós nunca vamos abandonar”.
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Carnaval antecipado – Maduro lançou mão nesta segunda-feira de mais um artifício para tentar enfraquecer as manifestações. Anunciou que a próxima quinta-feira, dia do aniversário do ‘Caracazo’ – levante contra o presidente Andrés Pérez, em 1989, que deixou 300 mortos – será feriado nacional. Na prática, o mandatário antecipa o Carnaval, na esperança de que os venezuelanos viajem e deixem de protestar. “Haverá Carnaval, haverá felicidade, não deixemos que nos inoculem o veneno do ódio”, disse a apoiadores concentrados perto do Palácio de Miraflores, segundo declarações publicadas pelo jornal argentino La Nación.
Apesar da manobra do presidente, opositores afirmam que não vão interromper o movimento. Nas redes sociais, uma frase chamava a população a não esmorecer: “Quatro dias de Carnaval por 365 dias de segurança”.
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