Governo argentino aceita plano de fatiamento do Clarín
Grupo de comunicação será dividido em seis empresas independentes
A presidente Cristina Kirchner exibe edição do jornal 'Clarín' durante pronunciamento. Autoridade aprovação divisão do grupo
O governo argentino aprovou nesta segunda-feira o plano apresentado pelo grupo Clarín para se adaptar à Lei de Mídia do país. O plano obrigará o gigante das comunicações e crítico feroz do governo da presidente Cristina Kirchner a dividir suas licenças de TV aberta, rádio e TV a cabo em seis unidades empresariais independentes.
O conglomerado terá um prazo de 30 dias para apresentar os nomes dos novos controladores para análise da Afsca, órgão que regula a imprensa na Argentina. As seis unidades poderão ser vendidas ou divididas entre os acionistas. Caso os nomes sejam aprovados, o processo de fatiamento do grupo deve ser completado em até seis meses. Leia também: Atolada em crise econômica, Cristina Kirchner tenta ganhar com o futebol Seis bizarrices que só acontecem na economia argentina Após crise cambial, reajuste de preços ameaça Argentina
Depois da aprovação, o presidente da Afsca, Martín Sabbatella, disse que estava satisfeito por conseguir que “todos os grupos de imprensa, mesmo o mais poderoso e prejudicial para a democracia, tenha se rendido ao império da lei”. “Teremos um panorama de serviços audiovisuais muito mais plural, mais democrático, com mais liberdade, sem que nenhum patrão imponha condições e agenda aos outros meios”, acrescentou.
O discurso de Sabbatella tenta encobrir o real propósito da lei aprovada no Congresso em 2009, limitando a atuação dos grupos de comunicação privados ao mesmo tempo em que permite o domínio estatal do setor. Atualmente, a maioria dos canais de rádio e televisão argentinos já responde direta ou indiretamente à Casa Rosada.
Em nota, o grupo Clarín disse que as declarações do presidente da Afsca “não fazem mais do que confirmar sua falta de imparcialidade e sua intolerância com os poucos meios que o poder político não controla”. Para o conglomerado, as palavras de Sabbatella “ratificam que a intenção oficial da Lei de Mídia foi a desarticulação das escassas vozes independentes que subsistem no mundo audiovisual”. Em VEJA:Jorge Lanata: Uma voz contra Cristina Kirchner
O plano de adequação foi apresentado em novembro do ano passado, depois que a Suprema Corte declarou a constitucionalidade da lei, encerrando uma longa queda de braço travada pelo Clarín contra o governo na justiça. Em matéria publicada nesta segunda-feira, depois da aprovação, o jornal Clarín afirma que a celeridade da Afsca em tramitar a proposta do grupo chama a atenção, uma vez que outros três grupos de imprensa, que apresentaram suas propostas em dezembro de 2012, ainda aguardam parecer do órgão (que tem cinco kirchneristas entre seus sete diretores). “É que o objetivo do governo é fazer uma aplicação seletiva da lei, para beneficiar os que se alinharam com o relato oficial e castigar os que são críticos da gestão governamental”. Em VEJA:O pouco que ainda resta de imprensa independente pode desaparecer
Segundo o plano aprovado, a primeira das seis fatias vai incluir canais de TV – entre eles o Canal 13 de Buenos Aires, que transmite o programa Periodismo para Todos, o que mais denuncia a corrupção na Argentina – e frequências de radio AM e FM, além de canais de TV a cabo. A segunda, a terceira e quarta empresas vão concentrar licenças de canais a cabo - ao todo, o grupo possui mais de 150 licenças de canais. Já a quinta vai agrupar mais licenças de rádios. Por fim, a sexta empresa vai incluir a participação em canais abertos das cidades Bahía Blanca e Mendoza.
As loucuras de Cristina Kirchner
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Questão das Malvinas e briga com a Grã-Bretanha
Cristina em cerimônia do 30º aniversário da Guerra das Malvinas
As Malvinas tornaram-se uma das questões centrais para Cristina Kirchner a partir do aniversário de 30 anos da Guerra iniciada em 1982. Para muitos, questionar a soberania sobre o arquipélago administrado pela Grã-Bretanha desde 1833 é uma forma de desviar a atenção para problemas mais graves do país.
Em março, os kelpers, como são chamados os habitantes das ilhas, aprovaram em referendo a manutenção do status de território ultramarino britânico. A derrota não enfraqueceu o ânimo da presidente argentina, que volta e meia aborda o tema. Muitas vezes em condições totalmente impróprias, como em seu primeiro encontro com o papa Francisco. Oportunista, ela pediu que o pontífice intermediasse um diálogo sobre a questão – tentando arrastá-lo para um tema político que não está em sua esfera de atuação.
Depois do referendo, o primeiro-ministro britânico, David Cameron, reforçou pedido para que a Argentina respeite o desejo dos kelpers. Ignorando o resultado da consulta popular, o chanceler Héctor Timerman dá sequência à cruzada argentina reclamando a soberania na ONU.
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Cristina em cerimônia do 30º aniversário da Guerra das Malvinas
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Manipulação de estatísticas
FMI criticou divulgação de dados não confiáveis
O governo lança mão do ilusionismo econômico para divulgar dados oficiais como o da inflação anual de 10,9%, bem distante da estimativa de mercado de que o índice fechou 2013 em 30%, corroendo o dinheiro dos argentinos. O preço da cesta básica, a projeção de crescimento econômico, os índices de pobreza, as reservas internacionais também são números que fazem parte do universo paralelo das estatísticas oficiais, que não resistem ao serem confrontadas com os dados divulgados por consultorias independentes.
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Alteração de dados históricos
Morto em 2010, o marido de Cristina, Néstor Kirchner, ganhou destaque na história
Josef Stálin mandou reescrever livros e apagar rostos de desafetos de fotos oficiais. Na Argentina, Cristina Kirchner oficializou a falsificação de fatos e biografias de personalidades históricas do país. Quem teve ideias liberais ficou diminuído.
Seu desgoverno criou um instituto com o objetivo de "estudar, investigar e difundir a vida e a obra de personalidades e circunstâncias que não tenham recebido o reconhecimento adequado no âmbito institucional e de caráter acadêmico". Na prática, dar destaque a personagens como Evita Perón, José San Martín e, claro, seu marido Néstor Kirchner, morto em 2010.
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Restrição do dólar
Sob Cristina Kirchner, ter dólar na Argentina tornou-se um ato impatriótico. A presidente argentina impôs restrição à compra da moeda americana em meio a panelaços promovidos pela população descontente com a medida e preocupada com suas economias. Os argentinos costumam se refugiar na moeda americana para realizar certas transações financeiras como a compra de imóveis – agora só permitida em pesos, levando a uma queda no valor das propriedades.
O governo alega que o objetivo da medida é manter o nível de reservas para que o país possa honrar seus compromissos externos. Só pode comprar moeda estrangeira quem tiver autorização da burocracia estatal. A proibição foi a tal ponto que a polícia chegou a colocar cães farejadores nos aeroportos atrás de dólares.
Além de depender da boa vontade do estado para poder viajar, os argentinos têm menos opções de consumo, com a restrição às importações. Além do temor de perder o emprego, com a queda da atividade econômica. Saiba mais: Seis bizarrices que só acontecem na economia argentina
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Guerra com a imprensa
Cristina Kirchner exibe edição do jornal Clarín durante pronunciamento
A Lei de Mídia, aprovada em 2009, limita o número de licenças de rádio e televisão a que cada conglomerado de comunicação tem direito. O argumento do governo é que a medida evita monopólios. Mas, na verdade, a ideia é neutralizar a imprensa opositora, ao redistribuir licenças para grupos de comunicação amigos - em uma estatização disfarçada.
O grupo Clarín, opositor declarado do governo de Cristina Kirchner, foi o único a questionar judicialmente a lei, e chegou a conseguir que alguns artigos fossem suspensos. No entanto, a Suprema Corte do país declarou a constitucionalidade dos quatro artigos que eram contestados pelo grupo de comunicação.
Cristina Kirchner não perdeu tempo. Menos de 72 horas após a validação da lei, um funcionário federal compareceu à sede do grupo Clarín para notificar os proprietários sobre a necessidade de se adequar aos termos da medida. Os maiores prejudicados serão os cidadãos argentinos. Hoje, mais de 80% dos canais de rádio e televisão nacionais já respondem direta ou indiretamente à Casa Rosada.
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O diabetes e os "ricos"
O diabetes é “uma doença de pessoas ricas, porque elas são sedentárias e comem muito”. A definição no mínimo equivocada foi dada pela presidente durante evento na Casa Rosada para o lançamento do Plano Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação.
A declaração, obviamente, foi alvo de uma enxurrada de críticas. Uma delas veio do secretário de Saúde de Santa Fe, Miguel Angel Cappiello, para quem a presidente não foi assessorada sobre o assunto. “O diabetes é uma doença de todas as pessoas, sobretudo daquelas que se alimentam mal. Alguém com alto poder aquisitivo pode comer bem e fazer atividade física”.
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Briga com proprietários de terras
Conflito marcou uma das piores crises do governo de Cristina
O primeiro mandato da presidente foi abalado logo no início por uma série de manifestações de produtores rurais, responsáveis por 60% das exportações do país. Indiferente à importância do setor para a economia, ela colocou em marcha uma política de aumento de impostos sobre exportações que causou grande descontentamento. Depois de meses de embates, o governo tentou legitimar um aumento de imposto sobre as exportações de grãos – definido por decreto – com a aprovação pelo Congresso. Só que a proposta foi rejeitada, com direito a voto de minerva do então vice-presidente de Cristina, Julio Cobos, que também era presidente do Senado. Previsivelmente, os dois romperam depois do episódio.
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Discursos longos e em horários inoportunos
Um pronunciamento em 2012 demorou mais de três horas
A legislação da Argentina prevê que o presidente em exercício tem o direito de interromper a programação televisiva para discursar em caso de situações graves ou excepcionais, mas Cristina Kirchner abusa da prerrogativa. E para falar sobre os programas de seu governo.
Em uma de suas muitas intervenções, ela falou por mais de uma hora em horário nobre, impedindo que os argentinos assistissem a programas de sucesso. Em outra ocasião, passou mais de três horas em frente às câmeras, testando a paciência dos telespectadores.
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A 'bola murcha' no futebol
Cristina Kirchner chuta uma bola durante a inauguração de estádio em Buenos Aires O uso político do futebol não é algo novo entre governos populistas, mas poucos chefes de Estado chegaram ao grau de interferência alcançado por Cristina Kirchner, a dona da bola no futebol argentino. Imagine ficar refém de uma única equipe de narradores e comentaristas, que inserem nas jogadas palavras de exaltação ao governo, a ponto de existir uma figura conhecida como ‘locutor militante’. Pois é o que os torcedores de Lionel Messi enfrentam para assistir aos principais jogos no país.
O governo também comprou os direitos de transmissão dos jogos da Copa do Mundo, em mais um golpe populista para garantir audiência para as propagandas oficiais. Afinal, amantes do futebol, o público argentino acompanha em massa os torneios mundiais. Todas as partidas televisionadas pelas redes estatais têm publicidade oficial antes, durante e depois dos jogos. E essa máquina de autoelogios custa caro. Em 2014, o orçamento argentino reservou 1,45 bilhão de reais para publicidade, sendo que quase um terço disso – 428 milhões de reais – será gasto apenas com as transmissões de futebol.
As bizarrices da economia argentina
O governo de Cristina Kirchner, entre outras coisas, é conhecido pelas características peculiares da economia. A Argentina vive até os dias de hoje algumas das realidades enfrentadas por países latino-americanos nas décadas de 1980 e 1990, como controle de preços e inflação alta. As medidas adotadas pelo governo - como restrições cambiai - provocam ainda mais distorções. Conheça seis bizarrices típicas da economia argentina:
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