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Oposição rechaça chamado de Maduro para diálogo

Ex-candidato presidencial, governador Henrique Capriles diz que Maduro só quer 'apertar a mão de opositores para falar que está tudo bem'

Diego Braga Norte, de Caracas
O opositor venezuelano Henrique Caprilles em uma entrevista coletiva na capital Caracas
O opositor venezuelano Henrique Caprilles em uma entrevista coletiva na capital Caracas (Diego Braga Norte/Veja.com)
O governador de Miranda e um dos líderes da oposição na Venezuela Henrique Capriles afirmou nesta segunda-feira que o Palácio de Miraflores, sede do Poder Executivo, "infelizmente não é hoje um espaço para o diálogo”. "Em uma situação de violação de direitos humanos e repressão, não podemos ir a Miraflores", disse, em entrevista coletiva. Para ele, ao falar em diálogo, o presidente Nicolás Maduro só quer “tirar fotos apertando a mão de políticos opositores para depois mostrar ao mundo que está tudo bem".
Nesta segunda, uma reunião ordinária do Conselho Federal de Governo, instância administrativa que incluiu autoridades centrais e governadores de Estado, ocorreu sem a presença de Capriles. Foi num encontro desse grupo realizado em janeiro que fotógrafos registraram um aperto de mãos entre o governador e o presidente. Se a imagem indicava alguma pequena possibilidade de união de forças em prol da população, a situação degringolou muito desde então. Naquele momento, a reunião especial foi convocada para debater propostas contra a alta criminalidade no país. Um mês depois, estudantes foram às ruas contra a insegurança e acabaram sendo reprimidos por milícias e pelas forças do governo. O número oficial de mortos já chega a treze, além de mais de 600 detidos, segundo números extraoficiais, sendo que cerca de 240 permanecem presos sem acusação formal. Maduro anunciou ainda uma 'conferência de paz', para esta quarta, que também deverá ficar no vácuo.
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Ex-candidato presidencial, Capriles disse que vai seguir apoiando as manifestações por melhorias no país, mas ressaltou que condena a violência e outras ações que possam prejudicar a população. Tendo a Constituição venezuelana nas mãos, sublinhou que a oposição não “está cobrando coisas impossíveis, apenas melhorias e mais abertura para diálogo”. Também fez questão de ler artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento aprovado na Assembleia Geral das Nações Unidas de 1948, do qual a Venezuela é signatária. “Ninguém será submetido à tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante; ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado; e toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa e pública por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele”.
Para o opositor, antes de tudo, o governo tem de abdicar da Lei Habilitante (que dá superpoderes ao presidente e lhe permite atropelar o Congresso), libertar os presos políticos, desarmar as milícias, cessar a repressão e parar de criminalizar as manifestações. Sobre a teoria do presidente Nicolás Maduro, que segue afirmando que as manifestações são orquestradas por fascistas que querem dar um golpe de Estado, Capriles afirmou que no dicionário de espanhol, “o verbete fascismo é quase a descrição fidedigna dos atos do governo de Maduro, que prende sem razão, tortura, mata, cala a imprensa e governa sem o Congresso”. (Continue lendo o texto) 
Economia em crise – Para Capriles, a maior fonte de descontentamento da população é a aguda crise econômica, com inflação fora de controle e, principalmente, escassez de produtos básicos nas fileiras dos supermercados. “Estamos na rota de um debacle econômico e algo precisa ser feito”, disse Capriles. A reportagem de VEJA testemunhou, no centro de Caracas, filas para entrar em alguns supermercados, que operavam com forte esquema de segurança para conter tumultos e vendiam produtos limitados por pessoa. Na Venezuela, em muitas localidades, há falta de leite, margarina, papel higiênico, produtos de limpeza e outros bens de consumo.
Capriles citou que os próprios supermercados estatais, conhecidos pela sigla Pdval (Productora y Distribuidora Venezolana de Alimentos) já estão racionando produtos. Em San José, Estado no sudeste do país, há uma semana os consumidores foram obrigados a fazer um cadastro e só podem fazer uma compra semanal. Segundo o governo venezuelano, em três meses, toda a rede Pdval pode aderir ao sistema.
Longe de diálogo – Ao jornal chileno El Mercurio, a deputada opositora María Corina Machado disse que Maduro sempre fala em diálogo “quando sente a força nas ruas”. “Mas quando as vozes de protesto se calam, vem uma repressão mais feroz. Como pode falar em diálogo um governo que está torturando estudantes?”.
À agência Associated Press, a mulher de Leopoldo López, preso no último dia 18 acusado de incitação ao crime depois de dar respaldo aos manifestantes, disse que o oposicionista “acredita que esta não é a hora certa para membros da oposição sentarem-se à mesa com Maduro”. “Veja as declarações de Nicolás Maduro, cada vez que ele fala, ele nos insulta, ele fala de forma agressiva, fala com ódio”, disse Lillian Tintori, depois de convocar uma marcha de mulheres para esta quarta-feira.

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