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Próximo presidente terá o dever de entregar um país mais competitivo

Não há almoço grátis: sem 'boom' das commodities e ajuda da China, produtividade terá de avançar para que o Brasil volte a crescer

Luis Lima e Naiara Infante Bertão
Expedição Veja pelo Brasil chega na cidade de Joinville. Na foto cenas do Porto Itapoá
Infraestrutura: gargalo persiste e deverá ser atacado com mais afinco pelo próximo governo (Jonne Roriz/VEJA)
O Brasil que emergirá das eleições tem um imperativo para voltar a crescer: ganhar produtividade. Nos últimos quatro anos, o governo não conseguiu solucionar os graves problemas da economia brasileira, como a alta e complexa carga tributária, o baixo nível de infraestrutura e a falta de mão de obra qualificada. Em alguns aspectos, piorou o ambiente de negócios, lançando mão de uma política intervencionista em setores como o automotivo, de óleo e gás e elétrico. O resultado é que o país acumulou, entre 2011 e 2013, três anos de desempenho negativo no indicador de produtividade elaborado pelo The Conference Board. Para reverter esse quadro, o próximo governo, seja ele qual for, terá de implementar políticas opostas às que foram levadas adiante nos últimos anos. A chave, segundo especialistas ouvidos pelo site de VEJA, é trocar a ideologia pela meritocracia. A busca por mercados mais estratégicos comercialmente é o primeiro passo.
Abandonar o protecionismo em setores pouco competitivos vem em seguida. A missão é difícil. Em caso de vitória de Aécio Neves (PSDB), será preciso um trabalho rigoroso para detectar ineficiências e elaborar uma política de longo prazo que restabeleça a confiança do setor industrial, hoje abalada. Já Dilma Rousseff (PT) terá de fazer um exame de consciência, que poderá levar à constatação de que as medidas de proteção que marcaram seu governo provocaram o efeito rebote e levaram o país a colher baixo crescimento.
Especialistas consultados pela reportagem são categóricos: para que o Brasil dê um verdadeiro salto em produtividade, é preciso que sua indústria consiga integrar as cadeias globais de valor, ou seja, ter preço e qualidade para competir com os demais países. Tal missão só será viável se o próximo governante encampá-la como prioridade, ao lado dos avanços em saúde pública e educação. Para que isso ocorra, a taxa de investimento em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) precisa avançar. Durante o governo Dilma, o Brasil teve sua menor taxa histórica de investimento, de 18%. Em países da América Latina, como Peru, Chile e México, esse coeficiente é, em média, de 25%. Na China, é de cerca de 30%. “Não avançamos por conta do posicionamento ideológico do atual governo. Em vez de procurar mercados mais exigentes e rentáveis, houve foco no Mercosul, e foi um desastre. As exportações para a Argentina vêm caindo e a China ganha cada vez mais mercado em cima das nossas costas”, afirma Luiz Felipe D’Ávila, presidente do Centro de Liderança Pública (CLP).
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O Brasil possui problemas antigos que atravancam o desenvolvimento e ainda não foram devidamente solucionados: infraestrutura deficiente, impostos muito mais elevados que seus vizinhos e burocracia. Mas, adicionalmente, ao longo do governo Dilma, houve um distanciamento em relação ao setor empresarial, que contribuiu de forma significativa para que a indústria não prosperasse. Não que Dilma não quisesse o avanço. O plano Brasil Maior e o pacote de desonerações da folha de pagamentos estão aí para mostrar o contrário. O problema é que a concepção que o governo tem em relação a como tornar o país mais competitivo está descolada da realidade vivenciada por nações que dão o exemplo, como a Coreia do Sul. As medidas internalizaram a indústria e reduziram seu potencial de competitividade no período em que o Brasil mais precisava do setor para crescer. “É preciso que o governo reconheça a importância da indústria dentro de um projeto nacional de desenvolvimento. Não adianta a indústria ser competitiva dentro de suas fronteiras”, afirma Paulo Francini, diretor de Economia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Como resultado das medidas de proteção ao mercado, a produtividade tem contribuído menos para o crescimento econômico no Brasil do que em outros países. O indicador da OCDE que calcula a produtividade total dos fatores (PTF) mostra que o crescimento médio anual do Brasil desde o ano de 2000 foi negativo em 0,3% até 2012. No caso dos dez países mais desenvolvidos da América Latina, o mesmo período corresponde a uma alta de 0,14%. Já quando se traça uma média de sete países asiáticos, percebe-se avanço de 2,4% em produtividade. Corrobora para este cenário a dificuldade que existe para se abrir e fechar empresas no país. O indicador Doing Business, do Banco Mundial, aponta que a abertura de uma empresa brasileira exige 13 etapas e leva 119 dias. No Chile, na Colômbia e no México, é possível atingir o mesmo objetivo em apenas 14 dias.
VEJANa rabeira dos Brics

Expedição VEJA: As onze paradas da rota da competitividade
O consenso dos especialistas é de que a única forma de resgatar o país de um modelo que desestimula a concorrência externa é a implementação de políticas horizontais, ou seja, que sejam as mesmas para todos os setores. A dinâmica é exatamente oposta à que vem sendo aplicada no atual governo. Em um intento de estimular o emprego, o governo acabou forçando o consumo de bens produzidos no país em detrimento de produtos importados com preços mais competitivos. Cria-se, assim, uma cadeia de ineficiências cultivada por preços elevados. “O melhor que o governo pode fazer é criar condições adequadas para o crescimento da produtividade, em vez de tomar apostas arriscadas em indústrias específicas”, afirma Jens Arnold, economista sênior da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Caso não haja, na estratégia do próximo governante, um plano de abertura industrial eficaz e que projete o Brasil para atender às demandas globais, o país pode não apenas ser menos competitivo em relação ao exterior, mas também em relação a ele mesmo. Segundo o economista Carlos Arruda, coordenador do núcleo de Inovação da Fundação Dom Cabral, os ganhos de produtividade dos setores que conseguem avançar decorrem, em geral, de aumento de investimento e área de produção, e não da produtividade propriamente dita, que envolve inovação e tecnologia. Outra deficiência é que mesmo no caso de setores competitivos, como o agronegócio, as ineficiências que existem ao longo do caminho, até o produto chegar ao consumidor final, acabam anulando os ganhos obtidos com a inovação. “No setor agrícola, houve um ganho de produção e eficiência na produção por hectare de soja, em especial. Mas, até chegar ao consumidor, esse ganho de produção já absorveu, ao longo da cadeia, ineficiências produtivas ligadas a infraestrutura, logística, fornecedores, serviços e distribuidores”, afirma Arruda. Nesta mesma dinâmica se enquadra a Embraer, que trabalha com ganhos de produtividade, dá treinamentos periódicos a seus funcionários, busca os ganhos de eficiência, mas recebe as deficiências produtivas de seus fornecedores. “São as heranças produtivas. O problema não está só no ambiente macro e nem só no micro. Entre os dois há uma cadeia que incorpora ou tira produtividade do processo produtivo”, diz o economista.

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