Com medo de faltar água, paulistanos esvaziam galões das prateleiras
Consumidores começam a estocar água e vendas em supermercados disparam; segundo associação do setor, há estoque suficiente para abastecer a cidade
Moradores da Lapa, Zona Oeste de São Paulo (SP), relatam falta d'água nesta segunda-feira
A seca na cidade de São Paulo, o calor intenso dos últimos dias, a previsão pouco otimista para as chuvas e a falta de água em dezenas de bairros fizeram as vendas dispararem nas últimas duas semanas. "Nossa demanda dobrou e aumentou muito o número de pessoas que passaram a levar os galões de 5 ou 6,5 litros e não mais de 1,5 litro", disse ao site de VEJA o responsável pela unidade de Higienópolis do Pão de Açúcar, Edson Silvano dos Santos. Segundo funcionário, a redução dos estoques tem ocorrido em outras unidades da rede na capital. "A loja não está conseguindo atender toda da demanda. O que vem, vai logo", completou.
No mesmo supermercado, Leonice Reis Golçalvez também comprou seus 25 litros semanais. "Desde que a Sabesp está usando o volume morto, eu estou comprando água toda semana. Tenho receio de que a água da torneira não tenha a mesma qualidade de antes", afirmou. Procurada pelo site de VEJA, a Sabesp garante que a qualidade do chamado volume morto, que fica abaixo do nível de captação das represas, não tem é inferior e que a bebida é própria para consumo.
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Em Pinheiros, o quadro não é diferente. O gerente do supermercado Futurama, no Largo da Batata, Davi Oliveira, não apenas disse que as vendas aumentaram muito, como agora a loja está com problema de atraso de entrega de algumas marcas, como a Crystal, da Coca-Cola. "Antes os pedidos chegavam após 24 horas, hoje está demorando de três a quatro dias", disse. A poucos metros dali, na rua dos Pinheiros, os clientes do MiniMercado Extra já começam a perceber a subida de preços. Uma garrafa de 500 ml de água Nestlé, que antes custava 1,30 real, agora é vendida por 1,79 real. A mesma garrafa da marca Qualitá, que estava por 86 centavos há duas semanas, agora é vendida por 1,19 real. A maior procura levou o preço do galão de 6,5 litro da marca Bonafont a saltar de 6,99 para 9,79 reais nas plateleiras do Extra.Leia também:
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No hipermercado Carrefour, no Jardim Paulista, a alta procura pelos galões não só esgotou o estoque como também reduziu a oferta de garrafas de 1,5 litro. A demanda foi tanta que a loja já está há uma semana sem galões, que só devem ser repostos na segunda ou terça-feira.
Aos moradores do bairro do Butantã que costumam comprar no supermercado Padrão, na avenida Vital Brasil, as garrafas de água mineral também se tornaram escassas. Segundo o gerente Antônio Alvez Bezerra, as vendas subiram 30% desde o início de outubro, enquanto os preços aumentaram de 10% a 15%, em média, no período.
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Além do varejo, o atacado também encontra dificuldades em suprir a demanda. No Atacadista, somente na última semana, o volume de vendas de água mineral cresceu 30% em média. Segundo o diretor de marketing da rede, Gustavo Delamanha, a empresa precisou fazer um rearranjo no planejamento para não ter problemas de estoques nas lojas. "Estamos fazendo programação de entregas mais frequentes nas lojas devido à subida da demanda."
Carlos Alberto Lancia, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Água Mineral (Abinam), garante que há fontes minerais para atender o aumento de procura na capital. Ele argumenta que o setor está preparado para aumentar em 50% a produção do bem, caso seja necessário. "Temos água para abastecer 100% dos domicílios", diz. Segundo Lancia, a subida de preços não se deve ao aumento repentino da demanda, mas a questões trabalhistas. "Os preços subiram recentemente por causa de um dissídio coletivo no setor."
A professora Heloisa Zonta, moradora do bairro de Pedreira, vive ao lado de uma grande fonte hídrica - seu bairro fica às margens da Represa Billings -, mas vem enfrentando dificuldades dentro de casa. Ela passou três dias - de sexta a domingo - sem nenhuma gota. Quando recorreu à água mineral no mercado próximo de sua casa, surpreendeu-se duas vezes: a primeira quando percebeu o aviso que limitava a venda de dois galões por cliente; e a segunda, quando viu que o preço havia subido de 8 para 12 reais. Dias depois, quando voltou ao supermercado, o aviso permanecia no local, mas de nada adiantava porque já não havia mais galões disponíveis.
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