Pular para o conteúdo principal

Dilma iniciará segundo mandato ainda em dívida com Lula

Ela não se elegeu calcada na popularidade dele, como em 2010 - mas a participação do ex-presidente na campanha e a vitória apertada podem reforçar o pleito por uma participação maior de Lula no governo

 
A presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Lula
A presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) e o ex-presidente Lula 
A presidente Dilma Rousseff nunca havia disputado uma eleição quando Luiz Inácio Lula da Silva resolveu lançá-la como candidata em 2010. Baseada inteiramente na popularidade do líder petista, ela conquistou seu mandato nas urnas. Era natural que o mentor tivesse uma participação efetiva no primeiro mandato. E que, reeleita, Dilma fizesse uma gestão com menos influência do antecessor. Mas, no momento em que a presidente deveria assumir as rédeas do próprio governo de forma definitiva e adotar uma equipe e um modo de governar próprios, a vitória apertada nas urnas e a perspectiva de um segundo mandato turbulento reforçam o coro por um papel mais presente do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no governo.
Em termos de popularidade, os dois primeiros anos de Dilma à frente do governo foram tranquilos: os índices de aprovação eram elevados, comparáveis ao do próprio Lula. Mas as dificuldades de Dilma se tornaram evidentes após os protestos de junho de 2013, quando a insatisfação do eleitorado ganhou corpo. Veio o período eleitoral e a petista se viu seriamente ameaçada - primeiro por Marina Silva (PSB), depois por Aécio Neves (PSDB).
A vitória apertada deste domingo, com um placar de 51,6% contra 48,4% dos votos válidos, foi conquistada depois que Lula intensificou sua militância no segundo turno. Coube a ele a parte mais suja dos ataques a Aécio Neves. Em comícios sem a presença de Dilma Brasil afora, Lula mobilizou a militância petista e ajudou a consolidar votos para a presidente. Se a vitória se deve ao ex-presidente, é impossível medir. Mas é fato que as pesquisas mostraram uma reação de Dilma depois que ele lançou sua ofensiva.
Por isso, a presidente reeleita tem diante de si uma encruzilhada: Dilma, que fui julgada nas eleições pelos méritos e defeitos de seu governo (não mais da gestão do antecessor), possui legitimidade para conduzir o novo mandato mais ao seu modo. O que talvez faltem sejam os meios para isso, já que o capital político dela é insuficiente para levar adiante metas ousadas, como a realização da reforma política.
O presidente do PT, Rui Falcão, defendeu nesta segunda-feira que Lula seja candidato em 2018. O ex-presidente, que poucas vezes dá declarações assertivas à imprensa sobre seu futuro político, só não será candidato nas próximas eleições se não quiser - e, até agora, ele nunca descartou a opção. Se ele concorrer ao terceiro mandato, deve sinalizar isso já em 2017, no terceiro ano de mandato de Dilma. Naturalmente, isso também influenciaria o governo da petista.
Falcão também já afirmou que, no segundo mandato de Dilma, o ex-presidente terá mais participação. Ele parece verbalizar um sentimento bastante difundido dentro da legenda: o de que, por seu papel na eleição e na reeleição de Dilma, Lula tem direito a um pedaço do governo. Neste domingo, logo após a vitória nas urnas, o ex-ministro Gilberto Carvalho, ligado a Lula, afirmou: "É um milagre nós termos ganho essa eleição com todos esses golpes que nós sofremos nos últimos dias".

A perspectiva é de um início difícil para o governo de Dilma: sem lua de mel com a opinião pública, com uma base parlamentar mais reduzida do que a do primeiro mandato, em meio às investigações sobre o petrolão e à deterioração do cenário econômico. No segundo mandato, a presidente terá entre seus auxiliares mais próximos o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, o ministro da Casa Civil, Aloízio Mercadante e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto. Mas, pouco hábil no trato com o Congresso e os movimentos sociais, Dilma terá de contar com o reforço do PT e, claro, de Lula.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com par
Estudo ‘sem desqualificar religião’ é melhor caminho para combate à intolerância Hédio Silva defende cultura afro no STF / Foto: Jade Coelho / Bahia Notícias Uma atuação preventiva e não repressiva, através da informação e educação, é a chave para o combate ao racismo e intolerância religiosa, que só em 2019 já contabiliza 13 registros na Bahia. Essa é a avaliação do advogado das Culturas Afro-Brasileiras no Supremo Tribunal Federal (STF), Hédio Silva, e da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Lívia Vaz. Para Hédio o ódio religioso tem início com a desinformação e passa por um itinerário até chegar a violência, e o poder público tem muitas maneiras de contribuir no combate à intolerância religiosa. "Estímulos [para a violência] são criados socialmente. Da mesma forma que você cria esses estímulos você pode estimular