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Em discurso pós-eleições, Mantega consegue desanimar ainda mais o mercado

Em sua primeira entrevista coletiva após a reeleição de Dilma, ministro diz que resultado eleitoral mostra a aprovação de suas políticas

O ministro Guido Mantega (Fazenda) concede entrevista coletiva no gabinete do Ministério, para falar sobre as perspectivas para o novo governo da presidente Dilma Rousseff, nesta segunda-feira (27)
O ministro Guido Mantega (Fazenda) concede entrevista coletiva no gabinete do Ministério, para falar sobre as perspectivas para o novo governo da presidente Dilma Rousseff, nesta segunda-feira (27) 
A segunda-feira começou com o furor já esperado na bolsa de valores, com o dólar disparando — chegou a 2,58 reais — e o Ibovespa em queda de mais de 2%, depois de recuar 6,2% na abertura do pregão. Petrobras recua 14%. Investidores digerem a vitória da presidente Dilma Rousseff e aguardam uma sinalização de que as políticas que levaram o Brasil ao cenário recessivo serão, ao menos, reavaliadas. Enquanto ela não vem, as incertezas persistem tanto no mercado financeiro quanto no setor produtivo. Prestes a deixar o Ministério da Fazenda, Guido Mantega deu sua primeira entrevista pós-eleições, nesta segunda-feira. Não que se esperasse grandes declarações do ministro demissionário. Mas a lógica prevê que, diante da dura reação do mercado em relação ao Brasil, o ministro tivesse a sensatez de acalmar os ânimos. Contudo, conseguiu o impensável: piorar tudo. Disse que o resultado das urnas mostra que a população aprova as políticas que estão sendo praticadas e que a volatilidade da bolsa nada tem a ver com o processo eleitoral.
Diz o ministro: "Isso (o resultado das urnas) mostra que a população está aprovando as políticas que estamos praticando. Hoje, todas as bolsas estão caindo. Vocês não vão me dizer que é pelo processo eleitoral no Brasil", disse. "Como está tendo queda de commodities no mundo, afeta as ações brasileiras. As eleições também afetam a bolsa. Causam volatilidade de todo tipo. Com o fim da eleição esse cenário tende a amainar", defendeu.
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Diante de um país completamente rachado, o ministro poderia reconhecer, ainda que de forma não tão escancarada, a possibilidade de ouvir os anseios da outra metade do Brasil que não aprovou o governo Dilma. Mas Mantega prosseguiu, afirmando que as reações negativas são porque os pessimistas "ficaram mais pessimistas". "Terminada a eleição, esse cenário tende a se acalmar. Já há uma volta do otimismo da economia", disse.
Levantando um ponto sensível durante o pleito, a independência do Banco Central, Mantega disse que não faz sentido encaminhar projeto de autonomia do órgão ao Congresso. Depois de tal introdução, afirmou que o governo vai reforçar "o lado fiscal" e "manter a inflação controlada". "Já temos perspectiva para 2015 de um resultado fiscal mais forte. Vamos continuar nos esforçando para aumentar a transparência da execução fiscal. Isso tem avançado bastante", afirmou.
Ao final, depois de proferir um discurso que dá um golpe de misericórdia na credibilidade de sua gestão, o ministro disse que seu pronunciamento teve o objetivo de "confirmar os compromissos do governo brasileiro". "Temos compromisso de fortalecer os fundamentos da economia brasileira. Isso é fundamental e prioritário na nossa economia. Significa manter bom resultado fiscal para que a dívida pública fique sob controle", afirmou, acrescentando que isso é uma prioridade para os próximos quatro anos. Ao longo da gestão do ministro, houve retrocesso na transparência dos dados fiscais e sua demissão chegou a ser sugerida por veículos de comunicação internacionais, como Financial Times e a revista The Economist.
Vale ressaltar, porém, que o setor público consolidado (composto por Governo Central, Estados, municípios e estatais, com exceção da Petrobras e Eletrobras) apresentou déficit primário de 14,460 bilhões de reais em agosto, o pior resultado desde dezembro de 2008 e o quarto resultado negativo consecutivo. No acumulado do ano, o montante economizado para pagar os juros da dívida pública, somou apenas 10,205 bilhões de reais, contra 54,013 bilhões de reais em igual período de 2013. A meta do ano todo para o setor público consolidado é de 99 bilhões de reais, ou 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB).
Economistas já alertam que, de novo, o governo terá de usar abatimentos controversos - contabilidade criativa - para ajudar na meta. O Tesouro também chegou a atrasar por meses os repasses a bancos referentes aos benefícios de programas sociais, o que ajudou a inflar superficialmente as contas públicas.
No caso da inflação, ela se mantém acima do teto da meta desde setembro, depois de passar o ano próxima do teto de 6,5%.
Novo ministro — Questionado sobre sua sucessão, Mantega não quis responder. Disse que a pergunta deveria ser direcionada para a presidente Dilma Rousseff. "Não cabe a mim falar em nome de ministros neste momento", afirmou. Segundo ele, a entrevista desta segunda-feira foi convocada para falar de propostas. "Nós temos muitas coisas para fazer até o fim do ano, uma série de estímulos foram feitos e outros devem vir. Temos dois meses pela frente de trabalho intenso, até terminar o ano, para que possamos fortalecer os fundamentos e criar as condições para que as empresas e trabalhadores se mobilizem para um novo ciclo de expansão."
(com Reuters e Estadão Conteúdo)

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