Rebeldes sírios abrem rota que acelera envio de armas da Turquia para Alepo
Deserções teriam abalado poder do Exército do presidente Bashar Assad
PROVÍNCIA DE ALEPO, SÍRIA - Durante quase uma semana, as Forças
Armadas de Bashar Assad prepararam o que prometia ser um ataque fulminante sobre
os rebeldes de Alepo, no norte da Síria. Três dias depois do início da ofensiva,
os insurgentes resistem e abrem no noroeste do país um território livre da
ditadura de 41 anos. Na Província de Alepo, o domínio dos ativistas tornou-se
ainda mais amplo com a conquista de uma rota ligando a capital econômica do país
à Turquia, de onde recebem armas.
Rebelde sírio ao lado de caminhão do regime
destruído
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Principal diplomata sírio deserta em Londres
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O Estado circulou nos últimos dias por vilarejos
situados ao norte da Província de Alepo, e a constatação em todos é a mesma: as
Forças Armadas não estão mais no poder. Do norte da capital regional até a
fronteira com a Turquia, incluindo os postos de imigração, a Síria é um campo
abandonado, em que os rebeldes exercem a autoridade perdida pelo regime. Por
caminhos de terra e rotas vicinais, os insurgentes também vêm transportando
víveres, combustível e armamento, o que por ora lhes está garantindo a
resistência na cidade de Alepo.
O sinal mais claro dessa hegemonia foi a tomada nesta segunda-feira,
30, de um posto de controle do Exército em Anadan, cinco quilômetros ao noroeste
da cidade. Os combates pelo ponto teriam durado cinco horas, de acordo com o
general Ferzat Abdelnasser, um dos coordenadores da rebelião na região.
O posto de controle é considerado estratégico por estar em uma
rodovia que liga Alepo à fronteira com a Turquia, em um trajeto de 45
quilômetros. Com isso, os insurgentes podem passar a receber mais armas de seus
atuais fornecedores, a Arábia Saudita e o Catar, além de equipamentos de
comunicação da França, da Grã-Bretanha e dos EUA.
Além de Anadan, os vilarejos de Gayan e Kandab al-Jabal vêm sendo
bombardeados e assediados com rajadas de metralhadoras a partir de helicópteros
nas últimas horas, conforme a ONG oposicionista Observatório Sírio de Direitos
Humanos (OSDH). Também houve combates na cidade de Saraquin e nos vilarejos de
Al-Mastouma e Feilun, na província vizinha de Idlib, a oeste de Alepo, onde o
controle também é disputado entre rebeldes e forças do regime.
Na maior parte dessa região, o controle insurgente é irrestrito. Há
vilarejos em que o poder ainda está dividido, e onde shabihas – ou "fantasmas",
as milícias de mercenários pró-Assad – e agentes de inteligência leais ao regime
ainda não foram capturados. Mas esses casos se tornam cada vez mais as exceções.
No percurso de 37 quilômetros entre a cidade de Alepo e Marea,
militares chegam a estar enclausurados na chamada Escola de Rangers, impotentes.
"Esperávamos encontrar uma grande resistência, mas a adesão das pessoas foi
muito grande", disse ao Estado Abdulnasser Khatib, 40 anos,
líder de uma "katiba" – um grupo rebelde da região. "Nosso plano era ter
assumido o controle de algumas áreas nos últimos seis ou sete dias. O que
fizemos foi tomar quase toda a província e assumir o controle de 60% da cidade,
além de resistir ao Exército", surpreende-se.
Segundo chefes militares rebeldes com os quais a reportagem teve
contato enquanto esteve na Síria, as chances de que a destruição ocorrida em
Deraa e Homs ocorra agora em Alepo são menores, pois o Exército teria perdido
grande parte de seu poder – o que explicaria as dificuldades das forças de Assad
no início da atual ofensiva sobre a cidade.
Deserções
Uma das possíveis razões para a consolidação – ao menos temporária –
dos rebeldes no norte da Síria são as centenas de deserções no Exército. Além de
generais, como Manaf Tlass, ex-amigo íntimo de Assad, os rebeldes têm assediado
soldados comuns a trocar de lado. Há vários meses, eles se valem de militares
insatisfeitos, mas ainda em suas posições, para convencer dezenas de outros a
renunciar à violência contra a população civil.
Taha Ahmad, 31 anos, médico veterinário e militar, é um exemplo.
Durante mais de um ano, ele atuou em favor dos rebeldes no interior do Exército.
"Comecei a me conscientizar sobre os massacres cometidos pelo regime e pelos
shabiha, até o momento em que não aguentei", diz ele. No intervalo de alguns
meses, convenceu 23 soldados a aderir à rebelião e agora todos pegam em armas
contra o regime. "Os soldados não sabem ao certo o que se passa no país, e só os
comandantes têm a noção clara de tudo", diz o ativista. "Muitos tinham medo da
reação do Exército, mas agora perceberam que a revolução é possível."
Nesta segunda, Khaled al-Ayoubi, o principal diplomata sírio em Londres abandonou o posto, afirmando que não pode mais representar o regime Assad por causa dos atos violentos, informou o Ministério de Relações Exteriores britânico.
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