Assad tenta conter avanço rebelde com bombardeio em Alepo
Insurgentes tomam parte histórica e se aproximam do centro da cidade, o centro econômico da Síria
ANTAKYA, TURQUIA - Intensos bombardeios do regime de Bashar Assad,
que teriam envolvido aviões de caça, não impediram que os rebeldes ganhassem
terreno em Alepo, segunda cidade e capital econômica da Síria, nesta
terça-feira, 24. Dois helicópteros e dois tanques foram destruídos nas
imediações do centro, onde um quartel-general rebelde foi montado em uma escola.
Em Damasco, a situação é inversa, com as tropas de Assad retomando o controle.
Obeida Al Naimi/Reuters
Morador observa carro perfurado por balas
em Alepo
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A intensificação do conflito foi testemunhada por repórteres dos
jornais Le Monde e Le Figaro, da França, e da rede de TV britânica BBC, que
estão no centro histórico ou na periferia de Alepo. Eles relatam que três
blindados T-55 e caminhões BMP de transporte de tropas entraram na metrópole
trazendo reforços para tentar recuperar bairros sob controle insurgente, como
Salaheddine, Bab al-Hadid, Soukkari, Hanano e Sakhour, sempre com o apoio de
helicópteros. Há testemunhos de que duas dessas aeronaves foram derrubadas ontem
pelos rebeldes, que destruíram ainda dois tanques e tomaram um terceiro.
De acordo com a BBC, ataques aéreos com caças também foram lançados
pelo regime contra núcleos rebeldes. O Estado conversou por Skype com um
ativista em Alepo. "A situação evolui rapidamente e o Exército Sírio Livre (ESL)
está chegando ao centro, mas ninguém consegue mesmo ter uma visão do que está
acontecendo em toda a cidade", disse ele.
Os confrontos na estratégica região noroeste da Síria intensificam-se
a cada dia, em meio à contraofensiva das forças leais a Assad e ao avanço dos
rebeldes sobre Alepo. Os insurgentes já controlaram regiões nas imediações do
centro da cidade, segundo moradores. Em Damasco, a situação é oposta.
Há dois dias, as tropas de Assad vêm recuperando o controle de
bairros que estiveram nas mãos dos insurgentes na semana passada. Duas dessas
regiões, Qadam e Aassali, teriam concentrado as operações ontem. Nos últimos
dias, os bairros de Mazzeh, Barzeh e Midan já haviam sido recuperados pelas
tropas leais a Assad.
O jornal Al-Watan (A Nação), pró-regime, publicou como manchete "A
vida é retomada em Damasco". As informações são confirmadas pela ONG de oposição
Observatório Sírio de Direitos Humanos, que tem sede em Londres.
Também houve registros de combates em Deraa, no sul, e em Homs,
cidades arrasadas nos 17 meses de repressão. Em todo o país, 80 pessoas morreram
ontem, entre civis, rebeldes e militares, segundo a organização.
Com o aumento dos combates, a ameaça síria de uso de armas químicas
contra uma intervenção estrangeira, feita na segunda-feira, ainda repercute.
Ontem foi a vez do chanceler da Rússia, Sergei Lavrov, advertir seu aliado sírio
a não se valer de armas de destruição em massa. "Queremos sublinhar que a Síria
ratificou em 1968 o protocolo de Genebra de 1925 que proíbe o uso de gáses
asfixiantes, venenosos ou de outros tipos", afirmou.
Turcos
Na região da fronteira com a Turquia, parte da população reprova o
apoio explícito de Ancara e a transferência de armas à insurgência em luta pelo
controle do nordeste da Síria.
Em Antakya, na província turca de Hatay, o acesso aos campos de
refugiados sírios, onde o Estado esteve nesta terça, foi fechado pelas Forças
Armadas e o contato com jornalistas e fotógrafos foi proibido. Na cidade, parte
da população está insatisfeita por ter seu cotidiano e economia abalados pelo
conflito no país vizinho. O transporte de mercadorias de e para Alepo, por
exemplo, foi quase paralisado.
Muçulmanos, em especial xiitas, mostram-se indignados com o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, acusado de favorecer a rebelião e permitir que seu território seja usado pela Arábia Saudita e pelo Catar para enviar armas para os rebeldes. "Erdogan está trazendo a guerra para dentro da Turquia", disse um funcionário do Aeroporto de Hatay, lamentando a crescente influência militar dos curdos na região. Shefik, jovem turco de origem síria, estudante de informática e originário de Antakya, diz não apoiar Assad, mesmo que seus primos sejam voluntários do regime na região de Alepo. "Aqui todo mundo sabe que as armas estão passando, muitas delas em ambulâncias", afirmou.
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