PF combate lavagem de dinheiro após achar R$ 113 mil com empresário ligado ao PT
Em outubro, policiais apreenderam dinheiro vivo em avião com Marcier Trombiere (ex-Ministério das Cidades) e Benedito Rodrigues de Oliveira Neto, ex-colaborador de campanhas de Dilma e Pimentel
Bené e Trombiere foram presos durante a Operação Acrônimo, deflagrada nesta sexta. A PF tinha a cumprir noventa mandados de busca e apreensão em casas de trinta pessoas e nas sedes de sessenta empresas suspeitas de lavagem de dinheiro em Brasília (DF). As investigações começaram em outubro do ano passado, mês em que a PF apreendeu 113.000 reais em um avião particular que aterrissou no Aeroporto de Brasília vindo de Belo Horizonte (MG). Na aeronave estavam os colaboradores de Pimentel. Desde outubro a PF investigava a origem do dinheiro e nesta sexta-feira, depois de monitorar mensagens e encontros, Bené e os sócios acabaram presos por associação criminosa.
"A investigação iniciou-se em 7 de outubro de 2014 em uma apreensão realizada no aeroporto de Brasília em que se contatou que três pessoas estavam transportando mais de 110 mil reais em espécie. Elas foram conduzidos até a PF, o dinheiro, apreendido e elas ouvidas e liberadas. A partir daí a investigação conseguiu provar o desvio de recursos públicos de contratos do governo federal com sobrepreço e inexecução de contratos", disse o delegado Dennis Cali.
"Foi possível estabelecer a atualidade e a permanência [na prática de crimes] dos principais envolvidos. Houve a prisão em flagrante por associação criminosa dos quatro principais envolvidos, mentores do esquema criminoso. Com os elementos colhidos hoje, é possível afirmar que eles continuam operando. Apesar dos contratos serem de 2005 para cá, com a busca foi possível comprovar que continuam operando", completou.
Bené, empresário de Brasília com negócios no governo federal, ficou conhecido na campanha eleitoral de 2010 por bancar despesas do comitê eleitoral da então candidata petista Dilma Rousseff. Sua prisão, decretada após a confirmação dos policiais de que ele continuava operando em negócios criminosos, pode respingar na campanha da petista e na gestão do atual governador de Minas Gerais Fernando Pimentel (PT). "Até o momento", disse o delegado Cali, as investigações não envolvem o governador mineiro.
A ascensão meteórica das empresas ligadas a Bené - nos dois mandados do ex-presidente Lula as empresas a Gráfica Brasil e a Dialog Eventos faturaram 214 milhões de reais - chamou a atenção dos investigadores. Na operação policial deflagrada hoje, pelo menos 30 empresas são suspeitas de usar extensivamente laranjas e se valer da confusão patrimonial para evitar serem pegas. A partir de 2005, a mesma empresa que tinha faturamento de cerca de 400.000 reais passou a movimentar até 500 milhões de reais ao ano. "Esse grupo utiliza da confusão patrimonial, da interposição de pessoas para obter os ganhos dos contratos públicos. Há confusão patrimonial e de empresas. Há lugares em que, num mesmo local e escritório, funcionam cinco, seis empresas, tudo para dificultar a responsabilização e a identificação do real proprietário dessas empresas", explicou o delegado responsável pelo caso.
Na operação, a Justiça Federal decretou o sequestro do bimotor turboélice avaliado em 2 milhões de reais. O prefixo da aeronave PR-PEG é formado pelas iniciais de familiares do principal investigado, por isso o nome da operação. O avião King Air de oito assentos fabricado pela Beech Aircraft está registrado em nome da Bridge Participações SA, uma holding com sede declarada em Brasília e capital social de 2.000 reais. Mas, segundo a PF, pertence ao empresário.
Bené é dono da Gráfica Brasil Editora e Marketing, então fornecedora da campanha de Pimentel e que já manteve contratos com diferentes órgão do governo federal. Em 2010, ele estave envolvido em um escândalo de produção de dossiês contra o então candidato à Presidência José Serra (PSDB), adversário derrotado pela presidente Dilma Rousseff.
Cerca de 400 policiais foram mobilizados para cumprir as ordens da Justiça no Distrito Federal, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Goiás. A PF investigava há oito meses a organização criminosa que tem contratos com órgão públicos federais com indícios de sobrepreço e outros que nunca foram cumpridos. Os suspeitos foram vigiados e monitorados pela PF. Os investigadores também vasculharam e examinaram dados em notebooks, smartphones e tablets apreendidos no ano passado.
As equipes deslocadas pela PF tentam apreender documentos, arquivos digitais e dinheiro para tentar esclarecer a suspeita de que os valores que circulavam nas contas dos suspeitos e das empresas ligadas aos investigados eram pagamentos dos contratos fraudados com órgãos do governo. Eles faziam depósitos e transferências fracionadas de dinheiro (técnica de smurffing) para fugir ao controle das autoridades financeiras e ocultar a origem criminosa, além de usarem laranjas.
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