E-mails mostram que Hillary sabia de ameaças contra americanos na Líbia
Mensagens enviadas para a então secretária de Estado mostram que ela contrariou alertas sobre ameaças à embaixada em Benghazi. Em 2012, um atentado matou o embaixador dos EUA no país e outros três funcionários
Chris Stevens, então um representante especial do governo de transição da Líbia, considerou em abril de 2011 que a periculosidade em Benghazi era suficiente para abortar a missão diplomática. Hillary, no entanto, rejeitou a decisão, alegando que uma partida abrupta da Líbia enviaria um sinal aos políticos que tentavam formar um governo após a operação da Otan que aniquilou a ditadura de Muamar Kadafi. "Uma retirada enviaria um significativo sinal político [ao governo de transição da Líbia] e seria interpretado como a perda de confiança dos Estados Unidos", declarou um funcionário do Departamento de Estado identificado como Timmy Davis, em mensagem encaminhada para Hillary.
O Washington Post salientou, contudo, que são poucas as mensagens que tratam diretamente do ataque terrorista ou dos eventos posteriores a ele. A grande maioria dos e-mails contém detalhes administrativos, relatórios da imprensa, esboços de rascunhos e outras informações trocadas entre Hillary e seus assessores mais próximos. Por meio de um comunicado, a atual porta-voz do Departamento de Estado, Marie Harf, afirmou que "os e-mails divulgados hoje não mudam os fatos essenciais ou o entendimento que tínhamos dos eventos anteriormente, durante, ou depois dos ataques".
A divulgação dos e-mails é importante porque pode provar se Hillary violou leis federais de registros de dados do governo ao usar uma conta de e-mail pessoal para tratar de assuntos oficiais. Ela entregou mais de 55.000 páginas de e-mails para o Departamento de Estado, em resposta a um esforço do governo para cumprir com as práticas de manutenção de registros. A lei federal estipula que cartas e e-mails escritos e recebidos por funcionários federais são registros do governo que devem ser guardados. Regulamentos da época em que Hillary serviu como secretária de Estado estabelecem que e-mails de contas pessoais, quando usados para fins oficiais, também têm de ser preservados.
Diante das acusações, a ex-primeira-dama disse que usou a conta pessoal "por conveniência". Apesar da possibilidade de ter cometido um crime, até o momento não há nenhum processo aberto contra Hillary. Nesta sexta-feira, ela disse que estava "satisfeita" com a divulgação das mensagens. "Era algo que eu havia pedido para ser feito há muito tempo", afirmou. Hillary anunciou recentemente a sua candidatura à presidência dos Estados Unidos e viu sua popularidade ser afetada pelo escândalo. Ela também enfrenta a desconfiança da opinião pública devido às recentes investigações sobre a origem de doações estrangeiras à entidade Clinton Foundation, mantida por sua família.
Crise para Obama - O atentado em Benghazi representou uma das maiores crises políticas durante o primeiro governo de Barack Obama. No final de janeiro de 2013, Hillary testemunhou no Congresso sobre a maneira como o governo reagiu ao ataque. Quando um senador republicano acusou a administração Obama de ter deliberadamente, nas primeiras manifestações públicas sobre o caso, enganado o público a respeito do que havia acontecido, Hillary deu uma resposta ríspida que foi muito aplaudida pelos democratas. "Que diferença isso faz agora?", disse ela - uma frase acompanhada de quatro tapas sobre a mesa. A diferença - bastante clara na política americana - é que um governo não tem autorização de mentir para seus eleitores.
Uma reportagem da rede ABC News, que motivou o depoimento de Hillary aos Congressistas, mostrou exatamente o que a administração fez: manipulou a informação disponível, de modo a sugerir que não havia indícios de inteligência mostrando que grupos terroristas ameaçavam o consulado - e que portanto não houvera negligência com as medidas de segurança. Um e-mail obtido pela rede de televisão mostrou que a então porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, orientou a equipe que preparava o comunicado a ser divulgado sobre o caso a retirar dele uma menção às ameaças terroristas. "Isso pode ser indevidamente usado por congressistas para atacar o Departamento por não ter dado atenção aos avisos", escreveu Victoria. Ficou explícito o objetivo de proteger o governo em meio à campanha eleitoral que reelegeria Obama.
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