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Acordo de Hawilla com a Justiça dos EUA supera US$ 151 mi e prevê venda da Traffic

Documento assinado em dezembro do ano passado detalha o acordo feito pelo empresário com a Justiça dos Estados Unidos para escapar da cadeia

O dono da Traffic, J. Hawilla
O dono da Traffic, J. Hawill.
No acordo de confissão firmado pelo empresário José Hawilla com a Justiça americana, o réu se comprometeu a pagar mais de 151 milhões de dólares (ou 473 milhões de reais) em troca da pena de prisão domiciliar. O empresário confessou ter cometido atos de extorsão, fraude e lavagem de dinheiro no esquema de pagamento de propina em contratos com patrocinadores da Fifa. O documento assinado pelo juiz Raymond Dearie, da corte de Nova York, ao qual o site de VEJA teve acesso, detalha como serão feitos esses pagamentos. O valor supera o que foi anunciado na quarta-feira porque prevê que todos os ganhos futuros de Hawilla com contratos vigentes e que foram alvo de corrupção sejam repassados às autoridades dos Estados Unidos.
A primeira parcela, no montante de 25 milhões de dólares, foi paga em 12 de dezembro do ano passado, quando Hawilla assinou o termo de confissão. Do total, 19 milhões de dólares foram transferidos por meio de um empréstimo contratado junto ao Banco ABC, e tem a empresa de Hawilla, a Traffic, como avalista. Em dezembro de 2015, o empresário terá de pagar outros 75 milhões de dólares à Justiça americana. Os 51 milhões de dólares restantes ficam para 2016. Seus filhos, Stefano e Rafael Hawilla, tentam vender os ativos da família para chegar a esse montante. Caso não consigam, a Justiça americana determina a venda da Traffic e suas subsidiárias nos Estados Unidos e Europa pelo valor base de 126 milhões de dólares. Se a família conseguir negociar a venda da empresa por valor inferior, terá de completar o montante. Caso o valor da venda seja superior aos 126 milhões, o montante extra também deve ser transferido aos Estados Unidos.
De acordo com o documento, além dos 151 milhões de dólares, Hawilla deve repassar à Justiça todos os ganhos que a Traffic obtiver com os quatro contratos investigados na operação do FBI - e que ainda estão vigentes. O órgão americano apurou pagamento de propina nos contratos feitos pela empresa com a Fifa para a Copa América Centenário, firmado em maio de 2013, a Copa de Ouro e a Liga dos Campeões (torneios na América Central), assinados em novembro de 2012 e 2013, respectivamente, e o contrato da Copa do Brasil, de agosto de 2012. Esse último inclui ainda contratos anteriores que foram incorporados por se tratarem de um mesmo evento.
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O acordo ainda prevê que, caso Hawilla não consiga honrar o pagamento dos valores, perderá os benefícios conseguidos - como a prisão domiciliar - e ainda sofrerá novas acusações criminais. Mas, se as estimativas em torno dos resultados da Traffic estiverem corretas, o empresário não deverá mudar-se para uma penitenciária tão cedo. Só no ano passado, a Traffic faturou cerca de 500 milhões de dólares. Ele ainda possui um patrimônio imobiliário avaliado em mais de 1 bilhão de reais, além de diversas concessões de rádio e TV, como a TV TEM, afiliada da Rede Globo.
O esquema - A operação deflagrada na quinta-feira teve como alvo principalmente dirigentes da América Latina. A Justiça americana indicou que parte das propinas investigadas se referiam à organização da Copa do Brasil, Copa Libertadores da América e Copa América. Os dirigentes das federações de futebol presos em Zurique são: Jeffrey Webb (presidente da Concacaf), Eduardo Li (presidente da Federação Costarriquenha), Julio Rocha (presidente da federação da Nicarágua), Costas Takkas (ex-secretário geral da federação das Ilhas Cayman), Rafael Esquivel (presidente da federação venezuelana) e Eugenio Figueiredo (ex-presidente da Conmebol).
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Os dirigentes são acusados de envolvimento em um esquema de corrupção em que delegados da Fifa e outros de organizações dependentes receberam propinas e comissões - de representantes de meios de comunicação e de empresas de marketing esportivo - que somam mais de 100 milhões de dólares, segundo o Ministério suíço. Em troca, os agentes corruptores "recebiam direitos midiáticos, de publicidade e patrocínio em torneios de futebol na América Latina".
"A acusação alega que a corrupção é desenfreada, sistêmica, e que está enraizada tanto no exterior quanto nos Estados Unidos", disse procuradora-geral da Justiça americana Loretta Lynch. A nota oficial da entidade americana informava que Hawilla, da Traffic, agência detentora de direitos de transmissão e parceira da CBF, estava diretamente envolvido no caso de suborno.
As acusações também apontam para o recebimento de propinas em troca de apoio nas eleições das sedes das Copas de 2018 e 2022. Os países escolhidos nesses anos foram Rússia e Catar.

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