Vice-presidente argentino volta a criticar juiz que o investiga por corrupção
Após prestar um depoimento de mais de nove horas, Amado Boudou sugeriu que o magistrado Ariel Lijo não tem interesse em investigar o caso a fundo
O vice-presidente argentino Amado Boudou cumprimenta simpatizantes após prestar depoimento em um tribunal (EFE)
Esta foi a primeira vez que um vice-presidente em exercício foi interrogado no país. A suspeita que pesa sobre Boudou é a compra de uma gráfica que mantinha contratos com o governo na época em que ele era ministro da Economia. A compra teria sido realizada uma empresa chamada The Old Fund, controlada por um testa de ferro de Boudou. O vice argentino nega as acusações. Pela legislação argentina, o fato de Boudou ter sido convocado para depor como acusado em uma investigação não significa necessariamente que ele será processado. A decisão do juiz sobre processar ou não Boudou ainda deve demorar alguns dias, uma vez que outras cinco audiências de oitivas com testemunhas e acusados estão previstas para esta semana.
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“Ontem foi um dia para dar explicações a todos os pontos da acusação. As respostas estavam no próprio expediente. Parece que existe uma análise muito enviesada de todas as provas do expediente”, acrescentou o vice-presidente. Segundo o jornal La Nación, Boudou diz que a das empresas que administra a gráfica Ciccone, a The Old Fund, pertence integralmente a Guillermo Reinwick, uma das testemunhas do caso e genro do proprietário da gráfica, Nicolás Ciccone.
Para Boudou, a família Ciccone montou um “teatro” com as acusações. “O juiz os colocou como querelantes em treze dias, e para tirá-los dessa posição levou mais de sessenta dias. Neste meio tempo, os Ciccone se desfizeram do expediente para armar suas demandas contra o Estado. Alguém fez com que eles passassem de acusados para testemunhas, de testemunhas a querelantes, de querelantes a vítimas e, finalmente quando a manobra foi configurada, o juiz voltou a colocá-los como acusados e os citou no processo. Vamos ver como tudo se resolve”, disse.
Suspeita-se que a ordem para Boudou desmoralizar o juiz Lijo perante o público tenha partido de um encontro com a presidente Cristina Kirchner. O vice chegou até a ameaçar o jornalista Ignacio Ortelli, do Clarín, que veiculou tal informação na última semana. “Eu te digo, Ignacio Ortelli, que você está iniciando sua carreira como jornalista. Se não quer fazer um jornalismo de baixo nível, diga quem te passou essas informações. Poderá limpar sua alma e recomeçar sua carreira de jornalista. Essa reunião não existiu”, afirmou Boudou, na ocasião.
Entenda o caso – Em julho de 2010, uma investigação de privilégio comercial conduzida pelo Fisco argentino pediu à Justiça a quebra do sigilo da gráfica Ciccone, que mantém contratos com o governo e, entre outras atividades, vende papel-moeda ao Banco Central argentino. A Justiça suspendeu o pedido três meses depois, por solicitação da própria empresa, após ter negociado um plano de pagamentos de multas com o Fisco. Uma investigação descobriu que o Ministério da Economia, pasta então ocupada por Amado Boudou, teria pressionado o Fisco a favor da empresa.
Após o episódio, a companhia foi vendida para o fundo de investimentos The Old Fund, presidida por Alejandro Vandenbroele, que é apontado como testa-de-ferro de Boudou, embora o vínculo tenha sido negado pelo vice-presidente. Amado Boudou deixou a pasta de Economia após as eleições de 2011 para ocupar a vice-presidência, mas as denúncias por seu suposto envolvimento em escândalos de corrupção ofuscaram sua carreira política e enterraram seu desejo de suceder Cristina Kirchner na presidência do país.
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