Pular para o conteúdo principal

Dilma perde terreno no Rio, capital nacional da traição

PMDB constrói pontes para manter-se no poder independentemente do resultado das urnas. Fragmentação nos Estados cria cenário pouco favorável para a reeleição da presidente

 
Em Brasília, Dilma Rousseff aguarda a chegada do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, no Palácio do Planalto
Fragmentação nos Estados cria cenário pouco favorável para a reeleição da presidente (Reuters)
Os movimentos dos partidos políticos ao longo das últimas duas semanas fazem do Rio de Janeiro o Estado mais surpreendente – e confuso – do cenário pré-eleitoral. Ninguém ousa, no momento, arriscar palpite preciso sobre o futuro das urnas fluminenses, mas há consenso sobre alguns aspectos que dizem respeito ao papel do Estado na eleição presidencial. Por subestimar a força do PMDB, a presidente Dilma Rousseff perdeu exclusividade no palanque do governador Luiz Fernando Pezão; e, certamente por enxergar que a reeleição é incerta e a corrida será muito mais disputada que a de 2010, os peemedebistas têm, desde já, estruturadas suas pontes para estar no poder em 2015, seja quem for o vencedor da disputa nacional.
No momento, tão importante quanto entender o comportamento das alianças e dos palanques – Pezão, por exemplo, terá de conjugar momentos com Dilma, Aécio Neves (PSDB) e o Pastor Everaldo (PSC) – é identificar o que motiva as coligações, e esses interesses estão, desde muito antes das convenções partidárias, às claras sobre a mesa.
Para fortalecer palanques regionais de Dilma depois do barulhento divórcio com o PMDB no Rio, a direção nacional do PT precisou impor arranjos favoráveis a candidaturas a governador do PMDB no Pará, na Amazônia, em Rondônia e na Paraíba.  Assim, não só o candidato petista a governador no Rio, Lindbergh Farias (PT), vai fazer com que partido de Dilma favoreça o palanque do adversário pessebista Eduardo Campos. De última hora, com a desistência de José Sarney (PMDB) de concorrer à reeleição, os petistas entraram na coligação para reeleição de Camilo Capiberibe (PSB), com Dora Nascimento (PT) ao Senado.
Leia mais no tema Eleições Rio 2014
Os petistas foram traídos pelo PMDB em pelo menos oito estados, sem contar o Rio – onde a traição começou com um movimento do PT. Peemedebistas devem estar em coligações com candidaturas tucanas de governadores ou senadores no Acre, na Bahia e no Ceará. Também dividirão palanque com PSB em Pernambuco e no Rio Grande do Sul. PSB e PSDB estão ainda em alianças majoritárias com o PMDB em Roraima, no Piauí e no Rio Grande do Norte, onde o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB), concorre a governador contra o atual vice-governador Robinson Faria (PSD). Faria possui apoio do PT no estado e a vaga para o Senado da coligação ficou com a deputada federal Fátima Bezerra (PT).
Professor da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), Fernando Limongi destaca que o cálculo de Dilma considerava, em 2014, repetir a polarização nacional de duas forças, como em 2010. A entrada em cena da candidatura de Eduardo Campos (PSB), a fragmentação da base aliada com a criação de novos partidos (PSD, Solidariedade, Pros, PPL e PEN) e as traições nos Estados, em especial o Rio, embaralharam a situação da presidente.
“Em 2010, era fundamental para o PT ter uma disputa bipartidária, porque Dilma era desconhecida. Os petistas tentaram manter essa estratégia para a disputa de 2014, mas a bateria perdeu ritmo com a criação de novos partidos ao mesmo tempo em que Eduardo Campos se movimentou para retirar o PSB da base do governo. E a rebelião do PMDB no Rio de Janeiro virou um complicador extra, porque a presidente ainda precisa mais de palanque estadual do que o candidato a governador necessita de um palanque nacional na campanha”, afirma Limongi.
Dilma e o PT pensavam conhecer a fundo o PMDB. Foram surpreendidos, no entanto, com a força do partido em algumas regiões. No Rio, a derrocada da popularidade de Sérgio Cabral, alvo das manifestações de 2013, levou os petistas a crer que seria simples fazer com que o partido cedesse a cabeça de chapa – e isso encorajou Lindbergh Farias a bancar sua candidatura, com apoio do ex-presidente Lula. Era esperado que, com Cabral enfraquecido, o PMDB concordasse em inverter a dobradinha, lembra a professora Marly da Silva Motta, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), especialista em história política do Rio.
“No PMDB, não dá para entrar pato novo. É o que o partido está dizendo no momento ao Eduardo Paes, que tenta dar ordem unida ao grupo. Não há chance de isso acontecer”, compara Marly.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com par
Estudo ‘sem desqualificar religião’ é melhor caminho para combate à intolerância Hédio Silva defende cultura afro no STF / Foto: Jade Coelho / Bahia Notícias Uma atuação preventiva e não repressiva, através da informação e educação, é a chave para o combate ao racismo e intolerância religiosa, que só em 2019 já contabiliza 13 registros na Bahia. Essa é a avaliação do advogado das Culturas Afro-Brasileiras no Supremo Tribunal Federal (STF), Hédio Silva, e da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Lívia Vaz. Para Hédio o ódio religioso tem início com a desinformação e passa por um itinerário até chegar a violência, e o poder público tem muitas maneiras de contribuir no combate à intolerância religiosa. "Estímulos [para a violência] são criados socialmente. Da mesma forma que você cria esses estímulos você pode estimular