Dilma perde terreno no Rio, capital nacional da traição
PMDB constrói pontes para manter-se no poder independentemente do resultado das urnas. Fragmentação nos Estados cria cenário pouco favorável para a reeleição da presidente
Fragmentação nos Estados cria cenário pouco favorável para a reeleição da presidente (Reuters)
No momento, tão importante quanto entender o comportamento das alianças e dos palanques – Pezão, por exemplo, terá de conjugar momentos com Dilma, Aécio Neves (PSDB) e o Pastor Everaldo (PSC) – é identificar o que motiva as coligações, e esses interesses estão, desde muito antes das convenções partidárias, às claras sobre a mesa.
Para fortalecer palanques regionais de Dilma depois do barulhento divórcio com o PMDB no Rio, a direção nacional do PT precisou impor arranjos favoráveis a candidaturas a governador do PMDB no Pará, na Amazônia, em Rondônia e na Paraíba. Assim, não só o candidato petista a governador no Rio, Lindbergh Farias (PT), vai fazer com que partido de Dilma favoreça o palanque do adversário pessebista Eduardo Campos. De última hora, com a desistência de José Sarney (PMDB) de concorrer à reeleição, os petistas entraram na coligação para reeleição de Camilo Capiberibe (PSB), com Dora Nascimento (PT) ao Senado.
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Os petistas foram traídos pelo PMDB em pelo menos oito estados, sem contar o Rio – onde a traição começou com um movimento do PT. Peemedebistas devem estar em coligações com candidaturas tucanas de governadores ou senadores no Acre, na Bahia e no Ceará. Também dividirão palanque com PSB em Pernambuco e no Rio Grande do Sul. PSB e PSDB estão ainda em alianças majoritárias com o PMDB em Roraima, no Piauí e no Rio Grande do Norte, onde o presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Alves (PMDB), concorre a governador contra o atual vice-governador Robinson Faria (PSD). Faria possui apoio do PT no estado e a vaga para o Senado da coligação ficou com a deputada federal Fátima Bezerra (PT).
Professor da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), Fernando Limongi destaca que o cálculo de Dilma considerava, em 2014, repetir a polarização nacional de duas forças, como em 2010. A entrada em cena da candidatura de Eduardo Campos (PSB), a fragmentação da base aliada com a criação de novos partidos (PSD, Solidariedade, Pros, PPL e PEN) e as traições nos Estados, em especial o Rio, embaralharam a situação da presidente.
“Em 2010, era fundamental para o PT ter uma disputa bipartidária, porque Dilma era desconhecida. Os petistas tentaram manter essa estratégia para a disputa de 2014, mas a bateria perdeu ritmo com a criação de novos partidos ao mesmo tempo em que Eduardo Campos se movimentou para retirar o PSB da base do governo. E a rebelião do PMDB no Rio de Janeiro virou um complicador extra, porque a presidente ainda precisa mais de palanque estadual do que o candidato a governador necessita de um palanque nacional na campanha”, afirma Limongi.
Dilma e o PT pensavam conhecer a fundo o PMDB. Foram surpreendidos, no entanto, com a força do partido em algumas regiões. No Rio, a derrocada da popularidade de Sérgio Cabral, alvo das manifestações de 2013, levou os petistas a crer que seria simples fazer com que o partido cedesse a cabeça de chapa – e isso encorajou Lindbergh Farias a bancar sua candidatura, com apoio do ex-presidente Lula. Era esperado que, com Cabral enfraquecido, o PMDB concordasse em inverter a dobradinha, lembra a professora Marly da Silva Motta, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), especialista em história política do Rio.
“No PMDB, não dá para entrar pato novo. É o que o partido está dizendo no momento ao Eduardo Paes, que tenta dar ordem unida ao grupo. Não há chance de isso acontecer”, compara Marly.
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