Petrobras (só agora) estuda romper contrato com empresa de doleiro
Em audiência no Congresso, Graça Foster afirmou que parceria com a firma investigada causa 'desconforto' para a estatal
A presidente da Petrobras, Graça Foster (AFP)
Em sua quarta audiência no Congresso Nacional desde que eclodiram as denúncias de corrupção dentro da Petrobras, Graça afirmou que tomará uma decisão sobre os contratos com a Ecoglobal até esta sexta-feira. “A comissão não identificou contato de nenhum dos nossos empregados com o ex-diretor. Porém, nós tomamos a decisão de reavaliar o contrato. Foi um contrato de mais de 400 milhões que a Ecoglobal conseguiu conosco. Ela já tinha tido, em tempos anteriores, outros quatro contratos, com boa performance. Foi feita uma avaliação e nós temos até sexta-feira para tomar a decisão com relação à continuidade ou não do contrato”, disse.
De acordo com as investigações da Operação Lava-Jato, Costa ajudou a Ecoglobal a obter um contrato de 444 milhões de reais com a Petrobras e queria comprar 75% de participação na empresa por 18 milhões de reais, associado com Youssef. O esquema do doleiro, de acordo com as apurações preliminares, chegou a movimentar 10 bilhões de reais.
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À CPI composta por deputados e senadores, Graça Foster negou conhecer qualquer movimentação fraudulenta dentro da petroleira brasileira: “O que eu sei é o que eu leio e escuto. A Petrobras não compactua com isso. A nossa força de trabalho e os nossos acionistas não merecem esse receio”, disse. “Eu não tenho elementos para dizer nada a não ser o meu constrangimento com tudo isso.” A executiva, no entanto, não justificou o motivo de manter até hoje o contrato com a empresa de Youssef.
Blindagem — A audiência da presidente da Petrobras desta quarta foi marcada pela estratégia de blindagem do relator, o petista Marco Maia (RS), para evitar perguntas da oposição. Enquanto um deputado entrou com uma pizza na sala da comissão como forma de protesto, Graça chegou a se emocionar ao defender as obras da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, cujo valor passou de 2,5 bilhões de dólares inicialmente previstos para 18,5 bilhões de dólares. O ex-diretor Paulo Roberto Costa atribui a diferença a uma “conta de padeiro” realizada na previsão da construção, feita sem projeto. “Nós não aceitamos que tenhamos feito as contas de qualquer maneira. Eu me nego a repetir essa palavra. Acho medonha em respeito à Petrobras”, disse Foster, com os olhos marejados.
Para justificar o suposto faturamento, em investigação pelo Tribunal de Contas da União e pela PF, Graça disse que o projeto de 2,5 bilhões “nunca saiu da prancheta” e que as referências de custo não foram a de uma refinaria nova, mas sim as de “expansões com custos unitários evidentemente baixos”.
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Mea culpa – Num intento de apaziguar as relações com os executivos da BR Distribuidora, Graça Foster voltou atrás de sua declaração, dada há dois meses, de que o ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró havia sido “rebaixado” ao ser retirado do cargo e realocado na diretoria financeira da BR. Cerveró foi apontado pela presidente Dilma Rousseff como autor de um parecer “falho” que levou à compra da sucateada refinaria de Pasadena, no Texas. Nesta quarta, a presidente da Petrobras disse que a declaração foi indevida “não por causa do Cerveró”, mas porque conhece “a importância da diretoria” da BR Distribuidora. “Do que eu vi o Nestor fazer, eu já citei realizações muito boas que ele teve nos Estados Unidos”, afirmou. Foster reafirmou que a aquisição da refinaria “não foi um bom negócio”, mas credita o prejuízo de mais de 1 bilhão de dólares a questões de mudança de cenário.
O depoimento de Graça inaugurou as audiências da CPI mista da Petrobras – que reúne parlamentares aliados e de oposição. No plano de trabalho aprovado na semana passada, foram convocados o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef.
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