Ex-diretor da Siemens é ‘vingativo’, diz indiciado
Teixeira nega pagamento de propina a políticos, mas afirma que relatório é mesmo de Rheinheimer
SÃO PAULO - O engenheiro Arthur Gomes Teixeira, sócio da Procint Projetos e Consultoria, afirmou nesta quarta-feira, 27, que jamais pagou propina para políticos tucanos nem de outros partidos. Ele nega ter falado de repasse de "comissões" de empresas metroferroviárias a Edson Aparecido, chefe da Casa Civil do governador Geraldo Alckmin e ao deputado Arnaldo Jardim (PPS). A acusação consta de relatório em posse da Polícia Federal de autoria do ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer.
"Isso é uma mentira, algo sem qualquer fundamento", diz Teixeira, a quem o Ministério Público atribui o papel de lobista do cartel cujo papel era intermediar o pagamento de propina a agentes públicos. "Eu jamais poderia ter comentado com ele (Rheinheimer) uma coisa que não fiz. Conheci o sr. Edson Aparecido e o deputado Jardim em eventos do setor metroferroviário, inaugurações. Nos meus negócios nem o Jardim e nem o sr. Edson tiveram qualquer tipo de influência." Teixeira, de 78 anos, afirma não ter dúvidas de que o relatório em posse da Polícia Federal é de Rheinheimer, apesar de o documento não estar assinado, e diz que o ex-diretor da Siemens é uma pessoa "um pouco irascível e visivelmente vingativa".
Abaixo, os principais trechos da entrevista exclusiva com um dos principais personagens do escândalo do cartel de trens:
O sr. é lobista?Não sou lobista nem pagador de propinas. Não é nem que não há provas contra mim, não existe é fato que autorize essas imputações. Eu tenho uma bagagem de experiência que me permite oferecer os serviços para os quais eu tenho sido contratado. Não há nenhum serviço que eu tenha executado que não tenha respaldo em contrato. Não há evidência de que eu tenha praticado ato ilícito. A Procint foi constituída há 27 anos.
A que o sr. atribui as acusações de do ex-diretor Everton Rheinheimer?Não quero me posicionar fazendo críticas a uma pessoa sobre a qual não tenho um conceito pessoalmente bom. Sempre procurei me comportar discretamente porque ele é uma pessoa um pouco irascível e visivelmente vingativa. Tenho dificuldade em interpretar (o motivo da acusação). Everton não é uma pessoa simples, tem personalidade complexa. Eu sempre tive muito cuidado em lidar com ele, exatamente por causa dessas características um pouco explosivas e com uma tendência de não ter limitações com as coisas que fala, seja verdade ou mentira, desde que aquilo fosse, naquele momento, para aliviá-lo ou se achava que poderia me causar algum impacto.
O sr. tem alguma dúvida de que o ex-diretor da Siemens seja o autor das acusações entregues à Polícia Federal?Eu não consigo entender que ele apareça com um documento e, de repente, tente negar a autoria. Esse documento se inicia com uma descrição da pessoa que o está fazendo. E só tem uma pessoa que pode assinar esse documento. Qualquer outra pessoa vai ser processada por falsidade ideológica. Não tem ninguém que possa assinar esse documento, a não ser ele. Se foi forjado, o inquérito é nulo. Toda a estrutura do documento aponta que ele é a pessoa que fez esse documento. Terá que responder pelas declarações que faz.
Como o sr. o conheceu?Durante um longo período, de 2001 a 2007, ele foi diretor de transportes da Siemens. Era, portanto, uma pessoa com quem eu tinha um contato regular já que a minha empresa e a de meu sócio (Sérgio Teixeira, morto em 2011, dono da Constech Consultoria) tinham contratos indiretamente com a Siemens. Eu tinha contrato do Sistrem (consórcio para construção de linha CPTM do Capão Redondo até o Largo 13). O Everton era um personagem do meu relacionamento por força das minhas obrigações contratuais. Meu amigo ele não é, para falar tanta mentira que me prejudique.
A carta ao ombudsman da Siemens, de 2008, é dele?A autoria daquela carta de 2008 para mim não é mais contestada. Na leitura da denúncia eu encontrei as digitais do Everton e, de um modo geral, quando o mercado tomou conhecimento do conteúdo dessa denuncia, a tendência foi sempre identificá-lo como o autor. Afora isso, um mestrando de jornalismo investigativo da universidade de Berkeley (EUA) veio ao Brasil porque optou em fazer como tese as denúncias de corrupção sobre a Siemens. Ele procurou fontes que pudessem dar suporte a essas denúncias. Foi orientado a procurar na Assembleia as dependências do PT onde supostamente seria mais fácil entrar em contato com a pessoa que fez a denúncia. Isso realmente ocorreu. Ele descreve no documento, que estava na internet, os contatos que teve e relata isso ao orientador de mestrado dele. Quando ele relata isso, recebe do orientador recomendação de que era necessário certificar a fonte. Ele busca na internet algo que identificasse o interlocutor dele (na Assembleia), encontra e relata isso, que achou numa palestra a fotografia da pessoa com quem ele esteve e essa pessoa era o diretor da Siemens para a área de transportes no Brasil. Isso ocorreu em 2010. Ele relata que essa identificação diz respeito a um evento de 3 anos antes, em 2007. Não há dúvida. Quem era realmente o diretor de transportes da Siemens era Everton.
O sr. teve algum contato com Everton Rheinheimer recentemente?Eu o encontrei num shopping. Tive com ele um encontro civilizado, onde não toquei nesse assunto. Acho que ele não é a pessoa com quem eu deva falar sobre esse tema que está hoje nas mãos das autoridades. Através dos meus advogados tenho me manifestado às autoridades porque não posso mais ficar numa posição passiva. Os autos do Cade não me apontam como uma figura ligada ao cartel. Mas o inquérito da Polícia Federal, a partir desses documentos gerados pelo sr. Everton, me envolvem. Como posso ser personagem central se no período examinado, de 1998 a 2008, eu prestei serviços de assessoria em contratos que representam em torno de 18% daquilo que foi contratado pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e pelo Metrô? Não vou mais permitir me colocarem na posição de personagem central de um episódio aonde prestei serviços regulares, contabilizados, que não envolvem o pagamento de propinas, que envolve serviços prestados. Eu tenho toda a documentação.
Mantém relacionamento com o senador Aloysio Nunes, que segundo o ex-diretor da Siemens é próximo do senhor?Conheci o senador Aloysio, realmente, quando ele ocupou as funções de secretário dos Transportes Metropolitanos, ele foi o primeiro secretário dessa pasta. Tive oportunidade de conversar com o Aloisio, exatamente para que pudesse identificar qual era o planejamento de investimentos de um setor que estava degradado, o setor da CPTM. Havia um interesse do Estado em tentar encontrar soluções para um programa de renovação da frota. Tive várias conversas com ele nessa ocasião. Quando ele deixou a Pasta passamos a nos encontrar ocasionalmente, em seminários, inaugurações. Minha intimidade é tão grande que seguramente eu não tive nenhuma conversa com o senador nos últimos 6 anos. Eu o recebi uma vez, para um jantar em minha casa, creio que em 2006. Eram uns 13 convidados com suas esposas. O senador, o Jurandir (Fernandes, secretário dos Transportes), o presidente do Metrô na época (Luiz Frayze) e o da CPTM e amigos pessoais meus. Foi um encontro social, não jantar de negócios. Nunca mais estive pessoalmente com o senador.
O que o sr. faz como consultor?Envolve varias atividades, uma que é essencial é a prospecção de negócios nas áreas de energia e metroferroviária. Isso implica no conhecimento dos planos de investimento, ou do Estado ou da União, para que a gente possa identificar projetos aonde a nossa experiência pode contribuir para que meus clientes possam ter uma participação adequada, conveniente. O que faturei é público e objeto de análise pela perícia (da PF). Ao longo desses dez anos, a Procint deve ter faturado em torno de R$ 20 milhões com serviços prestados. Recolhi todos os tributos, paguei os meus funcionários, alguns deles terceirizados, paguei as despesas operacionais, viagens e despesas de representação, almoços aqui e acolá. O restante foi remuneração própria, minha e do meu sócio, o Sérgio. Não há nenhuma relação entre consórcio e cartel. O consorcio é o agrupamento entre empresas que se reúnem para disputar um fornecimento, em geral de um sistema integrado. O cartel são combinações feitas previamente, até eventualmente entre consórcios. Pode até haver o caso em que consórcios se reúnem e se combinem entre si.
Conhece o secretário José Aníbal, também citado como pessoa próxima do senhor?Temos alguns amigos em comum. Ele nunca esteve ligado diretamente à área de transportes. Quando ele foi secretario de Tecnologia eu acho que tive um encontro com ele. Na ocasião, o Sérgio (Teixeira) tinha um cliente interessado na área de Tecnologia. Eu não tenho certeza se estava nessa conversa. Isso aconteceu provavelmente há uns 10 ou 12 anos. Depois disso eu participei, se não me engano, de um jantar, desses pré-eleitorais, a convite de um amigo, mas fora isso, nunca tive relações com o José Aníbal. A gente se encontra, ele me cumprimenta, mas eu não vejo o José Aníbal há uns cinco, seis anos.
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Abaixo, os principais trechos da entrevista exclusiva com um dos principais personagens do escândalo do cartel de trens:
O sr. é lobista?Não sou lobista nem pagador de propinas. Não é nem que não há provas contra mim, não existe é fato que autorize essas imputações. Eu tenho uma bagagem de experiência que me permite oferecer os serviços para os quais eu tenho sido contratado. Não há nenhum serviço que eu tenha executado que não tenha respaldo em contrato. Não há evidência de que eu tenha praticado ato ilícito. A Procint foi constituída há 27 anos.
A que o sr. atribui as acusações de do ex-diretor Everton Rheinheimer?Não quero me posicionar fazendo críticas a uma pessoa sobre a qual não tenho um conceito pessoalmente bom. Sempre procurei me comportar discretamente porque ele é uma pessoa um pouco irascível e visivelmente vingativa. Tenho dificuldade em interpretar (o motivo da acusação). Everton não é uma pessoa simples, tem personalidade complexa. Eu sempre tive muito cuidado em lidar com ele, exatamente por causa dessas características um pouco explosivas e com uma tendência de não ter limitações com as coisas que fala, seja verdade ou mentira, desde que aquilo fosse, naquele momento, para aliviá-lo ou se achava que poderia me causar algum impacto.
O sr. tem alguma dúvida de que o ex-diretor da Siemens seja o autor das acusações entregues à Polícia Federal?Eu não consigo entender que ele apareça com um documento e, de repente, tente negar a autoria. Esse documento se inicia com uma descrição da pessoa que o está fazendo. E só tem uma pessoa que pode assinar esse documento. Qualquer outra pessoa vai ser processada por falsidade ideológica. Não tem ninguém que possa assinar esse documento, a não ser ele. Se foi forjado, o inquérito é nulo. Toda a estrutura do documento aponta que ele é a pessoa que fez esse documento. Terá que responder pelas declarações que faz.
Como o sr. o conheceu?Durante um longo período, de 2001 a 2007, ele foi diretor de transportes da Siemens. Era, portanto, uma pessoa com quem eu tinha um contato regular já que a minha empresa e a de meu sócio (Sérgio Teixeira, morto em 2011, dono da Constech Consultoria) tinham contratos indiretamente com a Siemens. Eu tinha contrato do Sistrem (consórcio para construção de linha CPTM do Capão Redondo até o Largo 13). O Everton era um personagem do meu relacionamento por força das minhas obrigações contratuais. Meu amigo ele não é, para falar tanta mentira que me prejudique.
A carta ao ombudsman da Siemens, de 2008, é dele?A autoria daquela carta de 2008 para mim não é mais contestada. Na leitura da denúncia eu encontrei as digitais do Everton e, de um modo geral, quando o mercado tomou conhecimento do conteúdo dessa denuncia, a tendência foi sempre identificá-lo como o autor. Afora isso, um mestrando de jornalismo investigativo da universidade de Berkeley (EUA) veio ao Brasil porque optou em fazer como tese as denúncias de corrupção sobre a Siemens. Ele procurou fontes que pudessem dar suporte a essas denúncias. Foi orientado a procurar na Assembleia as dependências do PT onde supostamente seria mais fácil entrar em contato com a pessoa que fez a denúncia. Isso realmente ocorreu. Ele descreve no documento, que estava na internet, os contatos que teve e relata isso ao orientador de mestrado dele. Quando ele relata isso, recebe do orientador recomendação de que era necessário certificar a fonte. Ele busca na internet algo que identificasse o interlocutor dele (na Assembleia), encontra e relata isso, que achou numa palestra a fotografia da pessoa com quem ele esteve e essa pessoa era o diretor da Siemens para a área de transportes no Brasil. Isso ocorreu em 2010. Ele relata que essa identificação diz respeito a um evento de 3 anos antes, em 2007. Não há dúvida. Quem era realmente o diretor de transportes da Siemens era Everton.
O sr. teve algum contato com Everton Rheinheimer recentemente?Eu o encontrei num shopping. Tive com ele um encontro civilizado, onde não toquei nesse assunto. Acho que ele não é a pessoa com quem eu deva falar sobre esse tema que está hoje nas mãos das autoridades. Através dos meus advogados tenho me manifestado às autoridades porque não posso mais ficar numa posição passiva. Os autos do Cade não me apontam como uma figura ligada ao cartel. Mas o inquérito da Polícia Federal, a partir desses documentos gerados pelo sr. Everton, me envolvem. Como posso ser personagem central se no período examinado, de 1998 a 2008, eu prestei serviços de assessoria em contratos que representam em torno de 18% daquilo que foi contratado pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e pelo Metrô? Não vou mais permitir me colocarem na posição de personagem central de um episódio aonde prestei serviços regulares, contabilizados, que não envolvem o pagamento de propinas, que envolve serviços prestados. Eu tenho toda a documentação.
Mantém relacionamento com o senador Aloysio Nunes, que segundo o ex-diretor da Siemens é próximo do senhor?Conheci o senador Aloysio, realmente, quando ele ocupou as funções de secretário dos Transportes Metropolitanos, ele foi o primeiro secretário dessa pasta. Tive oportunidade de conversar com o Aloisio, exatamente para que pudesse identificar qual era o planejamento de investimentos de um setor que estava degradado, o setor da CPTM. Havia um interesse do Estado em tentar encontrar soluções para um programa de renovação da frota. Tive várias conversas com ele nessa ocasião. Quando ele deixou a Pasta passamos a nos encontrar ocasionalmente, em seminários, inaugurações. Minha intimidade é tão grande que seguramente eu não tive nenhuma conversa com o senador nos últimos 6 anos. Eu o recebi uma vez, para um jantar em minha casa, creio que em 2006. Eram uns 13 convidados com suas esposas. O senador, o Jurandir (Fernandes, secretário dos Transportes), o presidente do Metrô na época (Luiz Frayze) e o da CPTM e amigos pessoais meus. Foi um encontro social, não jantar de negócios. Nunca mais estive pessoalmente com o senador.
O que o sr. faz como consultor?Envolve varias atividades, uma que é essencial é a prospecção de negócios nas áreas de energia e metroferroviária. Isso implica no conhecimento dos planos de investimento, ou do Estado ou da União, para que a gente possa identificar projetos aonde a nossa experiência pode contribuir para que meus clientes possam ter uma participação adequada, conveniente. O que faturei é público e objeto de análise pela perícia (da PF). Ao longo desses dez anos, a Procint deve ter faturado em torno de R$ 20 milhões com serviços prestados. Recolhi todos os tributos, paguei os meus funcionários, alguns deles terceirizados, paguei as despesas operacionais, viagens e despesas de representação, almoços aqui e acolá. O restante foi remuneração própria, minha e do meu sócio, o Sérgio. Não há nenhuma relação entre consórcio e cartel. O consorcio é o agrupamento entre empresas que se reúnem para disputar um fornecimento, em geral de um sistema integrado. O cartel são combinações feitas previamente, até eventualmente entre consórcios. Pode até haver o caso em que consórcios se reúnem e se combinem entre si.
Conhece o secretário José Aníbal, também citado como pessoa próxima do senhor?Temos alguns amigos em comum. Ele nunca esteve ligado diretamente à área de transportes. Quando ele foi secretario de Tecnologia eu acho que tive um encontro com ele. Na ocasião, o Sérgio (Teixeira) tinha um cliente interessado na área de Tecnologia. Eu não tenho certeza se estava nessa conversa. Isso aconteceu provavelmente há uns 10 ou 12 anos. Depois disso eu participei, se não me engano, de um jantar, desses pré-eleitorais, a convite de um amigo, mas fora isso, nunca tive relações com o José Aníbal. A gente se encontra, ele me cumprimenta, mas eu não vejo o José Aníbal há uns cinco, seis anos.
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