Por que odeiam o governo?
Melhora na qualidade da administração depende de estímulo à atração de novos talentos
Washington está tendo um de seus debates bizarros sobre se o lançamento pelo
governo Obama do HealthCare.gov foi pior que a resposta do governo Bush ao
furacão Katrina. Seja qual for a resposta, se houver uma, a história real é que
os dois são exemplos de uma tendência importante, e deprimente - a competência
decadente do governo federal. O ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco
central americano) Paul Volcker vem soando o alarme há anos, assinalando que a
maioria dos americanos acredita que seu governo não é mais capaz de agir com
eficácia e essa erosão da competência e da confiança é um problema profundo.
"O serviço público federal sofre a maior crise desde que foi fundado nos momentos iniciais da república", escreve Paul Light, pesquisador que aborda o problema no livro A Government Ill Executed (Um governo mal executado, em tradução livre).
Ao longo da última década, o governo federal enfrentou muitos desafios importantes: guerras, um novo sistema de segurança nacional, Katrina e Obamacare (a reforma do sistema de saúde proposta por Barack Obama). Em quase todos, seu desempenho foi onerado por descaminhos, superfaturamentos, atrasos e desempenho fraco. Nem sempre foi assim. Nos anos 1940, 50 e 60, as agências federais eram enxutas, bem administradas e eficazes. Paul Hoffman, o administrador do Plano Marshall, costumava dizer que o projeto - de tamanho e alcance monumentais - foi realizado no prazo e dentro do orçamento.
Algumas agências ainda mantêm uma cultura de alto desempenho, da Nasa e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças ao Fed e o Darpa, braço de pesquisa do Departamento de Defesa. Mas elas são ilhas num vasto mar de mediocridade.
Por que isso aconteceu? Provavelmente por razões culturais e históricas, em parte. Os americanos sempre foram desconfiados de governo. Americanos jovens talentosos não sonham em se tornar grandes burocratas. O New Deal e a 2ª Guerra podem ter mudado isso durante algum tempo, mas nos últimos 30 anos, as atitudes antigoverno cresceram substancialmente. Duas comissões nacionais sobre serviço público detalharam os perigos de tão poucas pessoas talentosas entrarem no governo. Os obstáculos sempre crescentes - formulários, preocupações com conflito de interesses, vetos políticos - dissuadem e afugentam bons candidatos.
O problema é bipartidário. Na direita, há pessoas demais que acreditam que seu papel em Washington é simplesmente atacar e estrangular financeiramente o governo. Esse massacre corrói a confiança pública e priva as agências federais de qualquer senso de missão e ambição. Os cortes contínuos do orçamento limitaram sua capacidade de enfrentar novos desafios. Não existe hoje a menor tentativa de um pensamento e planejamento ambicioso, seja na questão espacial ou em infraestrutura. Aparentemente, cada agência está em modo de corte de despesas e controle de danos. Os persistentes ataques politizados - seja bloqueando a confirmação de centenas de funcionários ou investigando-os cada vez - ajudaram a criar uma atmosfera de cautela e aversão ao risco.
Na esquerda, agendas políticas e desejos se sobrepuseram ao foco na excelência. O governo federal se tornou um depósito de toda sorte de objetivos - dos requisitos de alocação de pessoal às regras de aprovisionamento e a estruturas organizacionais. A ascensão de sindicatos do setor público tornou a força de trabalho menos flexível e receptiva. O pesquisador de Stanford Francis Fukuyama observa que metade de todos ingressantes na burocracia federal são veteranos de guerra, muitos deles portadores de deficiências.
É admirável que o governo queira ajudar veteranos e procure maneiras de expandir as oportunidades, mas o governo opera hoje com tantos requisitos, políticas de mandato, regras e mandatos funcionais que mérito e qualidade perdem a importância relativa.
Paul Light sublinhou que, quando o Congresso aprova suas ordens, novas camadas de administração são geralmente criadas para aplicá-las. Num estudo de empregos públicos de "primeira linha" - agentes do Fisco, controladores de tráfego aéreo, guardas florestais - que têm grande importância para o público, ele descobriu que os funcionários tinham de reportar a nove camadas de administração oficial e 16 camadas informais (como chefias de gabinete e subsecretarias adjuntas). O resultado é que o funcionário federal médio hoje recebe orientações políticas e orçamentárias de quase 60 camadas de tomadores de decisões! Por que não lançar um esforço bipartidário para um enxugamento do governo federal? O foco deveria ser a melhoria da estrutura administrativa, a criação de maneiras mais fáceis de pessoas talentosas entrarem no governo.
Há os que temem que se o governo funcionar bem demais vamos querer mais dele - e simplesmente querem matar a besta de fome. Mas muitas coisas nas quais o governo não está operando bem não podem ser terceirizadas, privatizadas ou abolidas. A segurança nacional, afinal, é da competência exclusiva do governo federal. Somando todos os fornecedores privados que fazem trabalho de governo, existem atualmente cerca de 15 milhões de pessoas que executam as leis, mandatos e funções do governo federal. Talvez esse número possa ser reduzido. Mas a tarefa mais urgente e importante é, seguramente, garantir que eles trabalhem com a eficiência e a eficácia que possivelmente podem.
"O serviço público federal sofre a maior crise desde que foi fundado nos momentos iniciais da república", escreve Paul Light, pesquisador que aborda o problema no livro A Government Ill Executed (Um governo mal executado, em tradução livre).
Ao longo da última década, o governo federal enfrentou muitos desafios importantes: guerras, um novo sistema de segurança nacional, Katrina e Obamacare (a reforma do sistema de saúde proposta por Barack Obama). Em quase todos, seu desempenho foi onerado por descaminhos, superfaturamentos, atrasos e desempenho fraco. Nem sempre foi assim. Nos anos 1940, 50 e 60, as agências federais eram enxutas, bem administradas e eficazes. Paul Hoffman, o administrador do Plano Marshall, costumava dizer que o projeto - de tamanho e alcance monumentais - foi realizado no prazo e dentro do orçamento.
Algumas agências ainda mantêm uma cultura de alto desempenho, da Nasa e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças ao Fed e o Darpa, braço de pesquisa do Departamento de Defesa. Mas elas são ilhas num vasto mar de mediocridade.
Por que isso aconteceu? Provavelmente por razões culturais e históricas, em parte. Os americanos sempre foram desconfiados de governo. Americanos jovens talentosos não sonham em se tornar grandes burocratas. O New Deal e a 2ª Guerra podem ter mudado isso durante algum tempo, mas nos últimos 30 anos, as atitudes antigoverno cresceram substancialmente. Duas comissões nacionais sobre serviço público detalharam os perigos de tão poucas pessoas talentosas entrarem no governo. Os obstáculos sempre crescentes - formulários, preocupações com conflito de interesses, vetos políticos - dissuadem e afugentam bons candidatos.
O problema é bipartidário. Na direita, há pessoas demais que acreditam que seu papel em Washington é simplesmente atacar e estrangular financeiramente o governo. Esse massacre corrói a confiança pública e priva as agências federais de qualquer senso de missão e ambição. Os cortes contínuos do orçamento limitaram sua capacidade de enfrentar novos desafios. Não existe hoje a menor tentativa de um pensamento e planejamento ambicioso, seja na questão espacial ou em infraestrutura. Aparentemente, cada agência está em modo de corte de despesas e controle de danos. Os persistentes ataques politizados - seja bloqueando a confirmação de centenas de funcionários ou investigando-os cada vez - ajudaram a criar uma atmosfera de cautela e aversão ao risco.
Na esquerda, agendas políticas e desejos se sobrepuseram ao foco na excelência. O governo federal se tornou um depósito de toda sorte de objetivos - dos requisitos de alocação de pessoal às regras de aprovisionamento e a estruturas organizacionais. A ascensão de sindicatos do setor público tornou a força de trabalho menos flexível e receptiva. O pesquisador de Stanford Francis Fukuyama observa que metade de todos ingressantes na burocracia federal são veteranos de guerra, muitos deles portadores de deficiências.
É admirável que o governo queira ajudar veteranos e procure maneiras de expandir as oportunidades, mas o governo opera hoje com tantos requisitos, políticas de mandato, regras e mandatos funcionais que mérito e qualidade perdem a importância relativa.
Paul Light sublinhou que, quando o Congresso aprova suas ordens, novas camadas de administração são geralmente criadas para aplicá-las. Num estudo de empregos públicos de "primeira linha" - agentes do Fisco, controladores de tráfego aéreo, guardas florestais - que têm grande importância para o público, ele descobriu que os funcionários tinham de reportar a nove camadas de administração oficial e 16 camadas informais (como chefias de gabinete e subsecretarias adjuntas). O resultado é que o funcionário federal médio hoje recebe orientações políticas e orçamentárias de quase 60 camadas de tomadores de decisões! Por que não lançar um esforço bipartidário para um enxugamento do governo federal? O foco deveria ser a melhoria da estrutura administrativa, a criação de maneiras mais fáceis de pessoas talentosas entrarem no governo.
Há os que temem que se o governo funcionar bem demais vamos querer mais dele - e simplesmente querem matar a besta de fome. Mas muitas coisas nas quais o governo não está operando bem não podem ser terceirizadas, privatizadas ou abolidas. A segurança nacional, afinal, é da competência exclusiva do governo federal. Somando todos os fornecedores privados que fazem trabalho de governo, existem atualmente cerca de 15 milhões de pessoas que executam as leis, mandatos e funções do governo federal. Talvez esse número possa ser reduzido. Mas a tarefa mais urgente e importante é, seguramente, garantir que eles trabalhem com a eficiência e a eficácia que possivelmente podem.
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