Senado italiano expulsa Berlusconi após condenação por fraude fiscal
Perda de imunidade parlamentar torna ex-premiê italiano suscetível a novas ações judiciais - ele já foi considerado culpado por evasão de impostos e por pagar por sexo com uma menor
AP
Berlusconi organizou comício e levou eleitores para Roma com objetivo de pressionar Senado
Em agosto, a Justiça italiana condenou Berlusconi a 4 anos por fraude fiscal e, agora, com o fim da imunidade, outras condenações podem surgir em casos que envolvem até mesmo prostituição de menores. O Senado declarou Berlusconi inelegível para o Parlamento depois de ele ter sido condenado por planejar um sistema complexo para reduzir os impostos pagos por seu império de televisão Mediaset.
O grupo de apoio de "Il Cavaliere" tentou de tudo para frear sua queda, chamada em Roma de "decadenza". Seus aliados queriam que o voto fosse secreto, o que poderia ajudar Berlusconi. Mas nada deteve os senadores de esquerda e do Movimento 5 Estrelas, a principal novidade na política italiana.
A queda de Berlusconi só foi possível graças a uma lei aprovada durante o governo de Mario Monti que tornou proibida a eleição de uma pessoa sentenciada a mais de 2 anos de prisão ou a manutenção de um cargo público no caso de uma pena.
A cassação de Berlusconi era quase certa havia dias. Mas ele tentou sobreviver à queda até o fim. No sábado, ele convocou a imprensa para qualificar a votação de "golpe de Estado" e lembrar que seu partido teve mais de 22% dos votos nas últimas eleições. Até pediu oficialmente o "perdão" do presidente italiano, Giorgio Napolitano. De nada adiantou.
A votação ganhou cores dramáticas quando uma das senadoras, Paola Taverna, acusou Berlusconi de estar preocupado apenas com a sua "decadência", e não a da Itália. O grupo de apoio ao magnata entrou no Senado vestido de preto, em "sinal de luto pela democracia". "Berlusconi impediu vocês de roubarem o país", declarou a senadora Manuela Ripetti, leal ao ex-premiê. Berlusconi, porém, só começou a cair quando seus aliados se afastaram. O principal deles, Angelino Alfano, abandonou o Forza Italia, partido de Berlusconi, fundou um novo grupo e levou consigo velhos partidários de Il Cavaliere.
Numa última tentativa de sobreviver politicamente, Berlusconi anunciou o rompimento com o governo de coalizão nacional, de Enrico Letta. Mas nem a influência ele conseguiu manter. Letta anunciou que seu governo estava "mais forte" sem Berlusconi e o mercado financeiro chegou a comemorar. Na prática, porém, Letta ficou com uma maioria de apenas seis votos no Senado, o que não lhe dá margem de manobra na Câmara Alta.
Reações. Beppe Grillo, líder do Movimento 5 Estrelas, comemorou a queda. "Berlusconi foi expulso pelo Senado. Um deles está fora. Agora, temos de expulsar todos os outros", escreveu em seu Twitter.
Se o apoio político a Berlusconi chegou ao final, o magnata usou uma velha estratégia para tentar mostrar que ainda tem o apoio das massas: organizou a saída de dezenas de ônibus de toda a Itália que levaram até Roma seus "fiéis eleitores".
Enquanto a votação ocorria, ele tomava um "banho de povo" e insistia que tinha novas provas que o inocentariam no caso de fraude. Um dia antes, ele alertava que as massas sairiam às ruas "para defender futuro do país e a liberdade". "A manifestação é apenas o começo", insistiu.
Ontem, usou a ocasião para atacar. "Em nenhum país democrático alguém sofreu uma perseguição como essa", disse, acusando os juízes de "comunistas" e de estarem atuando para derrubá-lo. "Esse é um dia de luto para a democracia", insistiu. Berlusconi garante que não abandonará a política, mesmo com sua fortuna e seus 77 anos. "Temos de continuar em campo", disse.
Suas promessas, porém, podem não se transformar em realidade. Ele terá de cumprir um ano de serviços comunitários pelos crimes financeiros e uma corte em Milão já o condenou a dois anos de inelegibilidade. Vendo seus aliados o abandonar, ele promete continuar a manipular senadores e deputados nos bastidores. "Nunca vou me esquecer desse dia. Viva a Itália! Viva a Forza Italia! Viva a liberdade!", completou.
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