Pular para o conteúdo principal

Curtas & Finas (Mali & Síria)

Libération!?
Legion d’Honneur para as tropas francesas que impediram o pior no Mali, com a intervenção no país africano contra as legiões jihadistas. Mas na expressão francesa, há uma sensação de déjà vu. Uma tropa ocidental ágil e bem equipada ocupa cidades e inimigos fanáticos batem em retirada. Voilà! Missão cumprida?
Há a expectativa de que agora forças locais ou regionais possam impedir que os fanáticos retornem (embora nunca tenham partido, pois se enfiaram em esconderijos no deserto ou nas montanhas). Vital que a comunidade internacional não permita um vácuo de poder no Mali, um risco presente no Afeganistão com a partida em 2014 das tropas ocidentais (e aqui tomo cuidado para não fazer comparações entre duas realidades tão diferentes).
E este enorme, até ontem ou anteontem desconhecido para quase todos nós, país africano representa desafios geopolíticos circunscritos que nem se comparam à enormidade da encrenca síria no contexto do Oriente Médio e da Primavera Árabe. São guerras com trajetórias diferentes. A Síria é um símbolo de inação e relutância da comunidade internacional (Conselho de Segurança da ONU travado e países ocidentais avessos a uma intervenção), enquanto a França, e não os EUA, de forma unilateral mostrou agilidade no Mali, em nome dos seus interesses nacionais, tradição de atuação nas ex-colônias e preocupação com o avanço do terrorismo islâmico na África.
Em comum, nas crises do Mali e da Síria, temos o cenário de radicais islâmicos, identificados com a rede Al-Qaeda, que sequestraram lutas de rebeldes contra governos centrais. Há perspectivas um pouco mais promissoras no Mali diante de um consenso regional e multilateral para estabilizar o país. A França, aliás, tem muita familiaridade (paternalista) com o país.
No caso da Síria, há complexos rachas internos (ideológicos, sectários e étnicos), sem falar de rivalidades regionais (Irã ao lado do regime Assad e os regimes sunitas apoiando os rebeldes) e globais (países ocidentais associados aos rebeldes e Rússia ao governo de Damasco).
A Síria é um conflito crescentemente caótico, com riscos de ampliação regional. Basta ver os informes de quarta-feira sobre uma ação aérea israelense no país, alvejando um comboio com sofisticadas baterias de mísseis antiaéreos russos destinadas ao Hezbollah, a milícia xiita libanesa, que é aliada do regime de Damasco. É tudo tão caótico que, pelo menos neste caso, Israel e grupos rebeldes sirios (inclusive jihadistas) têm uma desconfortável afinidade de interesses.
Por ora, as tropas francesas contiveram as amputações praticadas por jihadistas no Mali em nome de uma interpretação transloucada da lei islâmica, a sharia. Legion d’Honneur para os franceses. A hemorragia continua na Síria, em grande parte responsabilidade do regime. Desonra para Bashar Assad e sem condecorações para o resto do mundo, que não sabe o que fazer, como agir.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com par
Estudo ‘sem desqualificar religião’ é melhor caminho para combate à intolerância Hédio Silva defende cultura afro no STF / Foto: Jade Coelho / Bahia Notícias Uma atuação preventiva e não repressiva, através da informação e educação, é a chave para o combate ao racismo e intolerância religiosa, que só em 2019 já contabiliza 13 registros na Bahia. Essa é a avaliação do advogado das Culturas Afro-Brasileiras no Supremo Tribunal Federal (STF), Hédio Silva, e da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Lívia Vaz. Para Hédio o ódio religioso tem início com a desinformação e passa por um itinerário até chegar a violência, e o poder público tem muitas maneiras de contribuir no combate à intolerância religiosa. "Estímulos [para a violência] são criados socialmente. Da mesma forma que você cria esses estímulos você pode estimular