Curtas & Finas (Mali & Síria)
Há a expectativa de que agora forças locais ou regionais possam impedir que os fanáticos retornem (embora nunca tenham partido, pois se enfiaram em esconderijos no deserto ou nas montanhas). Vital que a comunidade internacional não permita um vácuo de poder no Mali, um risco presente no Afeganistão com a partida em 2014 das tropas ocidentais (e aqui tomo cuidado para não fazer comparações entre duas realidades tão diferentes).
E este enorme, até ontem ou anteontem desconhecido para quase todos nós, país africano representa desafios geopolíticos circunscritos que nem se comparam à enormidade da encrenca síria no contexto do Oriente Médio e da Primavera Árabe. São guerras com trajetórias diferentes. A Síria é um símbolo de inação e relutância da comunidade internacional (Conselho de Segurança da ONU travado e países ocidentais avessos a uma intervenção), enquanto a França, e não os EUA, de forma unilateral mostrou agilidade no Mali, em nome dos seus interesses nacionais, tradição de atuação nas ex-colônias e preocupação com o avanço do terrorismo islâmico na África.
Em comum, nas crises do Mali e da Síria, temos o cenário de radicais islâmicos, identificados com a rede Al-Qaeda, que sequestraram lutas de rebeldes contra governos centrais. Há perspectivas um pouco mais promissoras no Mali diante de um consenso regional e multilateral para estabilizar o país. A França, aliás, tem muita familiaridade (paternalista) com o país.
No caso da Síria, há complexos rachas internos (ideológicos, sectários e étnicos), sem falar de rivalidades regionais (Irã ao lado do regime Assad e os regimes sunitas apoiando os rebeldes) e globais (países ocidentais associados aos rebeldes e Rússia ao governo de Damasco).
A Síria é um conflito crescentemente caótico, com riscos de ampliação regional. Basta ver os informes de quarta-feira sobre uma ação aérea israelense no país, alvejando um comboio com sofisticadas baterias de mísseis antiaéreos russos destinadas ao Hezbollah, a milícia xiita libanesa, que é aliada do regime de Damasco. É tudo tão caótico que, pelo menos neste caso, Israel e grupos rebeldes sirios (inclusive jihadistas) têm uma desconfortável afinidade de interesses.
Por ora, as tropas francesas contiveram as amputações praticadas por jihadistas no Mali em nome de uma interpretação transloucada da lei islâmica, a sharia. Legion d’Honneur para os franceses. A hemorragia continua na Síria, em grande parte responsabilidade do regime. Desonra para Bashar Assad e sem condecorações para o resto do mundo, que não sabe o que fazer, como agir.
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