ACM Neto vence em Salvador e dá fôlego ao DEM e ao 'carlismo'
Candidato teve 53,5% dos votos ante 46,5% do adversário petista, que teve apoio de Lula e Dilma; votação foi tumultuada
SALVADOR - A eleição do deputado Antonio Carlos Magalhães Neto para a
prefeitura de Salvador, ontem, significou não só uma sobrevida para seu partido,
o DEM, mas uma derrota tripla do PT: da própria presidente Dilma Rousseff, do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do governador Jaques Wagner (PT), que,
pessoalmente, jogaram tudo o que podiam para ajudar o petista Nelson Pelegrino.
Wagner usou tanto a máquina do governo do Estado em favor de Pelegrino que a
Justiça chegou a proibir a veiculação de propagandas de suas obras em Salvador.
Numa última tentativa de dar a mão ao aliado, Wagner chegou a tirar a Bahia do
horário de verão, mudança de horário muito impopular entre a população baiana.
Com a eleição de ACM Neto, com 53,5% dos votos, a oposição passa a governar o terceiro maior colégio eleitoral do País (1.881.544 eleitores), e o DEM fica muito maior do que entrou.
"Sofremos o maior ataque da história recente dos partidos, ataque esse liderado por Gilberto Kassab. Tudo isso com o apoio do governo e do PT. E não nos destruíram", comemorou o presidente do DEM, senador Agripino Maia (RN). "A importância da minha eleição não é para o DEM, é para Salvador - a terceira maior cidade do Brasil e a maior do Nordeste. Então, o resultado tem peso nacional", disse ACM Neto.
A vitória do neto do ex-senador Antonio Carlos Magalhães representa também o ressurgimento do carlismo, mas um pouco diferente, visto que ele não é partidário da chamada "política do chicote", adotada pelo ancestral. Mas a prefeitura vai projetá-lo para projetos futuros, como candidaturas a governador e até a presidente pela oposição.
ACM Neto venceu uma disputa acirrada. Sofreu críticas pessoais tanto de Dilma quanto de Lula. O ex-presidente fez um comício na quarta-feira para dizer que ACM vinha falando mentiras "sórdidas", ao atribuir a criação do Bolsa-Família ao avô.
Durante toda a campanha, o PT bombardeou os eleitores com a afirmação de que o prefeito precisava estar alinhado com os governos federal e estadual para tirar a capital baiana do "buraco". ACM Neto respondeu que em outras cidades os prefeitos não são alinhados e nem por isso não conseguem administrá-las.
Em entrevista após o anúncio do resultado, ACM Neto disse que vai procurar uma relação harmoniosa com o governo federal e com o governo estadual. "Vou procurar o governador e dizer que o prefeito eleito de Salvador saiu do palanque. Quero uma parceria de trabalho construtivo. Falei com o vice-presidente Michel Temer para que ele seja porta-voz da prefeitura de Salvador. Vou me reunir com ele na próxima semana."
Ao chegar ao comitê de campanha para a festa da vitória, ACM Neto foi recebido aos gritos de "ACM voltouuôôôuu". O prefeito vitorioso fez uma homenagem ao avô, mas disse que os momentos são outros: "Neste momento de tanta alegria não esqueceria de alguém que não está mais aqui entre nós (em agradecimento a ACM). Eu sei que onde quer que esteja está tão feliz quanto nós."
"Aprendi com ele a amar a Bahia, a amar o povo e a amar a política. Dedico esta vitória ao senador ACM. Acho que é natural a lembrança. Mas estamos em 2012, chegando a 2013. Não vou governar para o passado, mas olhando para a frente", afirmou.
Nelson Pelegrino, que começou a campanha muito atrás de ACM Neto, chegou a equilibrar a disputa. Para ele, suas maiores dificuldades foram duas greves de mais de cem dias deflagradas pela Polícia Militar e pelos professores estaduais.
Confusão. O clima de disputa foi acirrado até o fim. Ao se dirigir ontem à Universidade da Bahia para votar, ACM Neto encontrou um grupo de militantes do PC do B e do PT. Eles gritavam frases como "um, dois, três, ACM no xadrez". Em resposta, partidários respondiam com "rua, rua mensaleiros". A PM teve de fazer um corredor para que ACM Neto passasse. Houve bate-boca e empurra-empurra entre os grupos rivais. A entrada da faculdade foi bloqueada pelos manifestantes, o que impediu o acesso dos demais eleitores. Mesmo com a presença da polícia, as provocações continuaram.
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