Tráfico espalha violência a 2 dias da eleição mexicana
Prefeita sequestrada é achada morta, casa de senador é incendiada e funcionário é esfaqueado
XALAPA-ENRIQUEZ, MÉXICO - Os mexicanos escolherão neste domingo
presidente e parlamentares sob a pressão de uma série de ataques do crime
organizado contra alvos políticos ou eleitorais que pôs em alerta o Exército e a
Marinha. Os acessos a Xalapa Enriquez, capital do Estado de Veracruz, onde as
mortes ligadas ao narcotráfico cresceram 575% em um ano, amanheceram nesta
sexta-feira, 29, bloqueados por policiais mascarados que revistavam cada carro.
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Na semana que antecedeu à votação, Veracruz – Estado dominado pelo
cartel Los Zetas, e onde nove jornalistas foram assassinados em dois anos –
apresentou mais um saldo macabro: uma prefeita torturada e assassinada, a casa
de um senador incendiada e um funcionário da Justiça Eleitoral esfaqueado por um
ladrão de cédulas eleitorais.
Plantadores de abacaxi encontraram o corpo de Marisol Mora Cuevas, do
Partido Ação Nacional (PAN), na quinta-feira em uma lavoura. A prefeita de
Tlacojalpan, cidade de 5 mil habitantes, tinha mãos e pés amarrados e sinais de
tortura. Marisol foi sequestrada na tarde de domingo em casa, diante da família,
por um grupo armado, uma semana antes da escolha de seu sucessor.
O PAN é o partido do presidente Felipe Calderón, que lançou em 2006
uma ofensiva contra cartéis que já provocou 47.500 mortes. Durante a campanha
eleitoral, Los Zetas enviaram mensagem à candidata do partido à presidência,
Josefina Vásquez. O bilhete dizia que ela "não era bem-vinda" no Estado de
Tamaulipas, vizinho a Veracruz, no leste do México. Na sexta, um carro-bomba
explodiu diante do governo municipal de Nuevo Laredo, em Tamaulipas.
"Em Veracruz e Tamaulipas, os ataques decorrem da ruptura entre Los
Zetas e o Cartel do Golfo. Ela ocorreu em 2010, mas a busca por notoriedade tem
aumentado nesses lugares até hoje, ao contrário de Ciudad Juárez e Tijuana, onde
houve um decréscimo", afirma o especialista em violência Eduardo Guerrero.
Um dos sintomas da debilidade institucional em Estados como Veracruz
é a pressão dos cartéis pelo controle não só de território, mas também da
informação. Jornalistas foram executados aqui como em nenhum outro lugar do
México. Em dois anos, foram assassinados Víctor Báez, Regina Martínez, Guillermo
Luna, Gabriel Huge, Esteban Rodríguez, Yolanda Ordaz de la Cruz, Misael López
Solana, Miguel Ángel López Velasco e Noel López Olguín.
Os números de Veracruz incluem ainda três jornalistas desaparecidos e
dez que se mudaram para outras regiões do país, segundo a ONG mexicana Fundação
pela Liberdade de Expressão. Os seguintes no ranking de execuções de jornalistas
são Tamaulipas (14), Chihuahua (13) e Guerrero (10). "Os jornalistas recebem
ameaças para publicar ou deixar de publicar sobre certos crimes, segundo o
interesse dos cartéis. Em alguns casos, o cartel tem interesse em visibilidade.
Em outros, não", diz Renato Consuegra, um dos diretores da ONG.
Segundo Consuegra, ameaças dos cartéis diminuem o espaço na imprensa
para notícias policiais, principalmente se os alvos são políticos. Os jornais de
Veracruz deram pouco destaque ao incêndio na casa do senador Enrique Romero
Aquino, do Partido Revolução Democrática (PRD), na quarta-feira, e ao ataque a
um funcionário eleitoral que guardava 1,2 mil cédulas eleitorais. O homem foi
esfaqueado.
Cédulas roubadas são usadas em um sistema de compra de voto conhecido
como "carrossel". Nele, o eleitor entra com uma cédula desviada já preenchida e,
na saída, entrega ao chamado "mapache" (comprador do voto) o papel recebido na
cabine de votação. Uma espécie de versão digital do golpe dispensa o roubo. Na
cabine fechada, o eleitor fotografa com um celular seu voto. Ao sair, mostra a
imagem como prova de que escolheu o partido combinado. Leva entre 500 e 1.000
pesos (R$ 75 a R$ 150).
"Esperamos que a eleição ajude a mudar todo este sistema corrupto", diz o caminhoneiro Faustino Hernández, de 64 anos. Ele era um dos motoristas parados na entrada de Xalapa ontem. "Piorou muito nos últimos oito anos. Em um caso houve mais de 40 corpos esquartejados, outros foram derretidos com ácido. Quando chego em um bloqueio policial como esse, não tiro nenhuma das mãos do volante, para não correr o risco de levar um tiro. Não tenho como saber se o policial é limpo ou não pelo uniforme", desabafa.
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