Se entrar na Síria, terá de ser para valer
Somente uma ação militar determinada demonstrará que os EUA pretendem aplicar as 'linhas vermelhas' e fará os mulás do vizinho Irã se acalmarem em seu entusiasmo nuclear
Dos internacionalistas liberais aos conservadores de linha dura, um coro de
vozes influentes em Washington tem sugerido que uma intervenção americana na
Síria poderá também causar sérios danos ao Irã, aliado de Bashar Assad.
O que se afirma é que uma ação militar na Síria demonstrará que os EUA pretendem seriamente aplicar suas linhas vermelhas. Impressionados e desmotivados, os recalcitrantes mulás do Irã se acalmarão em seu entusiasmo nuclear e se conformarão com os acordos internacionais sobre não proliferação de armas nucleares.
Mas, como uma intervenção por parte do governo Barack Obama provavelmente será tímida e não um espetáculo esmagador de força militar, ela não colocará um fim na guerra civil na Síria, também não intimidará os líderes iranianos.
O tipo de intervenção para uma vitória decisiva dos rebeldes exige mais do que zonas de exclusão aérea e armas. Será necessário aniquilar o poder aéreo de Assad e colocar soldados em terra. Os EUA terão de assumir a liderança na organização de uma força militar regional aprovada pela Liga Árabe e apoiada pelos seus próprios serviços de inteligência. Depois disso virá a tarefa de reconstruir a Síria e intermediar seus conflitos sectários. Como a guerra no Iraque demonstrou, refazer instituições nacionais de um país reduzido aos escombros de uma guerra civil é mais difícil que a intervenção militar inicial.
Como tudo isso será necessário para destituir Assad e pôr fim à violência, os EUA precisam admitir que é necessária uma intervenção robusta. Não há uma solução fácil. Além do mais, se a intervenção americana não for decisiva, ela não intimidará o Irã, mas terá efeito contrário. Convencerá os líderes iranianos de que os EUA não estão dispostos a travar uma guerra de porte na região.
Existe algo curioso neste debate que toma conta de Washington. Embora o regime Assad tenha massacrado mais de 70 mil cidadãos sírios e violado convenções internacionais ao usar armas químicas contra a população civil, apelos no sentido de uma intervenção de peso não são ouvidos.
O legado do Iraque ainda pesa muito. Nem o governo Obama, tampouco seus críticos no Congresso, parecem ter algum anseio de construir uma nação. E relutam em admitir que meias medidas, como armar os rebeldes ou estabelecer uma zona de exclusão aérea, não bastam para acabar com o sofrimento da população síria diante de uma minoria alauita determinada, liderada por um sanguinário Assad, que não tem nenhum escrúpulo em levar a cabo uma limpeza étnica.
Uma guerra prolongada na Síria oferecerá ao Irã as mesmas vantagens que obteve com a invasão do Iraque. Quando os EUA assumiram a tarefa de reconstituir o Iraque, generais, políticos e especialistas insistiram que uma segunda frente não poderia ser aberta no Oriente Médio. Enquanto Washington se ocupou dos problemas do Iraque, ignorou a subversão e o comportamento daninho do Irã.
Representantes iranianos no Iraque sistematicamente atacaram as tropas americanas com bombas caseiras e colaboraram para arruinar a sua missão. Neste intervalo, a infraestrutura nuclear do Irã se modernizou.
Se o governo Obama se envolver na Síria, é provável que tratará o Irã com a mesma cautela demonstrada pelo governo de George W. Bush, evitando um confronto direto com o Irã e abstendo-se de emitir ultimatos no caso do programa nuclear iraniano. E, diante disso, o Irã se sentirá encorajado a levar adiante seu programa nuclear e afirmar seu domínio sobre a região.
Claro que uma vitória dos rebeldes na Síria e a queda da dinastia Assad serão um grande revés para o Irã, pois a Síria sempre foi a via mais confiável para o Irã chegar ao Hezbollah. Mas uma vitória dos rebeldes será improvável sem uma intervenção americana decisiva e total. Diante da pressão para pôr fim à violência, Washington poderá em breve se decidir por uma intervenção gradativa, sem que isso produza um resultado decisivo. Mas essas meias medidas não impressionarão os líderes do Irã, engajados numa disputa pelo futuro do Oriente Médio. Satisfeitos com o alardeado pivô asiático de Obama, os mulás estão convencidos de que os EUA querem se libertar da sua herança árabe. Uma grande intervenção americana dará a eles o que pensar; se for relutante, só fortalecerá a determinação iraniana.
Paradoxalmente, uma intervenção com o objetivo de convencer os iranianos da seriedade das linhas vermelhas estabelecidas pelos americanos pode, ao contrário, convencê-los de que seu programa nuclear está a salvo de uma retaliação.
O que se afirma é que uma ação militar na Síria demonstrará que os EUA pretendem seriamente aplicar suas linhas vermelhas. Impressionados e desmotivados, os recalcitrantes mulás do Irã se acalmarão em seu entusiasmo nuclear e se conformarão com os acordos internacionais sobre não proliferação de armas nucleares.
Mas, como uma intervenção por parte do governo Barack Obama provavelmente será tímida e não um espetáculo esmagador de força militar, ela não colocará um fim na guerra civil na Síria, também não intimidará os líderes iranianos.
O tipo de intervenção para uma vitória decisiva dos rebeldes exige mais do que zonas de exclusão aérea e armas. Será necessário aniquilar o poder aéreo de Assad e colocar soldados em terra. Os EUA terão de assumir a liderança na organização de uma força militar regional aprovada pela Liga Árabe e apoiada pelos seus próprios serviços de inteligência. Depois disso virá a tarefa de reconstruir a Síria e intermediar seus conflitos sectários. Como a guerra no Iraque demonstrou, refazer instituições nacionais de um país reduzido aos escombros de uma guerra civil é mais difícil que a intervenção militar inicial.
Como tudo isso será necessário para destituir Assad e pôr fim à violência, os EUA precisam admitir que é necessária uma intervenção robusta. Não há uma solução fácil. Além do mais, se a intervenção americana não for decisiva, ela não intimidará o Irã, mas terá efeito contrário. Convencerá os líderes iranianos de que os EUA não estão dispostos a travar uma guerra de porte na região.
Existe algo curioso neste debate que toma conta de Washington. Embora o regime Assad tenha massacrado mais de 70 mil cidadãos sírios e violado convenções internacionais ao usar armas químicas contra a população civil, apelos no sentido de uma intervenção de peso não são ouvidos.
O legado do Iraque ainda pesa muito. Nem o governo Obama, tampouco seus críticos no Congresso, parecem ter algum anseio de construir uma nação. E relutam em admitir que meias medidas, como armar os rebeldes ou estabelecer uma zona de exclusão aérea, não bastam para acabar com o sofrimento da população síria diante de uma minoria alauita determinada, liderada por um sanguinário Assad, que não tem nenhum escrúpulo em levar a cabo uma limpeza étnica.
Uma guerra prolongada na Síria oferecerá ao Irã as mesmas vantagens que obteve com a invasão do Iraque. Quando os EUA assumiram a tarefa de reconstituir o Iraque, generais, políticos e especialistas insistiram que uma segunda frente não poderia ser aberta no Oriente Médio. Enquanto Washington se ocupou dos problemas do Iraque, ignorou a subversão e o comportamento daninho do Irã.
Representantes iranianos no Iraque sistematicamente atacaram as tropas americanas com bombas caseiras e colaboraram para arruinar a sua missão. Neste intervalo, a infraestrutura nuclear do Irã se modernizou.
Se o governo Obama se envolver na Síria, é provável que tratará o Irã com a mesma cautela demonstrada pelo governo de George W. Bush, evitando um confronto direto com o Irã e abstendo-se de emitir ultimatos no caso do programa nuclear iraniano. E, diante disso, o Irã se sentirá encorajado a levar adiante seu programa nuclear e afirmar seu domínio sobre a região.
Claro que uma vitória dos rebeldes na Síria e a queda da dinastia Assad serão um grande revés para o Irã, pois a Síria sempre foi a via mais confiável para o Irã chegar ao Hezbollah. Mas uma vitória dos rebeldes será improvável sem uma intervenção americana decisiva e total. Diante da pressão para pôr fim à violência, Washington poderá em breve se decidir por uma intervenção gradativa, sem que isso produza um resultado decisivo. Mas essas meias medidas não impressionarão os líderes do Irã, engajados numa disputa pelo futuro do Oriente Médio. Satisfeitos com o alardeado pivô asiático de Obama, os mulás estão convencidos de que os EUA querem se libertar da sua herança árabe. Uma grande intervenção americana dará a eles o que pensar; se for relutante, só fortalecerá a determinação iraniana.
Paradoxalmente, uma intervenção com o objetivo de convencer os iranianos da seriedade das linhas vermelhas estabelecidas pelos americanos pode, ao contrário, convencê-los de que seu programa nuclear está a salvo de uma retaliação.
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