'É preciso mudar a estratégia para a economia', diz José Júlio Senna
Para ex-diretor do BC, governo tem de abandonar a política de 'microgerenciamento' da economia
Classificando como muito bom, porém transitório, o ganho dos investimentos
constatado nos dados do PIB do primeiro trimestre, o economista José Júlio
Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do FGV/IBRE, afirma que a decisão
do Banco Central foi correta. Para ele, postergar a alta de juros seria pior.
"Mais adiante, custa mais caro. É como adiar a ida ao dentista."
Diante do desempenho fraco do PIB, o que esperar em relação à política monetária?
Não é de hoje que a economia brasileira perdeu dinamismo. Estímulos pesados têm sido dados à atividade econômica, sem resultado satisfatório. Está em vigor uma política de microgerenciamento da economia que não produz resultado. O bom senso sugere que se mude a estratégia. É preciso dar mais liberdade às forças produtivas. O governo precisa agir sobre a oferta da economia.
Qual deveria ser a política econômica adotada?
Diante dos fracos dados do PIB, o BC não deveria recuar da intenção manifestada nas duas últimas semanas, de elevar o ritmo de alta da taxa de juro. Primeiro, as expectativas de inflação se mostram desancoradas. No mercado chegam a 5,8% para 2014. É preciso conter e reverter esse processo. Segundo, quando se abre mão do uso do instrumento clássico de combate à inflação, que é a taxa de juro, acaba-se recorrendo a inúmeros artifícios não apenas ineficazes mas prejudiciais ao funcionamento da economia. Terceiro, a experiência mostra que não se consegue evitar aumento de juros para derrubar a inflação. Tal movimento é apenas postergado. Mais adiante, ele custa mais caro. É como adiar a ida ao dentista. A situação só piora. A decisão de elevar 0,5 ponto porcentual é correta.
O investimento verificado reflete recuperação industrial?
O número em si é muito bom, mas não dá para comemorar. Os fatores que prejudicaram os investimentos no passado recente continuam presentes, não sendo possível extrapolar esse número para os próximos trimestres. A estatística divulgada foi muito influenciada pelo que ocorreu no setor de equipamentos de transporte, particularmente no segmento de caminhões. O ganho foi de natureza transitória. O microgerenciamento dá sinais errados para os empresários, pois indica que o caminho do sucesso depende de ações governamentais. O empresário não se sente estimulado a inovar, ou a adotar técnicas produtivas mais modernas. Acaba tentado a buscar proteção governamental. Os esforços vão no sentido errado.
Qual o setor mais preocupa?
São muitas as preocupações. O setor agropecuário cresceu substancialmente, mas o resultado não se repetirá no restante do ano. A indústria tem mostrado um comportamento excessivamente volátil. Nesse último trimestre, andou para trás. O setor de serviços cresceu bem, no passado recente, mas esse processo parece próximo do fim. Nem mesmo as exportações têm ajudado, devido ao problema de competitividade e à demanda fraca no exterior. Com o que vimos até agora, o crescimento do PIB provavelmente ficará mais perto de 2,5% no ano.
Diante do desempenho fraco do PIB, o que esperar em relação à política monetária?
Não é de hoje que a economia brasileira perdeu dinamismo. Estímulos pesados têm sido dados à atividade econômica, sem resultado satisfatório. Está em vigor uma política de microgerenciamento da economia que não produz resultado. O bom senso sugere que se mude a estratégia. É preciso dar mais liberdade às forças produtivas. O governo precisa agir sobre a oferta da economia.
Qual deveria ser a política econômica adotada?
Diante dos fracos dados do PIB, o BC não deveria recuar da intenção manifestada nas duas últimas semanas, de elevar o ritmo de alta da taxa de juro. Primeiro, as expectativas de inflação se mostram desancoradas. No mercado chegam a 5,8% para 2014. É preciso conter e reverter esse processo. Segundo, quando se abre mão do uso do instrumento clássico de combate à inflação, que é a taxa de juro, acaba-se recorrendo a inúmeros artifícios não apenas ineficazes mas prejudiciais ao funcionamento da economia. Terceiro, a experiência mostra que não se consegue evitar aumento de juros para derrubar a inflação. Tal movimento é apenas postergado. Mais adiante, ele custa mais caro. É como adiar a ida ao dentista. A situação só piora. A decisão de elevar 0,5 ponto porcentual é correta.
O investimento verificado reflete recuperação industrial?
O número em si é muito bom, mas não dá para comemorar. Os fatores que prejudicaram os investimentos no passado recente continuam presentes, não sendo possível extrapolar esse número para os próximos trimestres. A estatística divulgada foi muito influenciada pelo que ocorreu no setor de equipamentos de transporte, particularmente no segmento de caminhões. O ganho foi de natureza transitória. O microgerenciamento dá sinais errados para os empresários, pois indica que o caminho do sucesso depende de ações governamentais. O empresário não se sente estimulado a inovar, ou a adotar técnicas produtivas mais modernas. Acaba tentado a buscar proteção governamental. Os esforços vão no sentido errado.
Qual o setor mais preocupa?
São muitas as preocupações. O setor agropecuário cresceu substancialmente, mas o resultado não se repetirá no restante do ano. A indústria tem mostrado um comportamento excessivamente volátil. Nesse último trimestre, andou para trás. O setor de serviços cresceu bem, no passado recente, mas esse processo parece próximo do fim. Nem mesmo as exportações têm ajudado, devido ao problema de competitividade e à demanda fraca no exterior. Com o que vimos até agora, o crescimento do PIB provavelmente ficará mais perto de 2,5% no ano.
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