Pular para o conteúdo principal

‘Funcionário’ da Al-Qaeda busca ‘novos desafios’


Após ser repreendido por ignorar ordens, terrorista 'se demite' e organiza outro grupo 



Depois de anos tentando discipliná-lo, os líderes da sucursal norte-africana da Al-Qaeda enviaram uma carta ao seu subalterno mais temperamental. Em algumas páginas contundentes, eles reclamam que ele não responde aos seus telefonemas, não lhes envia relatórios de gastos, ignora os encontros e rejeita cumprir ordens. Principalmente, afirmam que ele não realizou nenhuma operação espetacular, apesar dos recursos colocados à sua disposição.
O subalterno, o terrorista internacional Moktar Belmoktar, respondeu à maneira dos empregados talentosos, com um enorme ego, como em corporações de qualquer parte do mundo: demitiu-se e criou o próprio grupo.
E em poucos meses, comandou duas "operações" de grande porte, que causaram a morte de 101 pessoas: um dos maiores sequestros da história numa central de gás operada pela British Petroleum na Argélia, em janeiro, e atentados a bomba simultâneos numa base militar e em uma mina francesa de urânio em Níger, na semana passada.
A carta da Al-Qaeda, encontrada pela Associated Press em um imóvel que havia sido ocupado por seus combatentes no Mali, permite prever a ascensão de um líder terrorista extremamente ambicioso, que se desvinculou do comando regional porque desejava manter contato direto com a Al-Qaeda central. E dá um vislumbre dos trabalhos internos de uma organização bastante estruturada, que exige mensalmente de seus comandantes relatórios de suas despesas e dos desacordos internos que levaram à sua ascensão.
A ruptura também pressagia um ambiente terrorista no qual jihadistas carismáticos podem realizar ataques diretamente em nome da Al-Qaeda, independentemente de estar ou não sob seu comando.
Segundo Rudolph Atallah, ex-chefe de contraterrorismo do Pentágono na África e um dos três especialistas que autenticaram a carta de dez páginas datada de 3 de outubro, a correspondência pode explicar o que ocorreu na Argélia e em Níger, os dois ataques cuja autoria Belmoktar reivindicou num fórum jihadista.
"Ele enviou uma mensagem diretamente a seus ex-chefes na Argélia, dizendo: 'Sou um jihadista. Mereço estar separado de vocês'. E também enviou uma mensagem para a Al-Qaeda, dizendo: 'Veja, aqueles idiotas no norte são incompetentes. Falem comigo diretamente'. E com esses ataques ele chamou muita atenção para sua pessoa", disse Atallah.
Vínculos com cúpula. Nascido no norte da Argélia, Belmoktar, que tem em torno de 40 anos, viajou para o Afeganistão com 19 anos, de acordo com sua biografia online. Ele afirma ter perdido um olho em uma batalha e ter treinado em campos da Al-Qaeda, criando vínculos que lhe permitiriam, duas décadas depois, deixar a sucursal regional.
No decorrer dos anos, surgiram inúmeras notícias de que ele fora marginalizado ou expulso pela Al-Qaeda do Magreb Islâmico.
A carta recuperada em Timbuctu, uma das milhares de páginas de documentos internos escritos em árabe e descobertos pela AP no início do ano, sugere que ele sempre se manteve leal à AQIM até o ano passado e mostra a história do difícil relacionamento.
A carta, assinada pelo conselho da Shura do grupo, formada por 14 membros, o órgão dirigente, descreve o relacionamento com Belmoktar como "uma ferida sangrando" e critica sua proposta de se retirar e iniciar o próprio grupo.
"Sua carta contém muitas calúnias, insultos e zombarias", os integrantes do grupo escreveram. "Nós nos abstivemos de prosseguir nessa batalha verbal no passado, na esperança de que o indisciplinado pudesse ser colocado na linha por meios mais fáceis e mais brandos. Mas a ferida continuou a sangrar e na verdade o sangramento é cada vez maior, até que recebemos sua carta, pondo fim a qualquer esperança de estancar o sangue e curar a ferida."
Eles continuam, comparando seu grupo a "uma alta montanha diante de tempestades ferozes e ondas quebrando". Afirmam, por fim, que a proposta do terrorista "ameaça fragmentar a razão de ser da organização e destroçá-la".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com...
Estudo ‘sem desqualificar religião’ é melhor caminho para combate à intolerância Hédio Silva defende cultura afro no STF / Foto: Jade Coelho / Bahia Notícias Uma atuação preventiva e não repressiva, através da informação e educação, é a chave para o combate ao racismo e intolerância religiosa, que só em 2019 já contabiliza 13 registros na Bahia. Essa é a avaliação do advogado das Culturas Afro-Brasileiras no Supremo Tribunal Federal (STF), Hédio Silva, e da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Lívia Vaz. Para Hédio o ódio religioso tem início com a desinformação e passa por um itinerário até chegar a violência, e o poder público tem muitas maneiras de contribuir no combate à intolerância religiosa. "Estímulos [para a violência] são criados socialmente. Da mesma forma que você cria esses estímulos você pode estim...
Agência Brasil Augusto Aras reitera que seu compromisso é com a atuação na chefia do Ministério Público Federal Aras afirma desconforto com especulação sobre vaga no STF BRASIL O procurador-geral da República, Augusto Aras, em nota, manifesta seu desconforto com a veiculação reiterada de seu nome para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Conquanto seja uma honra ser membro dessa excelsa Corte, o PGR sente-se realizado em ter atingido o ápice de sua instituição, que também exerce importante posição na estrutura do Estado. Segundo Aras, ao aceitar a nomeação para a chefia da Procuradoria-Geral da República, não teve outro propósito senão o de melhor servir à Pátria, inovar e ampliar a proteção do Ministério Público Federal e oferecer combate intransigente ao crime organizado e a atos de improbidade que causam desumana e injusta miséria ao nosso povo. O PGR considerar-se-á realizado se chegar ao final do seu mandato tão somente cônscio de haver cumprido o se...