ONU acusa jihadistas de matarem civis em público na Síria
Brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, que preside comissão de investigação, faz duras críticas aos países-membros do Conselho de Segurança da ONU
"Já afirmamos quatro vezes aos quinze membros do Conselho de Segurança: 'vocês são responsáveis pela impunidade que reina na Síria'", declarou à imprensa o presidente da comissão, o brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro. Ele reconheceu sua impotência para convencer o Conselho de Segurança – órgão apto para recorrer ao Tribunal Penal Internacional – de que é necessário agir no caso da Síria. "Há três anos recebemos provas contra os suspeitos, cada dia temos novos crimes. E a comunidade internacional não intervém", criticou Carla del Ponte, também integrante da Comissão.
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Espetáculo atroz – "As execuções em espaços públicos se transformaram em espetáculo habitual às sextas-feiras em Raqa [reduto do EI] e nas zonas da província de Aleppo controladas pelo Estado Islâmico", afirma o relatório da comissão. Os jihadistas do Estado Islâmico em junho proclamaram um califado nos territórios que controlam no Iraque e na Síria. As execuções sumárias têm o objetivo de "instilar o terror na população" e assegurar a submissão, segundo o relatório.
O documento afirma ainda que os jihadistas estimulam e, às vezes, obrigam a população a assistir as execuções. A maioria das vítimas é de homens adultos, mas a comissão afirma que jovens com idades entre 15 e 17 anos e mulheres também foram executadas. A comissão que elaborou o relatório recebeu mandato do Conselho de Direitos Humanos da ONU para investigar e revelar as violações ao direito internacional no campo dos direitos humanos na Síria.
No texto, os investigadores acusam novamente o governo de Damasco de cometer crimes contra a humanidade e crimes de guerra. A comissão suspeita que a ditadura comandada por Bashar Assad lançou barris de explosivos com cloro em Kafr Zeita, Al-Tamana e Tal Minnis, oeste do país. "Há motivos razoáveis para pensar que utilizaram armas químicas, provavelmente cloro, oito vezes em um período de 10 dez dias no mês de abril", afirma a comissão.
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Estados Unidos – Os Estados Unidos começaram a realizar voos de reconhecimento sobre a Síria para localizar potenciais alvos de ataques aéreos contra os jihadistas do EI. Nesta terça-feira, o porta-voz da Casa Branca Josh Earnest, afirmou que "não há qualquer projeto de coordenação com o regime sírio no momento em que enfrentamos esta ameaça terrorista", mas um funcionário sírio – que pediu para ter a identidade preservada – garantiu que "a cooperação já começou e os EUA passam informação a Damasco através de Bagdá e Moscou".
O governo sírio também deixou claro que qualquer ataque em seu território precisa de sua cooperação, pois, caso contrário, consideraria a atitude uma "agressão". Os EUA, , que efetuaram mais de 100 ataques aéreos contra as posições do EI na região norte do Iraque desde 8 de agosto, cogitou na semana passada a possibilidade de atacar a vizinha Síria, após a decapitação do jornalista americano James Foley por combatentes do grupo extremista. Josh Earnest, no entanto, indicou que o presidente Barack Obama não tinha tomado uma decisão sobre eventuais ataques na Síria.
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Três anos após o início da guerra civil da Síria, um conflito que já matou mais de 190.000 pessoas, não há indicações de que os confrontos estejam próximos do fim. Os esforços para promover um diálogo entre representantes do regime e da oposição não apresentaram avanços até agora. Os protestos contra o regime para tirar Assad do poder se transformaram em uma violenta guerra civil sectária que dividiu ainda mais o país. A oposição síria moderada perdeu espaço com o avanço de diversos grupos extremistas, sendo o Estado Islâmico o mais poderoso deles.
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