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Autópsia mostra que jovem negro morto no Missouri levou seis tiros

Advogados da família de Michael Brown apontam sinais de execução e pedem prisão de policial

Desenho sintetiza os resultados da autópsia independente realizada em Michael Brown
Desenho sintetiza os resultados da autópsia independente realizada em Michael Brown (Reuters)
(Atualizado às 18h21)
Uma autópsia independente encomendada pelos pais de Michael Brown, o jovem negro morto por um policial de Ferguson, no estado do Missouri, em circunstâncias não esclarecidas, revelou que o adolescente foi baleado seis vezes. Segundo o legista Michael M. Baden, ex-chefe da equipe de legistas de Nova York, quatro tiros atingiram o braço de Brown, enquanto os outros dois entraram pela cabeça do adolescente. Embora um dos disparos tenha perfurado o seu olho e saído pela mandíbula, o jovem sobreviveria a todos os ferimentos, exceto ao que foi provocado pelo tiro que atingiu o alto de sua cabeça. Dadas às circunstâncias analisadas por Baden, Brown só poderia ter sido atingido por este disparo se estivesse com a cabeça inclinada para frente, seja em pose de cansaço ou correndo em direção ao policial.
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Baden salientou que “não há sinais de luta” no corpo do jovem de 18 anos, o que derrubaria a hipótese de que ele tentou agredir o policial antes de ser baleado. Como só teve acesso ao corpo do rapaz e não pôde analisar os exames feitos pelas autoridades, Baden disse que não pode precisar o que de fato ocorreu na cidade de Ferguson. A autópsia, entretanto, leva a crer que Brown foi baleado à distância, uma vez que não havia sinais de pólvora em seu corpo. O New York Times reportou que há a possibilidade de as roupas do jovem apresentarem os resquícios de pólvora, mas o legista também não pôde examiná-las.
Na análise de Baden, os tiros que atingiram o braço do rapaz foram disparados primeiro pelo policial. As áreas alvejadas podem sugerir que o adolescente estava com os braços levantados no momento em que levou os tiros. Para Baden, as autoridades responsáveis pela investigação devem conduzir novos testes forenses, inclusive na viatura em que testemunhas disseram ter visto Brown lutando com o policial antes de ser baleado. “Nós precisamos de mais informações. A polícia deveria estar examinado o automóvel para verificar se há resíduo de pólvora lá."
Após a apresentação dos resultados, o advogado da família de Brown, Benjamin Crump, disse que a autópsia ratifica os primeiros testemunhos dados sobre o caso. “Esse teste preliminar nos mostra que os relatos das primeiras testemunhas eram verdadeiros”, declarou. “O número de tiros que foram disparados e a forma como eles atingiram o corpo (de Brown) nos mostram que esse policial tinha um profundo desprezo pelas pessoas que ele deveria proteger. Queremos que as pessoas entendam o que está em jogo neste caso: um oficial de polícia executando um jovem desarmado à luz do dia”, acrescentou Crump. Daryl Parks, outro advogado da família, destacou que a autópsia oferece “amplos” indícios que respaldariam a prisão do policial.
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Lesley McSpadden, mãe de Brown, afirmou que “a justiça só será feita quando este homem for preso e culpado por suas ações”. Ela agradeceu ainda ao apoio que recebeu de Ron Johnson, o policial negro que foi designado para liderar a força-tarefa que tenta conter os protestos em Ferguson. Frente aos novos conflitos entre manifestantes e policiais, o governador do Missouri, Jay Nixon, convocou a Guarda Nacional para “restaurar a paz e a ordem na comunidade”. Atos violentos resultaram em cenas de caos e destruição na cidade de 21.000 habitantes no meio-oeste americano. Os manifestantes desrespeitaram o toque de recolher declarado pelo governo e depredaram lojas e restaurantes na principal rua de Ferguson. A polícia entrou em ação e usou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.
Na última semana, a polícia de Ferguson divulgou o nome do policial que atirou em Brown. Segundo o chefe de polícia, Thomas Jackson, o nome do agente é Darren Wilson, que trabalha na força policial há seis anos. Por cinco dias as autoridades locais se recusaram a divulgar o nome, alegando preocupações com a segurança após a onda de protestos.
'Militarização' - O presidente americano Barack Obama comunicou nesta segunda-feira que o secretário de Justiça, Eric Holder, viajará até Ferguson para acompanhar as investigações sobre uma possível infração aos direitos civis de Brown. Obama também falou sobre o que diversos políticos, tanto da esquerda quanto da direita, passaram a chamar de "militarização" da polícia. Há nos Estados Unidos a possibilidade de forças policiais locais utilizarem concessões do governo federal para adquirir equipamentos militares. Como não existem muitas restrições para o uso dos armamentos, foi possível avistar veículos blindados nas ruas de Ferguson e atiradores de elite no alto dos prédios durante os protestos. O jornal The New York Times já havia apontado que boa parte dos equipamentos usados pelos policiais da cidade americana tinham sido pagos com dinheiro federal.
Para Obama, é importante que haja uma reavaliação do uso dos recursos públicos pela polícia americana. "Seria interessante revisarmos o destino desse financiamento. Como as forças policiais locais estão usando os dólares dos programas de concessões para garantir a compra de equipamentos que elas realmente precisam. Existe uma diferença entre o Exército e a polícia, e nós não queremos que essas linhas se embaralhem", declarou o presidente.

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