Apresentador depõe como testemunha de defesa de um dos réus sobre rombo de R$ 4,3 bilhões descoberto em 2010
O empresário e comunicador Silvio Santos depôs nesta terça feira, 19, na Justiça Federal como testemunha de defesa de um dos réus na ação penal sobre o rombo de R$ 4,3 bilhões no Banco Panamericano, que um dia fez parte do seu conglomerado e quebrou em 2010. "Me diziam que o banco era uma maravilha", afirmou Silvio, ao ser indagado se tinha conhecimento das fraudes.
Silvio Santos chegou cerca de uma hora antes do início da audiência, foi tietado pelas moças da limpeza do fórum e por servidores, mas desta vez não distribuiu aviõezinhos de notas de R$ 100 e pouco exibiu o sorriso que o acompanha desde sempre na TV.
Por 55 minutos, Silvio respondeu às perguntas dos advogados dos acusados, do procurador da República Rodrigo de Grandis e do juiz federal que conduz o processo, Marcelo Costenaro Cavali.
O animador foi evasivo a maior parte do tempo e recorreu, muitas vezes, à expressão "não me lembro", alegando memória falha. No início da audiência, o magistrado o advertiu, nas formas da lei, sobre falso testemunho, que é crime. "Claro que vou dizer a verdade", jurou Silvio.
A sessão foi marcada por indagações sobre o depoimento que ele próprio prestou à Polícia Federal no dia 5 de setembro de 2011. Na ocasião, Silvio disse que acreditava que o presidente do banco, Rafael Palladino, era o "autor intelectual, o craque" da estratégia que levou ao rombo na instituição.
Em juízo, ele disse. "Acho que o Rafael deve ter concordado, mas não que tenha sido o autor intelectual. O cérebro era o Wilson (de Aro, ex-diretor financeiro do banco), esse era até professor de finanças. O Rafael autor intelectual eu não posso garantir, acho que o mais competente dali era o Wilson, pelo currículo dele. O Rafael não é tão competente quanto o Wilson. Não é possível que ele tenha sido o autor intelectual, não creio que ele tenha competência para isso. O Wilson, sim. O Rafael é cunhado, sei lá."
Depoimento. Foi exibida a Silvio cópia daquele depoimento. O magistrado perguntou se ele confirmava o teor do relato à PF. "Só vou pedir que o senhor passe os olhos", sugeriu o juiz. A testemunha pôs os óculos e resmungou. "Tem um bocado de coisa aqui, não há necessidade de eu ler, deve ser tudo verdade." Depois, foi advertido: "não cabe ao senhor avaliar, responda ou não."
Um advogado quis saber de Silvio se ele leu o depoimento à PF. "Devo ter lido, que data foi? Não me lembro nem de ter ido à PF, minha memória, a idade..."
Ele afirmou que também não se lembra de ter ido à polícia acompanhado de advogado. "Não lembro, advogado sabe menos do que eu. Não é meu costume ir com advogado."
Perguntaram a Silvio se ele foi coagido ou se acrescentaram detalhes ao seu relato. "Provavelmente, o delegado não pôs nada na minha boca, até porque não é tão fácil alguém colocar alguma coisa na minha boca."
Indagado sobre a informação se um executivo do grupo havia saído da sede da instituição financeira com "recursos em espécie", ele disse. "Falaram alguma coisa disso, que alguém levou R$ 16 milhões para a garagem, um advogado de nome italiano, acho eu. A única coisa que eu soube. É tanta coisa que falam que eu não me lembro. Fui uma única vez no banco. Não me lembro, realmente, quem me disse isso. O que tem de fofoca. Se você vai se preocupar com fofoca é melhor ser funcionário do que ter uma empresa. Fofoca é muito comum em empresa."
Ele falou sobre Patrícia Abravanel, sua filha, que teria estagiado em vários setores do banco. "Eu não tinha nada a opor. Ela me falou de algumas coisas estranhas (no banco). Ficou pouco tempo lá, mais por curiosidade que por profissão."
Foi indagado se não teve sua atenção despertada quando Patrícia lhe disse sobre "coisas estranhas". "Essas coisas estranhas todo mundo vê."
Ao ser perguntado se ocorriam saques em espécie no banco, ele esquivou-se. "Saques? Eu não sei nem onde é a tesouraria."
Silvio disse que "não sabia" dos pagamentos de bônus para os executivos da instituição. "Não sei, minha função é só animador de programa. Procuro colocar gente competente nas empresas, não me envolvo com as empresas."
Afirmou que não recebia créditos do banco. "Não recebia, nem recebo de nenhuma empresa do grupo, à exceção da Liderança. Dinheiro pra mim só da Liderança Capitalização. E continua vindo. O resto vai para as empresas."
Indagado se sabia da situação deficitária do Panamericano, ele disse. "Me diziam que o banco sempre apresentava uma situação maravilhosa. O Rafael (Palladino) era o presidente, dizia-se dele que era o melhor executivo que eu tinha. Eu só me reportava ao Sandoval (Luiz Sebastião Sandoval, presidente do Grupo Silvio Santos), com muita competência. Não acredito que ele esteja envolvido em qualquer situação irregular no banco, ele me colocava a par de alguma coisa que não fosse normal. O Sandoval não podia fazer nenhum milagre, nem eu, nem ninguém. O Sandoval sempre contratava os melhores advogados, os melhores pareceres."
Fraude. "Quando fui alertado chamei algumas pessoas para um interrogatório. Fui tentar saber com a sensibilidade que julgo que tenho. Eu nunca me preocupava com o banco, até porque tinha duas auditorias e tinha a fiscalização do Banco Central. Lamentavelmente, essas 3 áreas falharam, tanto o Banco Central quanto as auditorias."
Sobre Adalberto Savioli, ex-diretor de créditos do banco, Silvio disse. "Me disseram que era um craque em computação. Não sei porque disseram que ele era um craque. Cada um falava uma coisa. O Rafael tinha o conceito de melhor diretor do grupo, diziam que se um dia o Sandoval deixasse a presidência (do Grupo Silvio Santos), o Rafael poderia ficar no lugar. Ainda bom que o Sandoval não saiu e o Rafael não virou substituto dele."
Sobre a composição do grupo que dirige, o animador foi impreciso, mas não perdeu a oportunidade para fazer propaganda de seu patrimônio. "Dizem que tem 30 empresas. Eu só conheço três, a Jequiti, que é muito atuante no mercado, a Liderança e o SBT. Eu acho que a Liderança é a única empresa que me dá numerário, em razão da minha imagem, da minha credibilidade e da minha voz. Por razões tributárias é uma empresa dentro da outra. Que tem 30 tem, agora, quais são as 30 eu não sei. Todo mês eu participava de reuniões, tinha o Resultado Geral dos Acionistas. Aquilo ali, ler ou não ler é a mesma coisa. É tanto número! Eu finjo que entendo, é muito número."
Ele contou que recebeu os executivos de sua holding na sede do SBT, quando foi, então, comunicado sobre "o tumulto que aconteceu". "Eles foram em quatro falar comigo na TV. Eu disse a eles: 'se virem, se aconteceu vocês que se virem'. Eu creio que nenhum desses, à exceção do Rafael (Palladino) sabia o porquê (do rombo)."
"Fui chamado no Banco Central, um diretor, creio que o chefe da fiscalização aqui em São Paulo, me recebeu", prosseguiu Silvio. "Ele falou para eu telefonar para o órgão que dá suporte (Fundo Garantidor de Crédito). Me disseram que o rombo era de R$ 2,5 bilhões. Dei em garantia meus bens para pagar em 10 anos, com carência de 2 anos, ou 3 anos. Logo depois disseram que o rombo era de R$ 4,3 bilhões. Ora, eu voltei lá e disse 'além dos bens eu não tenho mais nada' . Aí apareceu o comprador, o Banco Pactual."
Ao ser perguntado quanto recebeu de dividendos do Panamericano, o animador afirmou. "Nada, zero."
À saída, Silvio manteve a estratégia. "Quem foi o responsável pelo rombo de R$ 4,3 bilhões?" perguntaram. "Eu sei lá, você pergunta pra polícia, eu não sou policial."
"O sr. teve muita dor de cabeça?", ouviu. "Faz tempo que eu não tenho dor de cabeça."
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