Primeira rodada de negociação de paz na Síria termina em impasse
Lakhdar Brahimi, mediador da ONU se declarou 'muito, muito desapontado'. Próximo encontro entre oposição e governo sírios será em 10 de fevereiro
Enviado da ONU para a Síria, Lakhdar Brahimi concede entrevista em Genebra, na Suíça (/Reuters)
"Espero que na próxima sessão, quando voltarmos, a gente consiga ter uma discussão mais estruturada", afirmou o mediador Lakhdar Brahimi, que de declarou "muito, muito desapontado" pelo fato de um comboio de ajuda da ONU estar ainda esperando para entrar na cidade de Homs, controlada pelos rebeldes, onde há pessoas passando fome. Jens Laerke, porta-voz da ONU, afirmou que as negociações sobre a ajuda humanitária ainda estão em andamento.
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Sem obter resultados, os diplomatas dizem que a prioridade agora é manter as negociações vivas e esperar que as posições extremadas se modifiquem com o tempo. O primeiro encontro entre o governo do ditador Bashar Assad e seus opositores começou na semana passada, com uma conferência internacional onde os dois lados se mantiveram firmes nas suas posições. As negociações pareceram estar à beira do colapso antes de começarem, e colocar posteriormente representantes dos dois grupos na mesma sala foi visto como uma conquista.
Numa tentativa de avançar, os dois lados concordaram na quarta-feira em usar um documento de 2012 como base para as discussões, mas logo ficou claro que as diferenças permaneciam. A pauta adotada em 2012 para as negociações fala na implementação de um governo provisório, que a oposição e os seus aliados internacionais dizem que deve excluir o ditador Assad. A sessão final de negociações na quinta-feira começou com um gesto raro de harmonia, quando os dois lados fizeram um minuto de silêncio pelas 130.000 pessoas mortas durante a guerra. "Simbolicamente foi positivo", disse Ahmad Jakal, representante da oposição. (Continue lendo o texto)
No entanto, os dois grupos rapidamente voltaram para o impasse. Os representantes do governo acusaram a oposição de apoiar o terrorismo, por ela se recusar a assinar um documento que condenava a prática. "Apresentamos uma proposta para que os dois lados concordassem sobre a importância de combater a violência e o terrorismo. O outro lado rejeitou porque eles estão envolvidos em terrorismo", disse o vice-ministro do Exterior da Síria, Faisal Mekdad. Damasco usa a palavra "terrorista" para se referir a todos os rebeldes. Países ocidentais declararam terroristas alguns grupos islâmicos entre os rebeldes, mas consideram outros grupos combatentes legítimos.
Cerca de 1.900 pessoas morreram na Síria desde o início das negociações de paz em Genebra, em 22 de janeiro, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH). "Isso dá uma média de 208 mortos por dia e o número real de mortes é certamente mais elevado", disse o diretor do Observatório, Rami Abdel Rahman. Ao menos 498 civis estão entre as vítimas do conflito, que não foi interrompido durante o encontro em Genebra. "A conferência de paz de Genebra deveria ter sido realizada com um cessar total das operações militares e das prisões. Pedimos à comunidade internacional que atua de forma séria e real para deter o assassinato e as violações dos direitos humanos na Síria antes de promover uma solução política", completou.
Ajuda paralisada – Um comboio da ONU com toneladas de ajuda humanitária para cerca de 2.500 civis em Homs, que sofrem com um cerco militar há mais de um ano, “segue esperando” que o governo sírio e os grupos armados cheguem a um acordo para permitir o acesso seguro à cidade. “Lamentavelmente, o comboio não se move e segue esperando. O governo e os grupos armados estão negociando o acesso”, declarou o porta-voz da ONU Jens Laerke.
O funcionário disse que depende das partes, e não da ONU, “negociar entre elas o modo para que a distribuição seja segura, tanto para quem a efetua como para os beneficiados”. O carregamento de ajuda contém alimentos, artigos de primeira necessidade e contra o frio, remédios e vacinas. Sobre a possibilidade de fazer uma distribuição aérea de ajuda em Homs, a porta-voz do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Elizabeth Byrs, disse que esta é uma opção utilizada em “casos muito específicos” e não esclareceu se está pensando em adotá-la.
(Com agências Reuters e EFE)
Os principais grupos de oposição na Síria
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Chefes: Ahmed Jarba
Princípios: defender a soberania e independência nacional com um regime civil e democrático; preservar a unidade do povo sírio e do país; não estabelecer nenhum diálogo ou negociação com o regime de Assad
Em resposta à pressão estrangeira por uma nova aliança que substituísse o Conselho Nacional Sírio, visto como ineficiente e consumido por disputas internas, as facções de oposição se reuniram no Catar para assinar o acordo de criação da Coalizão Nacional Síria das Forças de Oposição e da Revolução (CNFROS). Basicamente, o objetivo da CNFROS é o mesmo que o CNS – derrubar por via legal o ditador Bashar Assad e estabelecer um “estado civil democrático e pluralístico”. No entanto, ela tem a pretensão de ser um conselho de liderança mais inclusivo, que assuma o papel de representante legítima do país para receber ajuda financeira e militar de países estrangeiros.
De fato mais abrangente, a coalizão conta com membros de outros 14 grupos opositores, incluindo o próprio Conselho Nacional Sírio. Mas não aceita militantes islâmicos como os da Frente Al-Nusra, classificada como grupo terrorista pelos Estados Unidos.
Assim que foi criada, a CNFROS conseguiu o reconhecimento dos países do Conselho de Cooperação do Golfo, das 21 nações da Liga Árabe, de alguns países europeus e dos Estados Unidos. Mas a aliança enfrenta problemas semelhantes aos do CNS, e não conseguiu formar um governo provisório dentro da Síria para administrar as áreas dominadas pelos rebeldes.
Coalizão Nacional Síria das Forças de Oposição e da Revolução (CNFROS)
Dirigentes da Coalizão Nacional das Forças de Oposição da Revolução Síria em março de 2013 Criação: Novembro de 2012Chefes: Ahmed Jarba
Princípios: defender a soberania e independência nacional com um regime civil e democrático; preservar a unidade do povo sírio e do país; não estabelecer nenhum diálogo ou negociação com o regime de Assad
Em resposta à pressão estrangeira por uma nova aliança que substituísse o Conselho Nacional Sírio, visto como ineficiente e consumido por disputas internas, as facções de oposição se reuniram no Catar para assinar o acordo de criação da Coalizão Nacional Síria das Forças de Oposição e da Revolução (CNFROS). Basicamente, o objetivo da CNFROS é o mesmo que o CNS – derrubar por via legal o ditador Bashar Assad e estabelecer um “estado civil democrático e pluralístico”. No entanto, ela tem a pretensão de ser um conselho de liderança mais inclusivo, que assuma o papel de representante legítima do país para receber ajuda financeira e militar de países estrangeiros.
De fato mais abrangente, a coalizão conta com membros de outros 14 grupos opositores, incluindo o próprio Conselho Nacional Sírio. Mas não aceita militantes islâmicos como os da Frente Al-Nusra, classificada como grupo terrorista pelos Estados Unidos.
Assim que foi criada, a CNFROS conseguiu o reconhecimento dos países do Conselho de Cooperação do Golfo, das 21 nações da Liga Árabe, de alguns países europeus e dos Estados Unidos. Mas a aliança enfrenta problemas semelhantes aos do CNS, e não conseguiu formar um governo provisório dentro da Síria para administrar as áreas dominadas pelos rebeldes.
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