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Obama promete ação mesmo sem apoio do Congresso



Obama promete ação mesmo sem apoio do Congresso
Em um ano crucial para determinar o sucesso do resto do seu mandato, o presidente Barack Obama exortou o Congresso americano a trabalhar junto com a Casa Branca para fazer de 2014 um 'ano de ação', ao mesmo tempo que em indicou que está disposto a governar sem o apoio dos legisladores se os impasses políticos continuarem.
Ao proferir na noite da terça-feira o tradicional e aguardado discurso sobre o estado da União, dirigido a uma sessão conjunta do Congresso, Obama exaltou os sucessos econômicos de seus cinco anos de governo, e estendeu uma mão aos seus adversários republicanos que impediram o avanço da agenda legislativa do governo no ano passado.
Entretanto, disse o presidente, 'os Estados Unidos não param e nem eu vou parar'. 'Sempre que eu puder agir independentemente do Legislativo para expandir as oportunidades para mais famílias norte-americanas, o farei', disse Obama.
As demonstrações de trégua política deste ano contrastaram com as provas de força dadas pelo presidente no ano passado.
No discurso da União de 2013, Obama, surfando na onda da reeleição dois meses antes, abraçou projetos legislativos ambiciosos, porém pouco palatáveis para muitos republicanos, como leis de restrição às armas de fogo e a possibilidade de cidadania para mais de 10 milhões de imigrantes indocumentados que vivem nos EUA.
Mas sem o apoio da oposição, que domina a Câmara baixa, projetos nas duas áreas ficaram com a tramitação parada no Congresso.
Nas próximas eleições legislativas, marcadas para novembro, alguns analistas avaliam que existe a possibilidade de os republicanos retomarem a maioria também no Senado - o que deixaria Obama ainda mais isolado.
Por isso, o presidente caminhou na terça-feira sobre uma linha tênue, entre tentar convencer os republicanos moderados a trabalhar com a Casa Branca e flexionar seu músculo político para prometer ao país que o Executivo não vai ficar parado esperando pelo Legislativo.
Solo ou solidariedade
Desta vez o presidente anunciou medidas mais modestas: por exemplo, o aumento do piso salarial que o governo federal vai requerer das empresas que lhe prestam serviço (de US$ 7,25 para US$ 10,10) e a criação de quatro novos institutos de manufatura voltados para promover aspectos da inovação na indústria americana.
Temas espinhosos mereceram apenas menções. Obama indicou que continuará defendendo mais controle sobre as armas de fogo, sem deixar claro se a Casa Branca promoverá novas iniciativas legislativas em 2014.
Ele também voltou a defender a reforma das leis de imigração - mas mal encerrado o discurso a maior entidade de trabalhadores diaristas dos EUA, NDLON, criticou o presidente por não usar poderes executivos para conter as deportações de imigrantes indocumentados enquanto a reforma do setor não é aprovada no Congresso.
Nos cinco anos de Obama, as deportações já somaram perto de 2 milhões - um recorde histórico em mandatos presidenciais.
Na política externa, o presidente pediu ao Congresso que adiante legislação que permita o fechamento da prisão de Guantánamo, na ilha de Cuba, e que lhe poupe de vetar uma lei contendo novas sanções para o Irã que possam prejudicar as negociações entre Washington e Teerã.
'Se John F. Kennery e Ronald Reagan puderam negociar com a União Soviética, com certeza uma América forte e confiante pode negociar com adversários menos poderosos de hoje', argumentou.
No discurso de mais de uma hora, os avanços da economia americana nos últimos cinco anos receberam atenção especial. Mas mesmo levando o crédito pelas políticas que apoiaram o crescimento, o presidente atribuiu parte do sucesso à ética do trabalho dos cidadãos comuns.
Ele citou um de seus adversários mais poderosos - o presidente da Câmara, republicano John Boehner, filho de um bartender - como exemplo da 'promessa' de mobilidade social encampada pelo sonho americano.
'Nos próximos meses, vamos ver onde mais podemos progredir juntos. Vamos fazer deste um ano de ação', disse Obama.
'Depois de cinco anos de perseverança e esforço com determinação, os Estados Unidos estão mais bem posicionados para o século 21 que qualquer outra nação no planeta. A questão para todos neste recinto, implícita em cada decisão que tomarmos neste ano, é se vamos ajudar ou obstar esse progresso.'
Divisões
A pergunta é justamente a que fizeram vários analistas americanos antes e depois do discurso. No ano passado, nem com a legitimização da reeleição Obama conseguiu aprovar a sua agenda legislativa.
O que não foi barrado pela oposição ficou ofuscado pelo escândalo da espionagem, a partir de junho, a paralisação parcial do governo, em outubro, e os problemas técnicos que tumultuaram a venda online de seguros-saúde no âmbito da reforma da saúde aprovada em 2010 - uma mancha na história do maior legado de Obama.
O presidente começa 2014, seu sexto ano de governo, enfraquecido politicamente. Segundo uma pesquisa de opinião do jornal Wall Street Journal e da rede de TV NBC, a desaprovação de Obama está em 51% - o segundo pior desempenho para um presidente a esta altura do mandato desde os anos 1930.
Só o republicano George W. Bush obteve números piores (54% de desaprovação) no mesmo momento.
Se os os republicanos retomarem o controle do Senado em novembro, Obama seria obrigado a passar os seus dois últimos anos na Casa Branca negociando com um Congresso totalmente dominado pela oposição.
Para o historiador Allan Lichtman, da American University em Washington, a 'sorte' de Obama é que tampouco a oposição republicana goza de uma aprovação popular mais alta. Na pesquisa do Wall Street Journal e da NBC, apenas 24% aprovam o trabalho dos republicanos no Congresso.
O partido está dividido entre facções mais moderadas e conservadoras, que não se entendem em temas como imigração, a lei da saúde e as prioridades orçamentárias. Um exemplo desta divisão foi o fato de quatro porta-vozes - e não um, como manda a tradição - responderem ao discurso de Obama na terça-feira.
Além da resposta 'oficial' do partido, dada pela deputada Cathy McMorris Rodgers (do Estado de Washington), dois outros possíveis presidenciáveis republicanos para 2016 também se pronunciaram: os senadores conservadores Rand Paul e Ted Cruz (Kentucky e Texas), além do deputado Mike Lee (Utah).
'Apesar de todos os problemas de Obama, os problemas dos republicanos são maiores', disse o professor Lichtman em um evento em Washington na terça-feira.

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