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Delcídio confirma que a voz no áudio é dele, mas nega acusações

Em depoimento à Polícia Federal, o senador petista alegou que queria ajudar Nestor Cerveró a sair da prisão por "uma questão humanitária"

O senador Delcídio Amaral (PT), em 2005
Delcídio do Amaral teria tentado dificultar investigações da Lava Jato (AFP)
Em depoimento prestado nesta quinta-feira na Superintendência da Polícia Federal (PF), em Brasília, o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) afirmou que pretendia "ajudar" o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró a sair da prisão por "uma questão humanitária". No entender da Procuradoria-Geral da República, no entanto, Delcídio buscava obstruir o avanço das investigações e evitar que Nestor Cerveró firmasse acordo de delação premiada. No interrogatório que durou quase quatro horas, ele negou as acusações.
O depoimento foi conduzido pelo delegado Thiago De Lamare, que atua na força-tarefa da Lava Jato e foi acompanhada por dois procuradores da República e dois advogados do senador. Durante a conversa, o delegado mostrou as gravações feitas pelo filho de Nestor Cerveró, Bernardo, e que serviram de embasamento para o pedido de prisão do parlamentar. Delcídio confirmou que a voz da gravação é dele, mas negou que tenha tentado dissuadir Cerveró a não fazer a delação premiada. "Foram com intuito de dar uma palavra de esperança e de conforto para o familiar de um réu que está preso, mas jamais falei com qualquer ministro do STF sobre o assunto."
Segundo o petista, ele foi procurado pelo filho do ex-diretor da Petrobras por meio do advogado. "Apenas dei essa palavra de conforto vendo o desespero do filho de um dos presos. Ele (Bernardo) se apresentou a mim pedindo ajuda. Eu disse que ia ajudar e tentar interceder, mas isso foi apenas uma questão humanitária, para confortar o familiar do réu preso da Lava Jato", afirmou o senador à PF.
No diálogo gravado por Bernardo, Delcídio, um assessor de seu gabinete e o advogado Edson Ribeiro chegam a planejar um roteiro de fuga para Cerveró deixar o Brasil após conseguir a liberação pelo Supremo. A intenção, conforme os relatos, era levar o ex-diretor da Petrobras para a Espanha.
'Relação próxima' - A PF quis saber de Delcídio sobre a participação do advogado, ex-defensor de Cerveró e até ontem procurado pela Interpol também por envolvimento no episódio. O senador disse que o advogado entrou em contato com ele e pediu uma reunião. "Levou junto (na reunião) o Bernardo. Eu o recebi. Eu tinha uma relação próxima com Nestor Cerveró e com a família do Nestor Cerveró. Por esse motivo, eu os recebi. Na conversa, Edson Ribeiro começou a relatar que tinha entrado com habeas corpus (para Cerveró), relatou o drama pessoal, o sofrimento pessoal que Nestor Cerveró está passando. Eu disse que ia tentar ajudar, mas foi uma palavra de conforto ao filho (Bernardo)", reiterou.
Delcídio deverá ser ouvido novamente pela PF. Existem outras questões que os investigadores querem submeter ao senador, como, por exemplo, sua ligação com o banqueiro André Esteves, presidente do BTG Pactual, que, conforme as tratativas gravadas por Bernardo, ficaria responsável por uma mesada de 50 mil reais para a família de Cerveró em troca do silêncio do ex-diretor da Petrobras.
"O senador deu as explicações de maneira contundente", afirmou o advogado do senador, Maurício Silva Leite. Ele disse que o petista aguarda "sereno o desenrolar das investigações, mas muito chateado".
O senador está preso na carceragem da Polícia Federal (PF) em Brasília após decisão unânime da segunda turma do Supremo Tribunal Federal (STF). O plenário do Senado decidiu manter a prisão de Delcídio. Em votação aberta, os parlamentares decidiram que o petista deverá ser mantido preso por 59 votos contra 13 e 1 abstenção.

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