A história de uma foto
EDSON RIBEIRO - Ué, fizeram acordo, né?
DELCÍDIO DO AMARAL- Diz o Eduardo que fez.
RIBEIRO- Tranquilo. Foi Suíça.
DELCÍDIO - Foi?
RIBEIRO - Tinha conta realmente do Romário.
BERNARDO CERVERÓ - Tinha essa conta?
DELCÍDIO- E em função disso fizeram acordo.
RIBEIRO - Tinha dinheiro no banco que foi encontrado. Tira, senão você vai preso.
DELCÍDIO - O que eu achei estranho foi ele (Eduardo Paes) Eu disse: Romário, o que você está fazendo aqui? E ele me disse: Eu estou acompanhando o Eduardo.
RIBEIRO - Esquisito né? Essa é a informação que me deram.
DELCÍDIO - (Com) o Eduardo eu tenho intimidade, principalmente na CPI dos Correios (presidida por ele, tendo Paes de sub-relator). Ele era meu braço direito na CPI. Ele me disse - Não Delcídio. Eu chamei o Romário, disse na frente do Romário, nós acertamos uma aliança para o Romário apoiar o Pedro Paulo (candidato de Paes a sua sucessão na prefeitura do Rio de Janeiro) Mas tem esse motivo é? Não é possível o que aconteceu. Quando eles chegaram eu disse: -O que vocês estão fazendo aqui, juntos? Daí o Eduardo explicou que fizeram uma composição. Daí eu fui fazer uma foto e eles fizeram juntos com as mãos.
O diálogo ocorreu entre o senador Delcídio do Amaral, do PT, Bernardo, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, preso e condenado por crimes apurados pela Operação Lava Jato, e o advogado deste, Edson Ribeiro. A conversa acima, gravada por Bernardo, vem logo em seguida à explicação pelo atraso feita aos demais por Delcídio, preso esta manhã por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), por liderar uma operação (fracassada) de comprar o silêncio de Cerveró sobre os crimes do lulopetismo na Petrobras. Na gravação, disponível na íntegra na coluna Radar, de Veja.com, Delcídio diz que recebeu em seu gabinete no Senado o prefeito do Rio de Janeiro Eduardo Paes, seu braço-direito, Pedro Paulo Carvalho, e Romário no dia 4 de novembro. O primeiro à esquerda na foto é o senador Ricardo Ferraço.
Quando se junta o diálogo com a fotografia, o que se depreende da situação é que os presentes falaram com certo espanto de um "acordo" político que teria sido feito entre Paes e Romário ( ele desistiria de sua candidatura à prefeitura do Rio e apoiaria o candidato de Paes) "em função" da conta do ex-craque no banco suíço BSI --comprado em 2014 pelo BTG Pactual, de André Esteves, também preso hoje por participar da mesma operação de Delcídio junto a Cerveró, com o objetivo de garantir seu silêncio sobre crimes na Petrobras.
A reunião em que mãos superpostas celebraram o acordo ocorreu no dia 4 de novembro passado. A reportagem de VEJA foi publicada em julho. O desmentido de Romário e do BSI vieram no começo de agosto. VEJA se desculpou com Romário pelo seu site no dia 5 de agosto e, na revista impressa, na edição com data de capa de 12 de agosto. Que força teria o prefeito Paes, três meses depois desses eventos, para pressionar Romário? A resposta a essa pergunta, até que mais fatos sejam conhecidos, só pode ser respondida no terreno da lógica especulativa. Guilherme Paes, irmão de Eduardo Paes, é sócio do BTG, o banco que comprou o BSI, que emitiu nota desmentindo a informação de VEJA sobre a conta de Romário. Paes poderia ter convencido Romário a fazer o acordo usando como mecanismo de pressão a ameaça de se valer do irmão para revelar que a conta do ex-craque na Suíça efetivamente existe ou, pelo menos, existiu? É uma especulação lógica. Também o seria admitir que Paes pode ter falado da descoberta de outras contas de Romário na Suíça - não necessariamente aquela que deu ensejo à reportagem de VEJA em julho.
Romário usou sua página no Facebook para se manifestar sobre os diálogos gravados pelo jovem Cerveró. : "O advogado levanta suspeita sobre um assunto que já foi esclarecido por mim e pelas autoridades brasileiras e suíças. (...) Qual a credibilidade do advogado de um bandido, corrupto e responsável por roubar uma das principais empresas do país?".
O prefeito Eduardo Paes admitiu em nota que esteve no gabinete do senador Delcídio do Amaral, no dia 4 de novembro, na companhia dos senadores Ricardo Ferraço e Romário e do secretário Municipal de Governo, Pedro Paulo, mas "em busca de apoio para colocar em pauta e votar o projeto de Resolução do Senado Federal 17/2015 (que altera a resolução 43/ 2001)". A nota informa que a matéria, já aprovada, "é de autoria dos senadores Romário e José Serra, e trata da securitização das dívidas de estados e municípios". Paes nega o acordo mas reafirma que que "gostaria de ter o apoio político de Romário ao seu candidato à Prefeitura do Rio em 2016".
VEJA considera relevante o diálogo registrado nas gravações de Bernardo Cerveró e o toma como mais um motivo para, como escreveu no pedido de desculpas a Romário em agosto passado, continuar "apurando o episódio", internamente revisando o" processo que, sem nenhuma má-fé", resultou na reportagem e, na frente externa, tentando "esclarecer as ações de pessoas antes e depois" de sua publicação.
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