Pular para o conteúdo principal

Renan questiona decisão do STF e ensaia tese para soltar Delcídio

Presidente do Senado disse que 'flagrante' do crime do senador não está claro. Oposição quer votação aberta

O presidente do Senado, Renan Calheiros
O presidente do Senado, Renan Calheiros(Reuters)
Diante do risco de a prisão cautelar do senador petista Delcídio Amaral (PT-MS) abrir um precedente para que parlamentares sejam detidos no exercício do mandato, o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) apelou nesta quarta-feira para uma interpretação enviesada da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e disse que não está claro que o caso Delcídio caracteriza um "flagrante" - situação em que a Constituição permite a prisão de um congressista. A estratégia é tentar interpretar de forma diversa a claríssima decisão do ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no STF, e, com isso, abrir caminho para que Delcídio não tenha de necessariamente de ficar sob custódia do Estado.
No pedido de prisão contra o senador Delcídio, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse que o crime de organização criminosa, do qual o senador é acusado, representa "estado de flagrância". "Os graves fatos narrados na presente peça não deixam dúvidas de que o Senador Delcídio Amaral, seu assessor Diogo Ferreira e o advogado Edson Ribeiro integram a organização criminosa investigada no âmbito da Operação Lava Jato e vêm atuando em beneficio dessa, mediante repartição de tarefas e unidade de desígnios, estando, portanto, em flagrante delito no que se refere ao crime previsto no art. 2°, caput, da Lei n° 12.850/2013 [trecho da lei que descreve o crime de organização criminosa]", disse o chefe do Ministério Público.
Janot chegou até a citar precedentes do próprio Supremo, como um habeas corpus de relatoria da ministra Rosa Weber em que a Corte admite que o crime de organização criminosa é um crime permanente e, portanto, "contempla a possibilidade de flagrante a qualquer tempo".
No despacho em que autorizou a prisão de Delcídio, o ministro Teori Zavascki também foi claro: "Presentes situação de flagrância e os requisitos do art. 312 do Código de Processo Penal [que prevê critérios para a prisão preventiva, como garantia da ordem pública] decreto a prisão cautelar do Senador Delcídio Amaral".
Já Renan afirmou nesta quarta ao abrir a sessão que decidirá o destino de Delcídio: "Cabe, pois, a este plenário decidir nos autos em questão já devidamente publicizados se esta configura a flagrância do delito inafiançável. Saliento que a decisão do ministro Teori Zavascki não fala em prisão flagrante, mas apenas em prisão cautelar, que é sinônimo de prisão provisória. Saliento ainda, e esse fato é muito importante, que o MP requereu que fosse decretada a prisão preventiva, que é outra espécie de efeito de prisão cautelar, diversa, porém, da prisão em flagrante a que se refere a Constituição Federal". A interpretação pode abrir caminho para beneficiar Delcídio. O presidente do Senado lembrou até que o próprio Janot afirmou que, caso não fosse possível a prisão, o senador poderia ser afastado temporariamente do mandato ou que use tornozeleira eletrônica.
Voto aberto - Senadores oposicionistas recorreram nesta quarta ao STF com mandado de segurança preventivo. Eles alegam que a sessão não pode ser secreta. Querem que a votação que confirmará ou não a prisão do petista Delcídio Amaral seja feita por meio de voto aberto, quando cada parlamentar deve dizer publicamente se é a favor de manter a detenção. Desde 2002, o STF não precisa mais de autorização prévia para processar parlamentares sem licença prévia do Congresso, mas a Constituição ainda estabelece que os autos que determinam a prisão de um congressista deverão ser analisados pelo Plenário do Senado no prazo de 24 horas. Por unanimidade, a 2ª Turma do Supremo confirmou nesta quarta a detenção do senador petista porque considerou que a atuação de Delcídio de coagir o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró para obstruir as investigações da Operação Lava Jato seria um crime permanente e, portanto, passível de prisão.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Procurador do DF envia à PGR suspeitas sobre Jair Bolsonaro por improbidade e peculato Representação se baseia na suspeita de ex-assessora do presidente era 'funcionária fantasma'. Procuradora-geral da República vai analisar se pede abertura de inquérito para apurar. Por Mariana Oliveira, TV Globo  — Brasília O presidente Jair Bolsonaro — Foto: Isac Nóbrega/PR O procurador da República do Distrito Federal Carlos Henrique Martins Lima enviou à Procuradoria Geral da República representações que apontam suspeita do crime de peculato (desvio de dinheiro público) e de improbidade administrativa em relação ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL). A representação se baseia na suspeita de que Nathália Queiroz, ex-assessora parlamentar de Bolsonaro entre 2007 e 2016, período em que o presidente era deputado federal, tinha registro de frequência integral no gabinete da Câmara dos Deputados  enquanto trabalhava em horário comerci
Atuação que não deixam dúvidas por que deveremos votar em Felix Mendonça para Deputado Federal. NÚMERO  1234 . Félix Mendonça Júnior Félix Mendonça: Governo Ciro terá como foco o desenvolvimento e combate às desigualdades sociais O deputado Félix Mendonça Júnior (PDT-BA) vê com otimismo a pré-candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República. A tendência, segundo ele, é de crescimento do ex-governador do Ceará. “Ciro é o nome mais preparado e, com certeza, a melhor opção entre todos os pré- candidatos. Com a campanha nas Leia mais Movimentos apoiam reivindicação de vaga na chapa de Rui Costa para o PDT na Bahia Neste final de semana, o cenário político baiano ganhou novos contornos após a declaração do presidente estadual do PDT, deputado federal Félix Mendonça Júnior, que reivindicou uma vaga para o partido na chapada majoritária do governador Rui Costa (PT) na eleição de 2018. Apesar de o parlamentar não ter citado Leia mais Câmara aprova, com par
Estudo ‘sem desqualificar religião’ é melhor caminho para combate à intolerância Hédio Silva defende cultura afro no STF / Foto: Jade Coelho / Bahia Notícias Uma atuação preventiva e não repressiva, através da informação e educação, é a chave para o combate ao racismo e intolerância religiosa, que só em 2019 já contabiliza 13 registros na Bahia. Essa é a avaliação do advogado das Culturas Afro-Brasileiras no Supremo Tribunal Federal (STF), Hédio Silva, e da promotora de Justiça e coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Proteção dos Direitos Humanos e Combate à Discriminação (Gedhdis) do Ministério Público da Bahia (MP-BA), Lívia Vaz. Para Hédio o ódio religioso tem início com a desinformação e passa por um itinerário até chegar a violência, e o poder público tem muitas maneiras de contribuir no combate à intolerância religiosa. "Estímulos [para a violência] são criados socialmente. Da mesma forma que você cria esses estímulos você pode estimular