Empréstimo a Bumlai foi ligado por Marcos Valério ao caso Celso Daniel
Operador do mensalão afirmou ao MP que dinheiro silenciou empresário que ameaçava implicar Lula e Gilberto Carvalho no crime. Ao pedir a prisão do pecuarista, Lava Jato relembra depoimento, mas diz que destino do dinheiro é incerto
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"Após ser transferido ao frigorífico Bertin, o destino final dos 12 milhões de reais ainda é controverso. Uma tese seria de que os recursos foram destinados ao Partido dos Trabalhadores com o objetivo de pagar dívidas da campanha presidencial (versão dada por Fernando Soares e Eduardo Musa). Outra versão seria de que o dinheiro foi utilizado para pagar um empresário de Santo André que ameaçava envolver pessoas relacionadas à cúpula do Partido dos Trabalhadores no caso Celso Daniel (versão de Marcos Valério)", afirma o MP no pedido de prisão de Bumlai.
O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato, afirmou que está investigando o percurso do empréstimo tomado do Banco Shahin até chegar ao caixa do PT. "Temos indicativos claros do uso de falsos documentos para a falsa quitação do empréstimo. O caminho do dinheiro para o PT ainda está em investigação". Ele também afirmou que não há provas da participação de Lula no petrolão, mas chamou a atenção para o fato de o nome do ex-presidente ter sido usado por Bumlai para viabilizar as negociações. "Esses empréstimos já eram noticiados por Marcos Valério naquela época (do mensalão). Há uma continuidade do uso de nomes de pessoas ligadas ao governo, incluindo o ex-presidente, por parte de Bumlai", afirmou.
Em seu depoimento de 2012, Valério cita o navio sonda locado à Schahin, a intermediação de Bumlai e o assassinato do ex-prefeito. Um montante de 6 milhões de reais teria sido repassado ao empresário de transportes de ônibus de Santo André Ronam Pinto para impedir que ele implicasse Gilberto Carvalho, Lula e José Dirceu no caso, segundo o depoimento de Valério. "Desse modo, Marcos Valerio também corroborou a versão do colaborador Eduardo Musa no sentido de que o empréstimo concedido a Bumlai destinava-se a pagar dívidas do PT, sendo posteriormente saldado com a contratação da Shahim para operação do navio-sonda Vitoria 10.000. Valério, contudo, vai mais longe, alegando que o empréstimo de Bumlai visava comprar o silêncio do empresário Rinam Pinto de Santo André, que ameaçava envolver pessoas ligadas ao PT à morte de Celso Daniel", diz relatório do MPF entregue ao juiz Sergio Moro.
Caso Celso Daniel - Prefeito de Santo André e coordenador da campanha de Lula, Celso Daniel foi sequestrado ao sair de uma churrascaria e morto em circunstâncias misteriosas em janeiro de 2002. O caso chocou o país. As investigações também: seguindo um estranho roteiro, a procura pelos assassinos esbarrava sempre em evidências de corrupção. E mais mortes. Sete pessoas ligadas ao crime morreram em circunstâncias também misteriosas, entre acusados, testemunhas, um agente funerário, um investigador e o legista do caso.
Conforme a versão da polícia, abraçada pelos petistas, Celso Daniel foi vítima de crime comum: extorsão mediante sequestro, seguido de morte. Já familiares afirmam desde o início do caso que a morte do prefeito é um crime político em torno de um esquema de propina em Santo André que era do conhecimento da cúpula petista. É também a tese do Ministério Público: desentendimentos sobre a partilha dos recursos teriam motivado o assassinato.
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