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Entrevista de Moreira Franco, um dos principais quadros do PMDB, deixa claro que ele já não acredita que ela chegue ao fim do mandato

Moreira Franco, ex-ministro da Aviação Civil de Dilma, ocupa no PMDB um papel político muito mais relevante do que tinha na gestão petista. É tido como um de seus principais formuladores — para os petistas mais exaltados, é só mais um conspirador, papel que atribuem também a Michel Temer, vice-presidente da República. Ignoram que Temer era, até outro dia, coordenador político do governo e que, na prática, foi tirado de lá pelo PT. Sim, ele pediu pra sair porque não havia razões para ficar.
O ex-ministro concede uma entrevista a Daniela Lima na Folha desta segunda. Embora ele não faça nem previsões nem antevisões, é difícil crer que Moreira Franco acredite que Dilma chegue ao fim do mandato.
De saída, Moreira responde à acusação mais frequentemente feita por petistas e dilmistas:
“O PMDB não conspira, não trai. Ao longo de toda a sua trajetória, e são 50 anos, o PMDB sempre teve a política como ferramenta de atuação. É um partido que tem a cultura da conversa, do diálogo e da maioria. O impeachment não pode ser tratado como algo banal, trivial. Ele não é. Mas aqui foi um tema introduzido pelo governo e, mais grave, pela presidente.”
Bem, ele diz a verdade. Cansei de chamar atenção para esse aspecto aqui. Quem primeiro levou o tema do impeachment para dentro do Palácio do Planalto — e, portanto, para o Palácio do Congresso — foi a própria Dilma, que fala obsessivamente sobre o assunto.
E esse foi apenas um de uma sequência impressionante de erros, que data ainda do tempo em que o PT vivia dias um pouco mais felizes. O principal desatino dos petistas foi buscar destruir o PMDB. Moreira Franco diz que os “companheiros” tentaram desidratar o partido e explica por que deu errado:
“Estamos aqui há 50 anos, temos raízes. O PMDB é o partido que derrubou uma ditadura sem matar ninguém, só na base da política. Nunca fomos um partido de donos, e isso, muitas vezes, não é compreendido.(…) Não há ressentimento por termos visto que a estratégia de montagem inicial do segundo mandato [de Dilma] foi diluir a força do PMDB. Sabemos nos proteger.”
Atenção, leitores! Identifiquei a determinação do PT de quebrar o PMDB, como agora aponta o ex-ministro, em abril de 2014. Leiam um trecho de um post que escrevi analisando a reforma política que o PT queria:O mais engraçadinho é que essa proposta de reforma política tem como principal alvo destruir o PMDB, que receberia menos verbas do fundo público de campanha do que o PT, estaria impedido de se financiar com empresas privadas (a não ser por intermédio do caixa dois, com os riscos inerentes a esse tipo de ação) e não contaria com as doações não estimáveis em dinheiro que os sindicatos sempre fazem ao petismo. Aliás, só os idiotas ainda não perceberam que, após quebrar a espinha do DEM e causar sérias avarias no tucanato nestes 12 anos, o alvo natural e necessário do petismo é seu principal aliado: o PMDB. É da natureza desse Leviatã do mundo das sombras.
(…)
PT x PMDB
Volto
Pois é… É claro que esse não é um modo decente de tratar um aliado, não é mesmo? Das palavras de Moreira Franco, depreende-se que a relação PT-PMDB se esgotou. O peemedebista diz evitar torcer pelo impeachment de Dilma, mas fica evidente que não se moveria para impedi-lo. Leiam o que diz:
“O quadro é extremamente grave e não adianta fingir que não é. (…) Não dá mais para achar que vai cobrir o sol com a peneira. E isso não significa que o PMDB queira derrubar [a presidente], não. Não é objetivo, não é meta, não é desiderato. O que se quer é encontrar uma alternativa para o país.”
O pacote, única saída até agora apresentada por Dilma, seria essa alternativa? Parece que Moreira Franco acha que não. Responde:
“Ele é politicamente equivocado. Não se pode ter como força maior da solução o imposto, numa situação como a que estamos vivendo, com uma carga tributária monumental e uma má vontade construída politicamente há décadas. Não é possível que não tenha outra alternativa que equilibre melhor isso. Mas vamos ver como o Congresso vai agir. Tudo ali depende dos parlamentares.”
E o próprio ex-ministro diz não acreditar que o novo imposto seja aprovado no Congresso.
A entrevista de Moreira Franco é dura com o governo, mas é cuidadosa. Procura não antever cenários. Mas a gente tem a obrigação de apontar a sua síntese: é evidente que ele já não acredita na sobrevivência do governo Dilma.
Por Reinaldo Azevedo

Quem tem medo do capitalismo?

CAPA VEJA ESTADO
A VEJA desta semana traz um material especial de 31 páginas que procura responder à pergunta que está no título deste post. Há reportagens, entrevista, pesquisa, artigos — entre eles, um deste escriba, de que publico um trecho abaixo. Vale a pena ler a revista.
Nestes dias em que o Brasil parece disposto a dizer “não” à bandalheira e aos assaltantes dos cofres públicos, é preciso que a gente se pergunte onde está o centro da questão.
Será que há saída virtuosa para o país enquanto o estado tiver o tamanho que tem por aqui? Enquanto um ente pantagruélico dominar todas as esferas da nossa vida — tentando, o que é pior, expandir-se?
Leiam trecho do meu artigo intitulado: “Esquerdas transformaram o Leviatã numa vaca leiteira”.
*
Sabem o que nasce do cruzamento do teórico comunista italiano Antonio Gramsci (1891-1937) com um coronel nacionalista, que aprendeu a esconder a peixeira no fardão, ambos incensados por padres de passeata? O petrolão — o maior escândalo com dinheiro público jamais visto neste “planetinha”, que é como Lula se referiu, certa feita, à Terra, entre o desdém e a intimidade, como é típico de sua humilde e sideral megalomania.
Convenham: o homem tem todo o direito de se achar uma divindade extraterrena, já que não foi fulminado a tempo pela história, pela lógica, pela matemática ou por uma entrevista concedida à revista Playboy, em 1979, em que revelava as várias escatologias que se somaram para criar, como queria Gramsci, o “intelectual orgânico” das esquerdas, incensado pelas universidades brasileiras — os últimos redutos do comunismo do “planetinha”, junto com a Coreia do Norte.
Lula confessou à revista, sob múltiplos silêncios cúmplices, admirar a determinação de Khomeini, Mao Tse-Tung e Che Guevara. Hitler também foi citado, assim: “Mesmo errado, tinha aquilo que eu admiro num homem, o fogo de se propor a fazer alguma coisa e tentar fazer”. O jornalista lhe deu uma segunda chance: “Quer dizer que você admira o Adolfo?” E ele: “Não, não. O que eu admiro é a disposição, a força, a dedicação. É diferente de admirar as ideias dele, a ideologia dele.”. Ficou claro. Admirava “o fogo”.
O sujeito já se anunciava ali como o nosso compromisso com o atraso. Margaret Thatcher, Santo Deus!, havia acabado de chegar ao governo do Reino Unido. No ano seguinte, Ronald Reagan venceria a eleição para a Presidência dos EUA. Mas o Brasil só revogou da Constituição a discriminação ao capital estrangeiro em 1995, com a chegada de FHC à Presidência. E isso aconteceu debaixo do chicote da academia e de colunistas influentes da imprensa, penúltimo reduto do esquerdismo, que vociferavam contra o tal “neoliberalismo”. Os Jecas Tatus de casaca eram muito ciosos do amarelão, ou vermelhão, ideológico.
(…)
Por Reinaldo Azevedo

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